Autor: Rubens (Page 27 of 108)

Precisando de amor

Luis Fernando Veríssimo

Quem não gosta de ser amado?

Ser paparicado?

Receber atenção especial, presentinhos e beijinhos doces?

Quem não gosta de surpresinhas gostosas, beijo na boca e abraços apertados? Quem é que de livre e espontânea vontade prefere a solidão a uma boa companhia?

Ora, todo mundo quer uma boa companhia e de preferência para o todo sempre.

Mas conviver com essa “boa companhia” diariamente por 3, 5, 10, 15, 25 anos é que é o difícil.

No começo dos relacionamentos e até 1 ano de vida amorosa, tudo são mais ou menos flores.

Brigas e discussões, (caia fora dessa fria).

Não adianta você dizer que depois de três meses apenas que “encontrou o amor de sua vida”, porque o amor precisa de convivência para ser devidamente testado.

Nesse mundo maluco e agitado, as pessoas estão se encontrando hoje, se amando amanhã e entrando em crise depois de amanhã.

Uma coisa frenética e louca que tem feito muita gente, que se julgava equilibrada, perder os parafusos e fazer muita besteira.

Paixão, loucura e obsessão, três dos mais perigosos ingredientes que estão crescendo nos relacionamentos de hoje em dia por causa da velocidade das informações e o medo de ficar sozinho.

As pessoas não estão conseguindo conviver sozinhas com seus defeitos, vícios e qualidades, e partem desesperadamente para encontrar alguém, a tal da alma gêmea, e se entregam muitas vezes aos primeiros pares de olhos que piscam para o seu lado.

Vale tudo nessa guerra, chat, carta, agência, festas e até roubar o parceiro de alguém. É uma guerra para não ficar sozinho.

Medo?

Com medo de se encarar no espelho e perceber as próprias eficiências?

Com medo de encarar a vida e suas lutas?

Então a pessoa consegue alguém (ou acha que está nascendo um grande amor), fecha os olhos para a realidade e começa a viver um sonho, trancado em si.

Mesmo, nos quartos e no seu egoísmo, a pessoa transfere toda a sua carência para o (a) parceiro (a), transfere a responsabilidade de ser feliz para uma pessoa que na verdade ela mal conhece.

Então, um belo dia, vem o espanto, a realidade, o caso melado, o “falso amor” acaba, e você que apostou todas as suas fichas nesse romance fica sem chão, sem eira nem beira, e o pior: muitas vezes fica sem vontade de viver.

Pobre povo desse século da pressa!

Precisamos urgentemente voltar o costume “antigo” de “ter tempo”, de dar um tempo para o tempo nos mostrar quem são as pessoas.

Namorar é conhecer, é reconhecer, é a época das pesquisas, do reconhecimento…

Se as pessoas não se derem um tempo, não buscarem se conhecer mais, logo em breve teremos milhares de consultórios lotados de “depressivos” e cemitérios cada vez mais cheios de suicidas “seres cansados de si mesmos…”. Faça um bem para si mesmo e para os outros, quando iniciar um relacionamento procure dar tempo para tudo: passeie muito de mãos dadas, converse mais sobre gostos e preferências, conheça a família e mostre a sua, descubra os hábitos e costumes.

Parece careta demais?

Que nada, isso é a realidade que pode salvar relacionamento e muitas vidas. Pense nisso e se gostar, passe essa mensagem para frente; quem sabe se juntos, não ajudamos alguém carente de amor a encontrar um motivo para ser feliz?

Muita pretensão?

Não, só vontade de te ver feliz.

Precisam-se LOUCOS!!!

Madalena Carvalho

De loucos uns pelos outros! Que em seus surtos de loucura espalhem alegria; com habilidades suficientes para agir como treinadores de um mundo melhor, que olhem a ética, respeito às pessoas e responsabilidade social, não apenas como princípios organizacionais, mas como verdadeiros compromissos com o Universo.

