Autor: Rubens (Page 17 of 108)

Sossega, coração! Não desesperes!

Fernando Pessoa

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Só se você permitir (Lenda Japonesa)

Era uma vez um grande samurai que vivia perto de Tóquio.

Mesmo idoso, se dedicava a ensinar a arte zen aos jovens.

Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro, conhecido por sua total falta de escrúpulo, apareceu por ali.

Queria derrotar o samurai e aumentar sua fama.

O velho aceitou o desafio e o jovem começou a insultá-lo.

Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou insultos, ofendeu seus ancestrais.

Durante horas, fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.

No final do dia, sentindo-se já exausto e humilhado, o guerreiro retirou-se.

E os alunos, surpresos, perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade.

— Se alguém chega até você com um presente e você não o aceita, a quem pertence o presente ?

— A quem tentou entregá-lo, respondeu um dos discípulos.

— O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos.

Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.

A sua paz interior depende exclusivamente de você.

As pessoas não podem lhe tirar a calma.

Só se você permitir…

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

Sorriso

Vinicius Fortin

Caro distribuidor de sorrisos falsos, tenho um péssimo costume de escrever muito, mas desta vez eu quero ser o mais breve possível. Então, pare e pense: por que são necessários os tão usados sorrisos falsos? Por que mostrar às pessoas algo tão valioso quando não se é sincero?

Relacionamentos interpessoais são muito importantes na nossa vida. Família, amigos, colegas de trabalho, etc. São pessoas que compartilham da sua companhia no dia-a-dia, que contribuem para a sua formação e que são ajudadas pela sua presença. Mas para manter um bom relacionamento alguns agrados são necessários. E é aí que está o problema.

Todo mundo acha que o mais importante para um bom relacionamento é presente, agrado, companhia, etc. Agora me diz, quem gosta de estar ao lado de alguém mal humorado? Melhor, tente dar um presente para a sua namorada com a cara toda amassada de ressaca. Leve um chocolate para a sua mãe, jogue na mesa da sala enquanto ela assiste à novela e vá para o seu quarto.

Acreditando que vocês não tenham achado nenhuma destas situações muito agradáveis vou em frente e digo que estes itens podem ser importantes, mas não são os essenciais. Não são completamente eficazes em um relacionamento.

Agora, meu amigo, acorde de manhã, sorria e deseje a todos um ótimo dia. Chegue em casa, abrace sua mãe depois olhe nos olhos dela e, com um largo sorriso, diga que você a ama. Acorde sua namorada com um beijo suave e espere-a abrir os olhos com um belo sorriso.

O sorriso é algo tão especial que pode ser percebido há milhas de distância. Quer provar isso? Então experimente mandar um torpedo agora para qualquer um com a mensagem: .Vc é mto importante p/ mim. Obrigado por estar ao meu lado..

Ligue no celular da sua namorada às 3h da manhã e diga .Eu levantei para pegar uma bolacha na geladeira e resolvi ligar só para dizer que eu te amo..

Meus caros seres humanos, isso é relacionamento.

A gente gasta muito tempo preocupado com todos os nossos problemas e muitas vezes não percebemos o quanto nos faz falta exibir a nossa arcada dentária (mesmo que seja incompleta). E quase nunca percebemos o quanto isso faz falta para todas as pessoas que estão ao nosso lado.

Criem esse costume. Mostrem seus dentes e digam às pessoas o que sentem por elas. Não se apegue ao conceito de que estar junto, ou trazer um presente é o suficiente. Seja sincero consigo mesmo e da próxima vez que pensar que o seu sorriso é algo sem valor e que pode ser exibido para qualquer um, lembre-se de mim.

Lembre-se de que na vida bombons serão comidos, flores murcharão, roupas ficaram velhas, mas aquele dia que você acordou com aquela pessoa especial sentada na beira da cama esperando para te dar um beijo, meu amigo, esse dia você nunca mais esquecerá.

