Autor: Rubens (Page 1 of 106)

Um ser: Pai!

Ivan Gelyma

Eu Sou Pai. Por três vezes senti a sensação maravilhosa de receber no mundo pessoinhas recém chegadas do céu.

Que alegria e privilégio ter sob minha guarda almas puras, mentes limpas e corações inocentes!

Ao mesmo tempo uma deliciosa responsabilidade ter que preparar cada um para a vida neste lugar.

Felizmente cada pai tem o exemplo do Pai maior como inspiração.

O exemplo de um amor incondicional, sincero, desinteressado e eterno e é por esse amor que nos ligamos aos filhos, é por esse amor que não importa o que aconteça nunca os abandonamos.

Podemos estar longe, encontrá-los pouco, falarmos por telefone, internet ou cartas, o que importa é que eles estão em nosso coração e mente o tempo todo.

Pai é Um Ser Quase Divino.

Tem a oportunidade de participar do maior milagre criação de Deus, a genética.

É o emissário da semente que forma um novo ser. Infelizmente muitos homens não se dão conta disso e quando isso ocorre, outro milagre acontece, o milagre do coração, porque o pai, no verdadeiro sentido, não é o que gera a semente, planta e a abandona, mas o que cuida para que ela germine, floresça, viva e dê bons frutos.

Para isso é preciso cultivar com todo cuidado e amor.

É ser o jardineiro fiel que, através do exemplo, da dedicação e do companheirismo, formará pessoas de bom caráter para melhorar o lugar em que vivemos.

Domingo é o Dia dos Pais. Mais do que um dia de esperar por presentes, um dia de reflexão e de gratidão pelos presentes que já recebeu.

Minha homenagem a todos os verdadeiros pais, os que cultivam o que receberam de presente um dia do nosso Pai maior, seja através da genética, seja através do coração.

Creio em Deus

Rose Mori

Sinto-me como se estivesse à beira de um precipício:bastaria um leve empurrão e eu me despencaria no nada. Mas a fé que tenho em Deus me faz ficar firme à espera de alguém que me estenda a mão e me livre do perigo.

Sinto-me como a árvore completamente nua em uma manhã fria de outono. Só a fé que tenho em Deus faz com que minhas raízes não apodreçam até a chegada da primavera.

Sinto-me como um pássaro cujo ninho foi destruído por uma criança inconseqüente.

Só a fé que tenho em Deus me dá forças para reconstruir outro ainda mais perfeito.

Sinto-me como o mendigo batendo de porta em porta inutilmente…

Mas a fé que tenho em Deus me faz crer que a próxima se abrirá e me dará abrigo.

Sinto-me como o soldado que perdeu sua primeira batalha.

Mas a fé que tenho em Deus me trará muitas vitórias.

Minha única certeza é de que a morte só existe dentro de cada um.

Minha única alegria é saber que, de alguma forma, sou útil à sociedade. Minha única esperança é a convicção de que existe o dia e a noite, o frio e o calor, o sol e a chuva, o mundo e as pessoas; que tudo isso é VIDA e que, junto a tudo isso, está seu criador: Deus!

Tuas Plantas

Em tua casa devem existir plantas. Elas são benfeitoras que sempre operam em silêncio, ajudando na sustentação da vida. Sejam elas quais forem, são como um laboratório que transforma, dando-nos durante o dia o oxigênio puro, capaz de nos alegrar quando respirado, mantendo o ritmo orgânico e conduzindo a energia divina para o sistema mais apurado do mundo, onde nascem as idéias.

Cuida bem de tuas plantas, pois elas são a manifestação de vida, reconhecendo e devolvendo o amor que recebem da afetuosidade humana.

Ainda mais, se observadas com entendimento, as árvores nos ensinam sem palavras como manter a Economia em casa: não absorvem nada sem necessidade e não são dados ao desperdício; as doenças que sofrem, quando sofrem, são devidas ao gás carbônico que tiram da atmosfera durante o dia, imantado de magnetismo humano inferior, que transformam em bênçãos para o próprio homem.