Precisam-se loucos de paixão, não só pelo trabalho, mas principalmente por gente, que vejam em cada ser humano o reflexo de si mesmo, trabalhando para que velhas competências dêem lugar ao brilho no olhar e a comportamentos humanizados.

Precisam-se loucos por novas tendências, mas que caminhem na contramão da história, ouvindo menos o que os gurus tem a dizer sobre mobilidade de capitais, tecnologia ou eficiência gerencial e ouvindo mais seus próprios corações.

Precisam-se loucos poliglotas que não falem inglês, espanhol, francês ou italiano, mas que falem a língua universal do amor; do amor que transforma, modifica e melhora, pois, palavras não transformam empresas e sim atitudes.

Precisam-se, simplesmente, loucos de amor; de amor que transcende toda a hierarquia, que quebra paradigmas; amor que cada ser humano deve despertar e desenvolver dentro de si e pôr a serviço da vida própria e alheia; amor cheio de energia, amor do diálogo e da compreensão, amor partilhado e transcendental.

As Organizações precisam urgentemente de loucos, capazes de implantar novos modelos de gestão, essencialmente focados no SER, sem receios de serem chamados de insanos, que saibam que a felicidade consiste em realizar as grandes verdades e não somente em ouvi-las.

Colaboração de Renato J.G.Filho

Prece

Rabindranath Tagore

Esta é a minha prece a Ti, meu Senhor,
Com raízes em meu coração:
Dá-me força para sofrer minhas alegrias
E tristezas.
Dá-me força para tornar frutífero
Meu amor em Teu serviço.
Dá-me força de não fugir nunca ao pobre
E de não dobrar os joelhos
Ante o poder insolente.
Dá-me força para elevar minha mente
Acima das pequenezas da vida diária.
E dá-me força para sujeita-la
Tua Vontade, com todo amor.
Não me deixes rogar para pôr-me
A salvo dos perigos,
Mas para encara-los sem temor.
Não me deixes implorar para que
Se aliviem minhas penas,
Mas para que meu coração possa vence-las.
Não me deixes aliados
No campo de minhas batalhas,
Mas que possa eu fiar-me
Em minhas próprias forças.
Não me deixes que, ansioso temor,
Deseje salvar-me,
Mas que obtenha a paciência
Para ganhar meu reino.
Conceda-me a graça de que eu
Não seja covarde,
Que não só sinta Tua ajuda
Em minhas vitórias,
Mas que também possa achar
A doce pressão
De Tua mão
Em meus fracassos.

Prazeres da melhor idade

Ruy Castro

A voz em Congonhas anunciou: -“Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.”. Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a “melhor idade” – algo entre os 60 anos e a morte.

Para os que ainda não chegaram a ela, “melhor idade” é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.

Privilégios da “melhor idade” são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da “melhor idade”, estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.

Outra característica da “melhor idade” é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar.

Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: -“Voltando da farra, Ruy?”. Respondi, eufórico: -“Que nada! Estou voltando da farmácia!”.

E esta, de fato, é uma grande vantagem da “melhor idade”: você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.

Pra que Gritar ?

Mahatma Gandhi

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:

“Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?”

“Gritamos porque perdemos a calma”, disse um deles.

“Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?”, questionou novamente o pensador.

“Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça”, retrucou outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar :

“Então não é possível falar-lhe em voz baixa?”

Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.

Então ele esclareceu :

“Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.”

Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas ?

Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê ?

Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.

Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram.

E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta.

Seus corações se entendem.

É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

Por fim, o pensador conclui, dizendo :

“Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta”.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

Por que o sapo não pula?

De acordo com um mito popular (cabe aos biólogos verificar a verdade) se você colocar um sapo numa panela de água fervendo ele pula fora na hora e salva a própria vida.

Mas, se você colocar o sapo numa panela de água fria e for esquentando a água aos pouquinhos, ele não percebe a mudança da temperatura e morre cozido. Mas, por que será que o sapo não pula quando a água começa a ficar quente? Será que ele não sente que a água esquentou?