Seja feliz. Seja sincero. Ame. Mostre e SORRIA.

Só porque você dança bem

Só porque você dança bem, não significa que vai ser convidado para o baile

Você é competente naquilo que faz, mas por alguma razão outras pessoas são escolhidas em seu lugar?

Você conhece seu produto melhor do que qualquer outro, mas vendedores aparentemente inexperientes vendem muito mais?

Sua empresa ou departamento está implantando novas estratégias e táticas administrativas, mas uma concorrente, aparentemente menos organizada e frágil, está tomando o mercado e sendo muito mais bem sucedida?

Talvez o seu problema seja o de estar confundindo ficção com realidade. Na ficção que nos contaram, o importante eram as coisas, estratégias, sistemas, produtos, planilhas, crenças.

Na realidade, o importante são as pessoas. Não existe nada sem pessoas.

Não existem vendas – portanto, não existe economia de mercado – não existem casamentos, não existem famílias e, para ser franco, não existe sequer civilização.

Tudo o que você faz, começa e termina em pessoas.

Se você tivesse que passar o resto da sua vida com todas as riquezas do universo… sozinho em uma ilha deserta, de que valeria qualquer sucesso?

Você – e eu – precisamos compartilhar o tempo, a vida e as experiências com outras pessoas. Empresas que se esquecem deste fator, se concentrando somente no balanço do trimestre, acabam soterradas por guerrilheiros dos negócios ou sabotadas por inúmeros funcionários descontentes que, na melhor das hipóteses, entram em “operação padrão”.

Você pode ser genial, mas as pessoas gostam de trabalhar com você? (Eu não perguntei se elas gostam de passear com você.

Isso é fácil. Perguntei se elas gostam de trabalhar com você). Seus chefes, subordinados e colegas confiam em você como profissional e gostam de trabalhar com você?

Se apenas uma dessas perguntas tiver como resposta “não”, você ficará abaixo de onde pode chegar.

Se não gostam de estar com você, se notam que você as vê somente como um instrumento para gerar vendas, por exemplo), o primeiro vendedor “amigo”que aparecer vai tomar o seu cliente. Para sempre.

Seus funcionários vêem você como um líder ou como um analista, que corta pessoal sem se preocupar com o “moral” das tropas. Alguém em quem não podem confiar?

Agora, deixe-me esclarecer um ponto. Isso não significa que você deva ser “amigo” de todos, ou um bajulador.

Seja você mesmo. Sempre. Dá menos trabalho! Faça o que tem que ser feito. Mas, se você não é parte da solução na empresa, na família, no romance, no clube ou na sociedade, então você é parte do problema. E se este é seu caso, cuidado: problemas não são convidados para subir na empresa.

Problemas não são bem vindos no casamento. Problemas não são eleitos. Problemas são evitados, mesmo que inconscientemente.

Seja a solução, concentrando-se nas pessoas.

O que elas realmente buscam? Do que precisam? O que querem?

Você deve buscar a competência técnica, claro. Mas não precisa ser perfeito como um robô, porque somente pessoas avançam. Robôs a gente constrói, ou desliga. E o único modo de pessoas avançarem com lastro duradouro é quando são apoiadas por outras pessoas.

Você é apoiado por outras pessoas? Em outras palavras, depois da sua competência técnica, os seus relacionamentos são a fonte mais importante para o seu futuro, em todos os níveis.

Seja na carreira, na família ou na sociedade.

Por isso, lembre-se do que disse Michael Leboeuf:

Só porque você dança bem, não significa que vai ser convidado para o baile.

E o baile da vida é bem curto. Curto demais. Não espere a última música para entender isso.

Tudo começa e termina, nas pessoas.

Só por hoje

Aldo Novak

Você sabe que já passou por momentos muito dolorosos em sua vida, momentos que podem abalar suas crenças, sua lógica, sua fé. Ainda assim você continuou. Apesar das dores, apesar do peso que recaiu sobre seus ombros, apesar dos desapontamentos, você deu um passo depois do outro. E está aqui agora.