Que dizes disso?

É o perdão de nossas ofensas, pois as maltratamos e elas nos doam saúde e vida por todos os meios de que o Senhor as dotou.

As plantas não exigem nada de nós; apenas vivem com um pouco de água – que por vezes teríamos de jogar fora – e não descansam um só segundo que seja, em operação constante para o bem da coletividade.

Mesmo depois de mortas elas continuam a beneficiar o humanidade, como remédio e como utensílios. Todos os lares usam dela para o bem-estar dos que ocupam a casa. O reino vegetal é divino, onde as bênçãos do Senhor são sempre renovadas para ajudar a humanidade.

Se o nosso tema é Economia, entremos na escola das plantas com os sentimentos já despertados em nós, copiando-lhes o exemplo, que nada nos faltará.

Sejamos felizes com a felicidade da natureza, comungando com a harmonia da vida, e aprendamos com o Evangelho a respeitar tudo o que nos cerca.

A tua felicidade depende do respeito às leis de Deus; enquanto falhar em teus sentimentos a compreensão, sofrerás as conseqüências de teus desacertos.

Meu filho!… Mesmo ganhando pouco, pelas lutas que tens de enfrentar, se compreenderes as leis do uso, nada vai faltar, O cumprimento do dever faz multiplicar todos os valores que se aproximam de tua casa e de ti.

É necessário que entendas que a Economia cristã não é miserabilidade nem egoísmo; é somente gastar o de que precisas, sem o desperdício tão comum nesta época.

Quem amontoa demais, acaba sufocado nos seus pertences e os esbanjadores estão plantando faltas que o futuro mostrará. O pecúlio no lar, na ordem divina do termo, é alegria para a consciência e paz para o coração.

Um lar não pode deixar de entender esta verdade, porque Deus não é Deus dos extremos; Ele está no centro de tudo, para que nasça o sol da brandura e da fraternidade em todos os corações.

A Economia é um dever, não somente do homem, mas de toda a criação; ela é equilíbrio da vida que se manifesta em muitas dimensões.

Vejamos um sinal dos mais visíveis em uma casa: se comeres demais, o corpo adoecerá; se deixares faltar o necessário, ele igualmente se enfermará. Quando falamos de poupança, falamos no ponto de equilíbrio de todas as funções orgânicas e sociais, políticas e religiosas e de vida espiritual. Podes receber lições dentro de tua casa, através de tuas plantas.

Pelo espírito de Ayrtes, Psicografia João Nunes Maia, do Livro “Tua Casa“.

O poema de Deus

Todo dia existe Deus, num sorriso de criança,
no canto dos passarinhos, num olhar, numa esperança…
Na harmonia das cores, na natureza esquecida,
na fresca aragem da brisa, na própria essência da vida…

No regato cristalino, pequeno servo do mar,
nas ondas lavando as praias, na clara luz do luar…
Na escuridão do infinito, todo ponteado de estrelas,
na amplidão do universo, no simples prazer de vê-las…

Nos segredos desta vida, no germinar da semente,
nos movimentos da Terra, que giram incessantemente…
No orvalho sobre a relva, na passarada que encanta,
no cheiro que vem da terra, e no Sol que se levanta…

Nas flores que desabrocham, perfumando a atmosfera,
nas folhas novas que brotam, anunciando a primavera…
Deus é a Paz, a Esperança, é o alento do aflito,
é o criador do Universo, da luz, do ar, do infinito…

Deus é a Justiça perfeita, que emana do coração
Ao perdoar quem o ofende, Ele é o próprio perdão.
Será que você não viu, o rosto calmo de Deus,
no colorido mais belo, dos olhos dos filhos seus?