Vamos tentar analisar imaginando como poderia estar pensando nosso sapo, enquanto sente a água esquentando…

28 Graus – Humm… que água gostosa …

32 Graus – É … a água está boazinha …

36 Graus – Esta água está ficando sem graça, será que está esquentando? Bobagem! Por que a água iria esquentar? Deve ser impressão minha.

38 Graus – Estou ficando com calor … Que droga de água! Ela nunca foi quente, por que está esquentando?

39 Graus – Essa água é uma porcaria! Melhor nadar um pouco em círculos até a água esfriar de novo.

40 Graus – Esta água é muito quente , humm que ruim! Vou voltar lá para aquele lado que estava mais fresco ou será que é melhor esperar um pouco?

42 Graus – Realmente, esta água está péssima, quente de verdade, tenho que falar com o supervisor das águas. Claro, eu podia pular fora, mas onde será que vou cair? Melhor esperar só mais um pouquinho.

43 Graus – Meu Deus! Será que eu tenho que fazer tudo por aqui? Já reclamei e ninguém toma uma atitude?

44 Graus – Mas este supervisor de águas não faz nada? Será que ninguém nota que a água está super quente? Vou esperar mais um pouco …

45 Graus – Se ninguém fizer nada eu vou fazer um escândalo … Aiiiii QUE CALORRR !!!!!!

46 Graus – Eu devia ter pulado fora quando eu tive oportunidade, agora é tarde. Estou sem forças.

50 Graus – “sapo morto”.

Este provável raciocínio do sapo pode ilustrar bem um processo de mudança e como normalmente se reage.

No mundo de hoje em que as mudanças de “temperatura” são tão corriqueiras, quem pensa como o sapo, perde as oportunidades de mudar e crescer.

Se você tem, por exemplo, dificuldade de relacionamento no casamento, ou com colegas ou com a sua chefia, que tal parar de reclamar, de tentar mudar o outro? SALTE para uma atitude mais sadia. Reveja suas próprias atitudes e mude você!

Em que temperatura está sua água? Qual vai ser o primeiro passo que você vai dar?

Uma pequena mudança de atitude, pode transformar situações desgastadas, e também, abre as portas para outras mudanças internas maiores. Mas … não faça como o sapo que ficou dando voltas dentro da mesma panela!

Seja honesto com você mesmo e mude para valer!!! Pense nisso!!!

Porque cães não vivem tanto quanto as pessoas?

Sou veterinário, e fui chamado para examinar um cão da raça Wolfhound Irlandês chamado Belker. Os proprietários do animal, Ron, sua esposa Lisa, e seu garotinho Shane, eram todos muito ligados a Belker e esperavam por um milagre.

Examinei Belker e descobri que ele estava morrendo de câncer. Eu disse à família que não haveria milagres no caso de Belker, e me ofereci para proceder a eutanásia para o velho cão em sua casa. Enquanto fazíamos os arranjos, Ron e Lisa me contaram que estavam pensando se não seria bom deixar que Shane, de quatro anos de idade, observasse o procedimento. Eles achavam que Shane poderia aprender algo da experiência.

No dia seguinte, eu senti o familiar “aperto na garganta” enquanto a família de Belker o rodeava. Shane, o menino, parecia tão calmo, acariciando o velho cão pela última vez, que eu imaginei se ele entendia o que estava se passando. Dentro de poucos minutos, Belker foi-se, pacificamente. O garotinho parecia aceitar a transição de Belker sem dificuldade ou confusão.

Nós nos sentamos juntos um pouco após a morte de Belker, pensando alto sobre o triste fato da vida dos animais serem mais curtas que as dos seres humanos. Shane, que tinha estado escutando silenciosamente, saltou, “Eu sei porque.” Abismados, nós nos voltamos para ele. O que saiu de sua boca me assombrou. Eu nunca ouvira uma explicação mais reconfortante.