Pode não ser o lugar perfeito, mas é a direção que conta. Se você estiver na direção certa, simplesmente continue em frente,por maiores que sejam as tempestades, por mais pesado que seja seu fardo, o sol voltará a brilhar e o oásis surgirá, para descansar. Não desista.

Se estiver no caminho errado, simplesmente mude a direção do seu próximo passo e já o terá corrigido. Sim, apenas um passo em outra direção e você terá ajustado seu curso de vida. Ainda assim, mesmo indo para a direção certa, haverá momentos dolorosos. Neste caso, não importa o que ocorra, lembre-se de se concentrar somente no presente.

Só por hoje.

Soluções não costumam aparecer enquanto o desespero estiver com você. Por isso, esqueça o sentimento de culpa pelos erros passados e nem sequer pense no que o futuro lhe reserva, porque quando o desespero nos cerca, qualquer tentativa de análise do futuro estará contaminada pelo pessimismo, pela cegueira e pela depressão. E, como você será levado a acreditar em um futuro distorcido, falso e ainda mais “pesado” para carregar, é melhor olhar somente para o aqui e o agora. Não seja enganado pelo desespero.

Só por hoje.

Feche as cortinas do amanhã. Feche as cortinas do ontem. Viva um dia de cada vez.

Só por hoje.

Você e eu podemos agüentar qualquer sofrimento, desde que seja só por hoje. Supere qualquer ressentimento, só por hoje. Respire fundo e faça algo positivo e diferente, só por hoje.

Viva. Viva de verdade. Só por hoje.

Preconceito

A mais brilhante definição de preconceito de que já soube veio-me de Voltaire, em seu Dicionário Filosófico: “preconceito é uma opinião sem julgamento”, ou seja, adquirimos uma opinião qualquer, não verificamos sua razão de ser e passamos a acreditar naquilo, simplesmente.

Voltaire disse isto por volta de 1760. Passados mais uns cento e oitenta anos, em meados do século vinte Einstein lastimou que “hoje, infelizmente, é mais fácil partir um átomo ao meio do que quebrar um preconceito”. Pois, somando-se as coisas, conclui-se que preconceito deve realmente ser algo indestrutível, ou perto disso.

Tão indestrutível, que o preconceito dos nazistas contra os judeus ainda perdura no coração de muita gente, mesmo após tanta propaganda contrária. E dos judeus contra os árabes, e dos árabes contra os judeus, e dos brancos contra os negros, e dos negros contra os brancos, e dos que são contra os mulatos, contra os cafusos, os mamelucos, os letrados, os iletrados, as mulheres, os homens, os advogados, os políticos, os publicitários, os jornalistas, os nordestinos, os açougueiros, os torneiros-mecânicos (sim, porque, sem dúvida, haverá alguém cultivando preconceitos contra açougueiros e torneiros-mecânicos), os velhos, as crianças, os gays e o escambau. Existe preconceito até contra o escambau.

Assim como não tem fronteiras e nem escolhe raça, faixa etária ou sexo, o preconceito também não escolhe porta-vozes ou causas. Ele existe dentro de todos nós, tem diferentes intensidades. Não tem função nem propósito. Apenas existe, desde que o ambiente seja favorável ao desenvolvimento de um raciocínio qualquer, um sofisma destes capazes de fazer-nos acreditar no ilógico. Algo como a prestidigitação. Nada além de opiniões sem julgamento.

Nunca vi alguma pesquisa sobre onde o preconceito ocorre com maior ou menor incidência. Talvez os americanos, que adoram pesquisar de tudo, já a tenham feito, mas nunca ouvi falar dela. Mas também não é difícil concluir que o preconceito não é privilégio de um ou outro segmento da população. Nada disso. Ele existe em todo lugar, em todo tempo, em todo tudo! Tem em casa, tem no futebol, tem nas estações de trem.