Eu sei que não me enganei, em tudo que lhes dizia.
Deus é paz, é o amor, Deus é a eterna poesia…
Deus é constante é perene, é divino de tal sorte,
que sendo a essência da vida, é o descanso da morte…

Não há ida sem volta, e nem há volta sem ida,
A morte não é a morte, é só a porta da vida…

No ciclo da natureza, nesse ir e vir constante,
no broto que se renova, na vida que segue adiante…

Em quem semeia a bondade, em quem ajuda o irmão,
colhendo a felicidade, cumprindo a sua missão…
No suor de quem trabalha, no calo duro da mão,
no homem que planta o trigo, no trigo que faz o pão…

Você pode sentir Deus pulsar em seu coração.

A arte de viver junto

Conta uma lenda dos índios Sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem Azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:

— Nós nos amamos e vamo-nos casar. Mas nos amamos tanto que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

— Há o que possa ser feito, ainda que sejam tarefas muito difíceis. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva!

Os jovens se abraçaram com ternura e logo partiram para cumprir a missão.

No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves. O velho tirou-as dos sacos e constatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.

— E agora, o que faremos? – os jovens perguntaram.

— Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.

Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros.

A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno.

Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se machucar.

Então, o velho disse:

— Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se como também, cedo ou tarde, começarão a machucar um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados. Libere a pessoa que você ama para que ela possa voar com as próprias asas.

Essa é uma verdade no casamento e também nas relações familiares, de amizade e profissionais.

Respeite o direito das pessoas de voar rumo ao sonho delas.

A lição principal é saber que somente livres as pessoas são capazes de amar.

A Carteira Perdida

Eu retornava pra casa, em um dia muito frio quando tropecei em uma carteira. Procurei por algum meio de identificar o dono. Mas a carteira só continha três dólares e uma carta amassada, que parecia ter ficado ali por muitos anos. No envelope, muito sujo, a única coisa legível era o endereço do remetente.

Comecei a ler a carta tentando achar alguma dica. Então eu vi o cabeçalho. A carta tinha sido escrita quase sessenta anos atrás. Tinha sido escrita com uma bonita letra feminina em azul claro sobre um papel de carta com uma flor ao canto esquerdo.

A carta dizia que sua mãe a havia proibido de se encontrar com Michael mas ela escrevia a carta para dizer que sempre o amaria. Assinado: Hannah. Era uma carta bonita, mas não havia nenhum modo, com exceção do nome Michael, de identificar o dono.

Entrei em contato com a cia. telefônica, expliquei o problema ao operador e lhe pedi o número do telefone no endereço que havia no envelope. O operador disse que havia um telefone mas não poderia me dar o número. Por sua própria sugestão, entrou em contato com o número, explicou a situação e fez uma conexão daquele telefone comigo.

Eu perguntei à senhora do outro lado, se ela conhecia alguém chamada Hannah.

Ela ofegou e respondeu:

“Oh! Nós compramos esta casa de uma família que tinha uma filha chamada Hannah. Mas isto foi há 30 anos!”

“E você saberia onde aquela família pode ser localizada agora?” Eu perguntei.

“Do que me lembro, aquela Hannah teve que colocar sua mãe em um asilo alguns anos atrás”, disse a mulher. “Talvez se você entrar em contato eles possam informar”.

Ela me deu o nome do asilo e eu liguei.

Eles me contaram que a velha senhora tinha falecido alguns anos atrás mas eles tinham um número de telefone onde acreditavam que a filha poderia estar vivendo.

Eu lhes agradeci e telefonei. A mulher que respondeu explicou que aquela Hannah estava morando agora em um asilo.

A coisa toda começa a parecer estúpida, pensei comigo mesmo.

Para que estava fazendo aquele movimento todo, só para achar o dono de uma carteira que tinha apenas três dólares e uma carta com quase 60 anos?

Apesar disso, liguei para o asilo no qual era suposto que Hannah estava vivendo e o homem que atendeu me falou:

“Sim, a Hannah está morando conosco.”

Embora já passasse das 10 da noite, eu perguntei se poderia ir para vê-la.

“Bem”, ele disse hesitante, “se você quiser se arriscar, ela poderá estar na sala assistindo a televisão”.

Eu agradeci e corri para o asilo.