Ele disse:

— “As pessoas nascem para que possam aprender a ter uma boa vida, como amar todo mundo todo o tempo e ser bom, certo?”

o garoto de quatro anos continuou…

— Bem, cães já nascem sabendo como fazer isto, portanto não precisam ficar aqui por tanto tempo.

Por pura teimosia

Cláudio Moreno

Porto Alegre, 12 de setembro de 2006, Zero Hora, Edição nº 14994

De todos os povos da antiga Grécia, os espartanos eram os que menos se pareciam conosco. Eles riam pouco, quase não falavam e eram demasiadamente belicosos para nosso gosto, mas estou certo de que nos deixaram algum exemplo aproveitável – como o do teimoso capitão que ficou imortalizado na batalha de Platéia, quando Esparta e Atenas derrotaram os persas comandados por Mardônio. Por vários dias, numa planície da Beócia, gregos e persas vinham se estudando à distância, aguardando o momento propício para atacar. Como a água estava escassa, o alto comando grego decidiu aproveitar a escuridão da noite e recuar seu exército para uma região mais rica em fontes e mananciais. Os atenienses receberam a ordem sem discutir, mas o mesmo não ocorreu entre os espartanos: Amonfareto, chefe de um batalhão, recusou-se a obedecer, dizendo que ele e seus homens estavam ali para enfrentar os bárbaros que ameaçavam sua pátria e não iriam partir sem lutar. Os chefes alegaram que isso já estava decidido, mas ele redarguiu, indignado: “Pois eu voto por ficar!” – e, abaixando-se, pegou uma pedra no chão e foi depô-la aos pés do comandante geral, exatamente como se votava nas assembléias de Esparta.

Como ninguém queria deixá-lo para trás, começaram a discutir, tentando convencê-lo a partir. Enquanto isso, os atenienses, que tinham começado a retirada, detiveram-se alguns quilômetros depois, ao perceber que seus aliados espartanos não se moviam do lugar. Quase ao amanhecer, mandaram um mensageiro até lá; ele voltou perplexo, informando que todos estavam empenhados numa discussão acesa. Quando o dia raiou, os persas viram o campo grego praticamente deserto: avistaram apenas a retaguarda do exército espartano – ao qual se juntara Amonfareto, ainda relutante – que se afastava, aos poucos, por trás de uma colina. Mardônio mandou apenas a cavalaria partir em seu encalço, mas os demais chefes persas, imaginando que os gregos tivessem se acovardado, abandonaram suas posições e avançaram desabaladamente, preparando-se, não para combater, mas para caçar fugitivos apavorados. O resto é história: os espartanos fizeram frente à primeira onda de ataque, os atenienses voltaram para socorrê-los e os exércitos desordenados de Mardônio sofreram uma derrota fatal.

O que o espartano queria? Apenas participar, com uma pedrinha que fosse, da marcha dos acontecimentos. Podia simplesmente acompanhar os outros, mas não quis renunciar ao direito de expressar sua opinião na assembléia – no que estava certo, pois seu voto terminou afetando o desenrolar da batalha. Essa saudável vontade de influir, de ter algum peso, por ínfimo que seja, no curso da História talvez seja a última ilusão que ainda me resta. Sei que muitos, por cansaço ou desencanto, já desistiram, e parecem não mais se importar se o seu candidato mentiu, roubou ou traiu os princípios que jurava defender na eleição passada – mas eu me importo. Por pura teimosia.

Por favor, por favor

Havia uma vez uma pequena expressão chamada “Por Favor” que morava na boca de um garotinho.

Os Por Favor moram na boca de todo mundo, ainda que as pessoas se esqueçam com freqüência que eles estão ali.

Mas para ficarem forte e felizes, todos os Por Favor devem ser tirados das bocas de vez em quando, para tomar um pouco de ar.

Sabe, eles são como peixinhos de aquário, que sobem à tona para respirar.

Por Favor do qual irei falar morava na boca de um menino chamado

Duda.