E tem, claro, nas empresas; porque existem pessoas nas empresas. E pessoas são a única condição ambiental indispensável para a reprodução do preconceito. Nos últimos anos surgiu, por exemplo, uma espécie de preconceito no meio empresarial, mais especificamente na administração de recursos humanos, que é a rejeição a priori do profissional com mais de quarenta anos de idade.

O quarentão, candidato a uma vaga qualquer, pode e deve desistir de antemão à sua pretensão de colocação profissional. Ora, exatamente porque ele já tem mais de quarenta anos. E o que isto significa? Nem Deus sabe. E, claro, muito menos um certo tipo de recrutador: papagaio de repetição, este recrutador só sabe que o candidato tem mais de quarenta anos e, por isso mesmo, não pode ser contratado.

É a política da empresa, ora! Mas se perguntarmos a razão de ser desta política da empresa (ora!), ele, autômato burocratizado não saberá responder. Basta que ele saiba, e isto o satisfaz plenamente, que a política da empresa é esta. E ponto. Para ele, políticas empresariais são, por definição, indiscutíveis (mas que cara teimoso você é! Pare de querer discutir a política da empresa!).

Gente assim cabe com exatidão de mecanismo de relógio suíço na definição TÍTERE PROCESSIONÁRIO, criada por Laurence Peter, a maior autoridade mundial em estudos sobre a incompetência.

Títere é sinônimo de fantoche, marionete; processionário é aquele que segue, apenas segue. Há, para exemplificar, uma espécie de larva que segue a da frente. Colocadas em círculos, estas larvas processionárias ficam dando infinitas voltas umas atrás das outras até morrerem de fome, mesmo quando, como se fez em várias experiências de laboratório, havia alimento em abundância ao alcance de todas.

O títere processionário, portanto, é um verme que apenas segue e, assim, se manipula com facilidade. Como sabemos, há muitos deles nas empresas e demais organizações humanas. Tem da portaria até a presidência. Porém, quando na administração de recursos humanos, passam por uma metamorfose peculiar e de origem desconhecida para assumirem a forma mais letal que se pode verificar na espécie dos títeres processionários: a forma que age sob estímulo exclusivo do preconceito, aquela opinião sem julgamento à qual já nos referimos, com poder de determinar a vida de pessoas.

Visto que o títere processionário não pensa, ele é evidentemente incapaz de julgar. E dá-se a um sujeito destes o tal “poder de vida e de morte” sobre profissionais que cometeram o terrível engano de não contrariar a natureza das coisas e, imprevidentes, deixaram o tempo passar, atingindo os quarenta anos.

Pela lógica titeriana-processional, nada mais justo que punir estes ineptos que não combateram com vigor o passar dos anos. E ousaram envelhecer. Já que o profissional não foi capaz de fixar-se na idade dos trinta anos, também não será capaz de fixar-se na empresa ou num projeto qualquer. Corte-se-lhe, pois, a cabeça.

Mas os sujeitos que mudaram o mundo o fizeram, em sua esmagadora maioria, após completarem bem mais do que quarenta anos. Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Gutemberg, Sidarta Gautama (vulgo Buda), Churchill, De Gaule, Henry Ford, Mahatma Gandhi, Roger Mila (que, até uns cinqüenta anos, jogou um bolão pela seleção de Camarões)…

Dê uma olhadinha em qualquer livro de história e confira. Só Jesus Cristo não conseguiu; certamente porque não lhe deram chance de mostrar do que ele seria capaz após os quarenta (se aos trinta e três já era um terror, imagina aos quarenta!). Talvez os romanos fossem os precursores desta atual tendência da administração titerianoprocessional de recursos humanos: “Está a caminho dos quarenta?!? Crucifica o cara!”