A enfermeira noturna e um guarda me cumprimentaram à porta.

Fomos até o terceiro andar. Na sala, a enfermeira me apresentou a Hannah.

Era uma doçura, cabelo prateado com um sorrisso calmo e um brilho no olhar.

Falei-lhe sobre a carteira e mostrei a carta.

Assim que viu o papel de carta com aquela pequena flor à esquerda, ela respirou fundo e disse:

“Esta carta foi o último contato que tive com Michael”.

Ela pausou um momento em pensamento e então disse suavemente:

“Eu o amei muito. Mas na ocasião eu tinha só 16 anos e minha mãe achava que eu era muito jovem. Oh, ele era tão bonito. Ele se parecia com Sean Connery, o ator”.

“Sim, – ela continuou – Michael Goldstein era uma pessoa maravilhosa.”

Se você o achar, fale que eu penso freqüentemente nele.

“E” – ela hesitou por um momento, e quase mordendo o lábio – fale que eu ainda o amo. Você sabe – ela disse sorrindo com lágrimas que começaram a rolar em seus olhos – eu nunca me casei. Eu jamais encontrei alguém que correspondesse ao Michael…”

Eu agradeci a Hannah e disse adeus. Quando passava pela porta da saída, o guarda perguntou:

“A velha senhora pôde ajudá-lo?”

“Pelo menos agora eu tenho um sobrenome. Mas eu acho que vou deixar isto para depois. Eu passei quase o dia inteiro tentando achar o dono desta carteira”.

Quando o guarda viu a carteira, ele disse:

“Ei, espere um minuto! Isto é a carteira do Sr. Goldstein. Eu a reconheceria em qualquer lugar. Ele está sempre perdendo a carteira. Eu devo tê-la achado pelos corredores ao menos três vezes”.

“Quem é Sr. Goldstein? – Eu perguntei com minha mão começando a tremer.

“Ele é um dos idosos do 8º andar. Essa é a carteira de Mike Goldstein sem dúvida. Ele deve ter perdido em um de seus passeios”.

Agradeci o guarda e corri ao escritório da enfermeira.

Falei sobre o que o guarda tinha dito. Nós voltamos para o elevador e subimos. No oitavo andar, a enfermeira disse:

“Acho que ele ainda está acordado. Ele gosta de ler à noite. Ele é um homem bem velho”.

Fomos até o único quarto que ainda tinha luz e havia um homem lendo um livro.

A enfermeira foi até ele e perguntou se ele tinha perdido a carteira.

Sr. Goldstein olhou com surpresa, pondo a mão no bolso de trás e disse:

“Oh, está perdida!”

“Este amável cavalheiro achou uma carteira e nós queremos saber se é sua.”

Entreguei a carteira ao Sr. Goldstein, ele sorriu com alívio e disse:

“Sim, é minha! Devo ter derrubado hoje à tarde. Eu quero lhe dar uma recompensa”.

“Não, obrigado”, eu disse. “Mas eu tenho que lhe contar algo.

Eu li a carta na esperança de descobrir o dono da carteira”.

O sorriso em seu rosto desapareceu de repente.

“Você leu a carta?”

“Não só li, como eu acho que sei onde a Hannah está”.

Ele ficou pálido de repente.

“Hannah? Você sabe onde ela está? Como ela está? É ainda tão bonita quanto era? Por favor, por favor me fale”. – ele implorou.

“Ela está bem… E bonita da mesma maneira como quando você a conheceu”, eu disse suavemente.

O homem sorriu e perguntou:

“Você pode me falar onde ela está? Quero chamá-la amanhã “.

Ele agarrou minha mão e disse:

“Eu estava tão apaixonado por aquela menina que quando aquela carta chegou, minha vida literalmente terminou. Eu nunca me casei. Eu sempre a amei.”

“Sr. Goldstein – eu disse – venha comigo”.

Fomos de elevador até o terceiro andar.

Atravessamos o corredor até a sala onde Hannah estava assistindo televisão.