Só uma vez, em muito tempo, o tal Por Favor teve oportunidade de sair; pois Duda, lamento dizer; era um menininho muito malcriado; que quase nunca se lembrava de dizer “Por Favor“.

— Dê-me um pedaço de pão ! Quero água !

Dê-me aquele livro ! – era deste jeito que ele pedia as coisas.

Seus pais ficavam muito tristes com isso.

Já o coitado do Por Favor ficava na ponta da língua do menino, aguardando uma oportunidade para sair.

Estava cada dia mais fraco.

Duda tinha um irmão mais velho, chamado João.

Tinha quase dez anos; e era tão educado quanto Duda era malcriado.

Por isso, o seu Por Favor recebia muito ar e era forte e bem-disposto.

Um dia, no café da manhã, o Por Favor de Duda sentiu que precisava tomar ar, mesmo que para isso tivesse de fugir.

Foi o que fez – fugiu da boca de Duda, e inspirou longamente.

Depois, arrastou-se pela mesa e pulou para a boca de João.

Por Favor que morava lá ficou muito zangado.

— Saia ! – ele gritou. – Aqui não é o seu lugar ! Esta boca é minha !

— Eu sei – respondeu o Por Favor de Duda.

— Eu moro na boca do irmão do seu senhor.

Mas, meu Deus ! Não sou feliz lá.

Eu nunca sou usado. Nunca recebo ar puro !

Pensei que você me deixaria ficar aqui por um dia ou dois, até eu me sentir mais forte.

— Mas é lógico – disse gentilmente o outro Por Favor.

— Eu compreendo. Fique; quando o meu senhor me utilizar, sairemos juntos.

Ele é bom, e eu tenho certeza de que não se importará em dizer “por favor” duas vezes.

Fique o tempo que desejar.

Ao meio-dia, no almoço, João quis um pouco de manteiga e falou assim :

— Papai, pode me passar a manteiga, por favor – por favor ?

— Pois não -, disse o pai.

— Mas por que tanta polidez ?

João não respondeu.

Voltou-se para a mãe, e disse :

— Mamãe, dê-me um bolinho, por favor – por favor ?

A mãe sorriu.

— Vou lhe dar o bolinho, querido; mas porque você diz “por favor” duas vezes ?

— Eu não sei -, respondeu João.

— As palavras apenas saem.

Tita, por favor – por favor, me dê um pouco d’água !

Nesse momento, João ficou um pouco assustado.

— Tudo bem -, disse o pai.

— Não há problema nenhum.

Mas não se deve dizer tanto “por favor” neste mundo.

Enquanto isso, o pequeno Duda continuara gritando daquele seu jeito mal-educado :

— Quero um ovo !

Quero um pouco de leite !

Me dá uma colher ! – Mas, então, ele parou e escutou o irmão.

Achou que seria engraçado falar como João; por isso, começou :

— Mamãe, dê-me um bolinho, m-m-m ?

Ele estava tentando dizer “por favor” – mas como ?

Ele não sabia que o seu pequenino Por Favor estava sentado na boca de

João.

Tentou outra vez, pedindo a manteiga :

— Manteiga, passe a manteiga, m-m-m ?

E só conseguiu dizer isto.

A coisa continuou o dia inteiro, e todos ficaram imaginando o que havia de errado com os dois meninos.

Quando anoiteceu, ambos estavam muito cansados, e Duda estava tão aborrecido que a mãe os mandou mais cedo para cama.

Mas na manhã seguinte, logo que se sentaram para o café, o Por Favor de Duda correu de volta para casa.

Ele tinha tomado tanto ar puro no dia anterior que estava se sentindo bastante forte e feliz.

E, no momento seguinte, ele foi outra vez arejado quando Duda falou :

— Papai, por favor, corte a minha laranja !

Meu Deus ! A expressão saiu fácil, fácil !

Soava tão bem como quando João a pronunciava e João estava falando somente um “por favor” naquela manhã.

E daquele dia em diante, o pequeno Duda tornou-se tão educado quanto o irmão.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

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