Falei com um executivo europeu e ele disse que, lá no velho continente, idade não é fator de importância crucial. O que conta é o mix de vontade-competência-experiência.

Então, estamos, no Brasil, criando know-how para exportação. Preconceito globalizado, mas made in Brazil! Nossos preconceitos em relação à idade nos fazem esquecer de sujeitos como Lee Iacocca, Antonio Ermírio de Morais e mais um punhado de sessentões, setentões e oitentões que, ainda hoje, estão à frente de seus barcos, são produtivos, arrojados, geram empregos e fazem suas empresas dar muito lucro.

Por outro lado, sobre os idiotas que recusam um profissional por questão etária, estes não poderão jamais ler algum texto primoroso que Manuel Bandeira ou Cora Coralina, ou Goethe ou Ernest Hemingway, tenham escrito, idosos, no final de suas vidas: por coerência, devem recusar tudo o que estes e outros tantos velhos desprezíveis tenham produzido. A propósito, quando escreveu seu Dicionário Filosófico, Voltaire já tinha uns oitenta anos.

Também convenha que alguém conte a estes sujeitos (por pura sordidez e maldade) que logo, logo eles mesmo chegarão aos… quarenta!

Esta gente que cultiva opiniões sem julgamento o faz porque, evidentemente, não é capaz de julgar coisa alguma. Assim sendo, também não serão capazes de tomar, com equidade, alguma decisão que exija mais do que alguns neurônios e raciocínios primários. Devemos desprezá-los, embora com compaixão. E devemos, por pura lógica, desprezar também, e principalmente, quem lhes confiou o cargo que exercem.

Ser avó …

Rachel de Queiroz

Quarenta anos, quarenta e cinco. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações – todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto – mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia danada. Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências.

A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”.

E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.

Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto…

No entanto, nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe.

Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do neto. Não importa que ela hipocritamente, ensine a criança a lhe dar beijos a lhe chamar de “vovozinha” e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você.

São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais.

A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe banho, veste-o, embala-o de noite.

Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar. Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”.

Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.

Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina.

Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser – e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado!

Fazer má-criação aos gritos e em vez de apanhar, ir para os braços do avó, e lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna.

Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol.

E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós com seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto! E quando você vai embalar o neto e ele, tonto de sono abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz “Vó”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade.

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menino – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beicinho pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

Uma manifestação interessante

Do Livro: Fatos Espíritas – William Crookes

O extraordinário médium D. D. Home narra o seguinte caso, na sua obra Life and Mission:

“Quando eu residia em Springfield, tive uma grave moléstia que me reteve ao leito durante algum tempo. Um dia, na ocasião em que o médico se retirava, um Espírito me deu esta comunicação: “Tomai o trem da tarde para Hartford, pois se trata de um negócio importante para o progresso da causa; não repliqueis, fazei simplesmente o que vos dizemos”.

Dei conhecimento à minha família dessa extraordinária ordem e, apesar do meu estado de fraqueza, tomei o trem, ignorando completamente o que eu ia fazer e o objetivo de tal viagem.

Ao chegar a Hartford, veio ao meu encontro um estrangeiro, que me disse: “Só tive ocasião de vos ver uma única vez, mas creio que falo com o Sr. Home.” Respondi-lhe afirmativamente, acrescentando que eu chegava a Hartford sem nenhuma idéia do que se queria da minha pessoa.

“É engraçado! – replicou o meu interlocutor -, eu vinha exatamente tomar o trem para vos ir procurar em Springfield.” Explicou-me ele, então, que uma família influente, bem conhecida, me pedia para eu fazer-lhe uma visita e prestar o meu concurso às investigações que ela desejava fazer sobre o Espiritismo.

O fim da viagem começava, pois, a desenhar-se, mas o mistério permanecia ainda velado.

Agradável trajeto em carruagem conduziu-nos logo ao nosso destino. O dono da casa, o Sr. Ward Cheney, que veio receber-me à porta, saudou-me, dizendo que não esperava que eu chegasse senão no dia seguinte pela manhã.