A enfermeira caminhou até ela:

“Hannah, – ela disse suavemente, enquanto apontava para Michael que estava esperando comigo na entrada – Você conhece este homem?”

Ela ajeitou os óculos, olhou um momento, mas não disse uma palavra.

Michael disse suavemente, quase em um sussurro:

“Hannah, é o Michael. Lembra-se de mim?”

“Michael! Eu não acredito nisto! Michael! É você! Meu Michael!”

Ele caminhou lentamente até ela e se abraçaram.

A enfermeira e eu partimos com lágrimas rolando em nossas faces.

“Veja” – eu disse – veja como o bom Deus trabalha! Se tem que ser, será!”.

Aproximadamente três semanas depois eu recebi uma chamada do asilo em meu escritório.

“Você pode vir no domingo para assistir a um casamento? O Michael e Hannah vão se casar”!

Foi um casamento bonito, com todas as pessoas do asilo devidamente vestidos para a celebração. Hannah usou um vestido bege claro e bonito. Michael usou um terno azul escuro.

O hospital lhes deu o próprio quarto, e se você sempre quis ver uma noiva com 76 anos e um noivo com 79 anos agindo como dois adolescentes, você tinha que ver este par.

Um final perfeito para um caso de amor que tinha durado quase 60 anos…

O limite do desejo

Um imperador, que era conhecido pela sua arrogância e pelo fato de só fazer o bem quando isso trazia bons dividendos políticos, resolveu dar uma volta pela capital do reino.

— Vamos mostrar ao povo que eu sou um homem bom – disse aos nobres que o acompanhavam.

Caminharam por algumas ruas da cidade, seguidos pela multidão que sempre se juntava ao redor da comitiva, até que encontraram um mendigo.

— O que você precisa, pobre homem? – perguntou o imperador.

O mendigo riu:

— Vossa Alteza me faz esta pergunta, como se pudesse satisfazer qualquer coisa!

Escutou-se um murmúrio na multidão; aquele homem, vestido de andrajos e com uma bolsa vazia ao lado, duvidava da capacidade de alguém tão poderoso!

Irritado, o imperador repetiu:

— O que você quer? Claro que eu posso satisfazer qualquer desejo seu, já que não deve ter sido um homem muito ambicioso nesta vida!

— Pense duas vezes antes de me perguntar isso – insistiu o mendigo.

O soberano, agora mais irritado que nunca, fez a pergunta mais uma vez, e o pobre homem respondeu:

— Na verdade, o meu desejo é bem simples. Está vendo esta bolsa vazia que carrego comigo? Pois gostaria que colocasse alguma coisa aí dentro.

— Claro! – disse o soberano. E virando para seu conselheiro, pediu que enchesse a pequena bolsa de moedas.

Escutou-se de novo o murmúrio da multidão, louvando à Deus por ter colocado um homem tão generoso no comando do país.

O conselheiro pegou o dinheiro que tinha consigo, e colocou na pequena bolsa, mas ela parecia continuar vazia. Supreso, o imperador pediu ajuda aos nobres que acompanhavam, mas – mesmo depois de toda a comitiva ter esvaziado seus bolsos e sacolas – a bolsa não dava sinais de encher.

A história correu pelas praças e ruas das redondezas, e a multidão aumentou cada vez mais. Agora era o prestígio do imperador que estava em jogo, e ele se virou para o ministro:

— Se precisar colocar todo o meu reino aí dentro, farei isso, mas não posso ser humilhado por um mendigo.

O ministro foi até o palácio, trouxe diamantes, pérolas, e esmeraldas, mas a bolsa não enchia. Tudo que era ali colocado parecia desaparecer num passe de mágica.

A manhã se fez tarde, e a noite começou a cair. Metade do tesouro do governo já havia sido colocado na bolsa do mendigo, e nada!

A essa altura, praticamente toda a cidade acompanhava a cena, mas não se escutava um só ruído; todos pareciam hipnotizados pelo que estava acontecendo.