Logo que entrei no vestíbulo, a minha atenção foi atraída por um ruído semelhante ao farfalhar de um pesado vestido de seda. Olhei ao redor de mim e fiquei surpreendido de não ver ninguém; passamos, então, a uma das salas e não me preocupei mais com esses incidente.

Pouco depois, vi no vestíbulo uma velha baixa, com pesado vestido de seda escura, a qual parecia muito preocupada. Aí estava a explicação desses mistérios; eu tinha ouvido, sem ver, essa pessoa que ia e vinha pela casa.

Repetindo-se o farfalhar do vestido, o Sr. Cheney, que o tinha ouvido ao mesmo tempo em que eu, perguntou-me de onde vinha esse ruído.

“Ora esta! – respondi -, é do vestido de seda escura dessa velha que vejo no vestíbulo.”

Quem seria essa pessoa? A aparição era, efetivamente, tão perfeita que eu não duvidava que fosse uma criatura em carne e osso. Como o resto da família chegasse naquele instante, as apresentações impediram o Sr. Cheney de me responder e, naquele momento, eu não tive mais ocasião de obter informações.

Tendo sido servido o jantar, fiquei admirado de não ver à mesa a senhora do vestido de seda; esses fatos despertaram a minha curiosidade e essa senhora tornou-se logo para mim um objeto de preocupação.

Quando todos deixaram a sala de jantar, ouvi de novo o farfalhar do vestido de seda e, também, uma voz disse: “eu estou aborrecida porque colocaram um caixão sobre o meu; não quero que ele fique ali”.

Tendo eu dado parte dessa comunicação ao dono da casa e à sua mulher, eles se olharam com admiração e, em seguida, o Sr. Cheney, rompendo o silêncio, me disse que reconhecia perfeitamente esse vestido, a sua cor e mesmo seu gênero de seda espessa, mas que o fato do caixão colocado sobre o dela era um absurdo. Essa resposta me tornou perplexo; eu não sabia mais o que dizer.

Uma hora depois, ouvi de repente a mesma voz pronunciar exatamente idênticas palavras, porém acrescentando o seguinte: “Além disso, Seth não tinha o direito de cortar essa árvore”.

Tendo narrado ao dono da casa essa nova comunicação, ele ficou muito inquieto. “Há, em tudo isso, disse-me ele, alguma coisa bem extraordinária. Meu irmão Seth cortou uma árvore que embaraçava a vista, e dissemos-lhe que, se a pessoa que ora pretende falar-vos fosse viva, não consentiria no corte dessa árvore. Quanto ao resto da comunicação, afirmo que não tem nada de racional.”

A mesma comunicação me foi dada à noite pela terceira vez, e me expus de novo a um desmentido formal. Eu estava sob o golpe de uma impressão muito penosa, quando me recolhi ao quarto, pois nunca tinha recebido comunicação mentirosa, e mesmo admitindo o bom senso do seu agravo, semelhante insistência, da parte de um Espírito desencarnado de não querer que um outro caixão fosse colocado sobre o seu, me parecia absolutamente ridícula.

Pela manhã, manifestei ao dono da casa o meu profundo desapontamento, respondendo-me que também estava muito sentido, mas ia provar-me que esse Espírito – se realmente era aquele que dizia ser – estava perfeitamente enganado. “Vamos até ao jazigo de minha família – acrescentou -, e vereis que, embora tivéssemos querido, não fora possível colocar um outro caixão em cima do dela.”

Logo que chegamos ao cemitério, fomos procurar o coveiro, que guardava a chave do jazigo. Na ocasião em que ele ia abrir a porta, pareceu refletir e disse com um ar um tanto embaraçado, voltando-se para o Sr. Cheney: “Devo participar a V.S. que, como restava justamente um pequeno espaço em cima do caixão da Sra. X, coloquei ali o caixãozinho do filho de L… Penso que isso não tem importância, mas talvez fora melhor que eu vos tivesse prevenido disso. Ele está lá desde ontem apenas.”