Finalmente, quando a primeira estrela apareceu, o soberano ajoelhou-se diante do mendigo, e admitiu sua derrota:

— Vim aqui para tentar convencer os outros que sou um homem generoso, e terminei sendo convencido que não tenho nenhum poder. Peço perdão pela minha arrogância, mas também peço que me abençoes, porque és um homem santo, capaz de milagres.

O mendigo colocou as mãos na cabeça do homem ajoelhado e o abençoou.

— Basta um grão de amor para que o coração fique repleto; entretanto, nem toda riqueza do mundo pode encher de alegria um coração com fome de amor.

O imperador levantou-se, e antes de retornar ao palácio, perguntou ao mendigo:

— É esse o segredo da tua bolsa?

— Não. Minha bolsa é feita do desejo humano: por mais que tenha, sempre quer ter mais, e por isso permanece vazia.

O Relógio

O colégio onde eu estudava quando menina, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral.

Eu adorava aquilo, porém nunca fora convidada para participar, o que me trazia uma secreta mágoa.

Quando fiz onze anos avisaram-me que, finalmente iria ter um papel para representar.

Fiquei felicíssima, mas esse estado de espírito durou pouco.

Escolheram uma colega minha para o desempenho principal.

A mim coube uma ponta de pouca importância.

Minha decepção foi imensa.

Voltei para casa em prantos.

Mamãe quis saber o que se passava e ouviu toda a minha história entre lágrimas e soluços.

Sem nada dizer ela foi buscar o bonito relógio de bolso de papai e colocou-o em minhas mãos, dizendo:

— Que é isso que você está vendo?

— Um relógio de ouro com mostrador e ponteiros.

Em seguida mamãe abriu a parte traseira do relógio e repetiu a pergunta:

— O que você está vendo?

— Ora mamãe, aí dentro parece haver centenas de rodinhas e parafusos.

Mamãe me surpreendia, pois aquilo nada tinha a ver com o motivo do meu aborrecimento.

Entretanto, calmamente ela prosseguiu:

— Este relógio tão necessário ao seu pai e tão bonito seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das rodinhas ou o menor dos parafusos.

Nós nos entrefitamos e no seu olhar calmo e amoroso, eu compreendi que sem que ela precisasse dizer mais nada.

Essa pequana lição tem me ajudado muito a ser mais feliz na vida, aprendi com a máquina daquele relógio quão essenciais são mesmo os deveres mais ingratos e difíceis, que nos cabem a todos.

Não importa que sejamos o mais ínfimo parafuso ou a mais ignorada rodinha, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.

E percebi também que se o esforço tiver êxito, o que menos importa são os aplausos exteriores.

O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido.

O poder da educação

Conta-se que o legislador Licurgo foi convidado a proferir uma palestra a respeito de educação. Aceitou o convite mas pediu, no entanto, o prazo de seis meses para se preparar. O fato causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema, e por isso o haviam convidado.

Transcorridos os seis meses, compareceu perante a assembléia em expectativa. Postou-se à tribuna e logo em seguida entraram dois criados, cada qual portando duas gaiolas. Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães.

A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e a pequena lebre, branca, saiu a correr, espantada.

Logo em seguida o outro criado abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu em desabalada correria ao encalço da lebre. Alcançou-a com destreza, trucidando-a rapidamente.

A cena foi grotesca e chocou a todos. Uma grande admiração tomou conta da assembléia os corações pareciam saltar do peito. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. Mesmo assim, ele nada falou.

Tornou a repetir o sinal convencionado e a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão.

O povo mal continha a respiração. Alguns, mais sensíveis, levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo palco. No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de abocanhá-la, bateu-lhe com a pata e ela caiu. Logo a lebre ergueu-se e se pôs a brincar com o cão. Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar tranqüila convivência, saltitando de um lado a outro do palco.

Então, e somente então, Licurgo falou:

Senhores, acabais de assistir a uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim, igualmente, os cães. A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, a educação.

E prosseguiu vivamente o seu discurso, dizendo das excelências do processo educativo.

A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo.

Eduquemos nossos filhos, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos aos seus corações, ensinemos a eles a despojarem-se das suas imperfeições.

Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores.

Licurgo foi um legislador grego que viveu no século IV antes de Cristo.

O verbo educar é originário do latim “educare” (ou “educcere”), e quer dizer “extrair”, “sacar fora”. Percebe-se, portanto, que a educação não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim de se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que floresçam.

Suportar o inevitável

“Eu poderia suportar todos os males que a vida me impusesse, menos uma coisa: a cegueira. Isso jamais eu poderia aguentar”.

Estas foram palavras do famoso novelista e dramaturgo americano, Booth Tarkington, vencedor do prêmio Pulitzer.

Cada um de nós poderia então questionar: dos males, das provas da vida, qual seria aquela ou aquelas que não suportaríamos?

Todos temos limites e medos é certo. Então, até quando, ou, até o quê podemos, cada um de nós, suportar?

O Sr Tarkington viveu uma experiência muito especial neste sentido.

Um dia, quando já estava com seus sessenta e poucos anos, olhou o tapete que cobria o assoalho. As cores estavam confusas, opacas. Não podia distinguir o desenho.

Foi a um especialista. Soube então da trágica verdade: estava perdendo a vista. Um olho já estava quase inutilizado; o outro seguia o mesmo caminho. Acontecera-lhe o que ele mais temia.

E como foi que Tarkington reagiu diante do pior dos desastres? Será que pensou: Aí está! Eis o fim de minha vida…

Não, absolutamente. Para sua própria surpresa, sentiu-se quase alegre. Lançou mão até mesmo do seu senso de humor.

Pequenas manchas flutuantes perturbavam-lhe a visão, passavam-lhe pelos olhos e impediam-no de ver.

Contudo, quando a maior delas passava pelos olhos, costumava dizer: “Olá! Lá está o vovô de novo! Para onde será que vai nesta bela manhã? “

De que modo poderia o destino dominar tal Espírito? A resposta é: não poderia de maneira nenhuma. Quando a cegueira total o envolveu, ele comentou: “Verifiquei que podia suportar a perda de meus olhos exatamente como o homem pode suportar qualquer outra coisa. Se perdesse todos os meus cinco sentidos, sei que poderia viver dentro da minha mente, pois é através do cérebro que vemos, e é nele que também vivemos, quer saibamos disso ou não.”

Na esperança de recuperar a vista, submeteu-se, nos anos seguintes, a mais de doze operações, delicadas, incômodas. Revoltou-se, por acaso, contra isso? Não! Sabia que isso precisava ser feito. Compreendia que não lhe era possível escapar de tal contingência. Aceitava tudo com extrema dignidade.

Recusou o quarto particular que lhe reservaram no hospital e foi para uma enfermaria comum, onde pudesse estar em companhia de outras pessoas que também sofriam reveses.

Quando teve que se submeter às repetidas operações, procurava se lembrar do quanto era afortunado: “É maravilhoso! É maravilhoso ver-se como a ciência pode agora realizar operações numa coisa tão delicada quanto os olhos humanos!”

Muitos outros, passando por tudo que ele passou, teriam se transformado em trapos humanos e desistido de tudo, porém, Tarkington mostrou que é possível, que é sempre possível suportar o inevitável.

Suportar o inevitável significa ter resignação, esta aceitação do coração ao que a vida nos impõe pelas leis naturais do Universo.

Sabendo que Deus é soberanamente justo e bom, e que Suas Leis são perfeitas, não há o que temer.

Os fardos que carregamos sempre são proporcionais à nossa capacidade de suportá-los. Os fardos sempre nos fazem mais fortes, mais esclarecidos e maduros, quando suportados com resignação e coragem.

Redação do Momento Espírita com base no cap. 9 do livro Como evitar preocupações e começar a viver, de Dale Carneggie. ed. Companhia Editora Nacional.

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