Nunca me hei de esquecer do olhar que me lançou o Sr. Cheney, quando me disse, voltando-se para mim: “Meu Deus, é pois uma verdade!”

À noite, o Espírito manifestou-se de novo e disse-nos: “Não acrediteis que eu ligue a menor importância ao caixão colocado sobre o meu; pode ser colocada até uma pilha de caixões, com isso não me incomodo. O meu único fim era dar, de uma vez para sempre, prova da minha identidade, de vos levar à convicção absoluta de que sou sempre um ser vivo e racional, a mesma E… que sempre fui.”

Nunca mais

Silvia Schmidt

Nunca se julgue velho demais para comemorar aniversário nem para fazer coisas que você sempre fez. Nunca desista dos seus sonhos só porque imagina que eles nunca se tornarão realidade.

Nunca esqueça o som de uma boa gargalhada ou do amor visto nos olhos de alguém. Nunca troque prazeres por más lembranças de coisas que já se perderam no tempo.

Nunca jogue fora o seu entusiasmo pela Vida, crendo que está velho demais para isso, pois não é o que você sente, mas sim o que lhe disseram. Há um profundo vale dentro de nós onde a primavera é eterna, onde não há sons de tristeza e onde os pássaros sempre cantam.

Mesmo que os seus passos já não sejam tão largos quanto os passos de um adolescente, mesmo que lhe pareçam muito diferentes as coisas que antes você enxergava de outra forma, não deixe a soma das décadas transformá-lo num ser amargo e sem esperanças.

Com a idade cresce nossa sabedoria e ela é uma bênção para todos nós. Exiba os anos vividos como quem carrega um estandarte, girando-o brilhantemente em direção do sol. Se piadistas lhe disserem que sua Vida está acabando, diga-lhes sorrindo sabiamente: “Ela está apenas começando!”

Poças de lama

Quando olho dentes-de-leão, eu vejo ervas daninhas invadindo meu quintal, meus filhos veem flores para a mãe e sopram a penugem branca pensando em um desejo.

Quando olho um velho mendigo que me sorri, eu vejo uma pessoa suja que provavelmente quer dinheiro e eu me afasto. Meus filhos veem alguém sorrir para eles e sorriem de volta.

Quando ouço uma música, eu gosto. Mas não sei cantar e não tenho ritmo; então me sento e escuto. Meus filhos sentem a batida e dançam. Cantam e se não sabem a letra, criam a sua própria.

Quando sinto um forte vento em meu rosto, me esforço contra ele. Sinto-o atrapalhando meu cabelo e empurrando-me para trás enquanto ando. Meus filhos fecham seus olhos, abrem seus braços e voam com ele, até que caiam a rir pela terra.

Quando rezo, eu digo Tu e Vós e conceda-me isto, dê-me aquilo. Meus filhos dizem, “Olá Deus! Agradeço por meus brinquedos e meus amigos. Por favor, mantenha longe os maus sonhos hoje à noite. Eu ainda não quero ir para o céu. Eu sentiria falta de minha mãe e de meu pai.”

Quando olho uma poça de lama eu dou a volta. Eu vejo sapatos enlameados e tapetes sujos. Meus filhos sentam-se nela. Veem represas para construir, rios para cruzar e bichinhos para brincar.

Eu só queria saber se os filhos nos foram dados para nós ensinarmos ou para aprendermos…

Eu recomendo que você aprecie as pequenas coisas da vida, porque um dia poderá olhar para trás e descobrir que eram grandes coisas pequenas.

E, pra finalizar, desejo a você grandes poças de lama… e dentes-de-leão!!!

« Older posts Newer posts »

© 2025 Contando Histórias

Theme by Anders NorenUp ↑