Do Livro: Fatos Espíritas – William Crookes
O extraordinário médium D. D. Home narra o seguinte caso, na sua obra Life and Mission:
“Quando eu residia em Springfield, tive uma grave moléstia que me reteve ao leito durante algum tempo. Um dia, na ocasião em que o médico se retirava, um Espírito me deu esta comunicação: “Tomai o trem da tarde para Hartford, pois se trata de um negócio importante para o progresso da causa; não repliqueis, fazei simplesmente o que vos dizemos”.
Dei conhecimento à minha família dessa extraordinária ordem e, apesar do meu estado de fraqueza, tomei o trem, ignorando completamente o que eu ia fazer e o objetivo de tal viagem.
Ao chegar a Hartford, veio ao meu encontro um estrangeiro, que me disse: “Só tive ocasião de vos ver uma única vez, mas creio que falo com o Sr. Home.” Respondi-lhe afirmativamente, acrescentando que eu chegava a Hartford sem nenhuma idéia do que se queria da minha pessoa.
“É engraçado! – replicou o meu interlocutor -, eu vinha exatamente tomar o trem para vos ir procurar em Springfield.” Explicou-me ele, então, que uma família influente, bem conhecida, me pedia para eu fazer-lhe uma visita e prestar o meu concurso às investigações que ela desejava fazer sobre o Espiritismo.
O fim da viagem começava, pois, a desenhar-se, mas o mistério permanecia ainda velado.
Agradável trajeto em carruagem conduziu-nos logo ao nosso destino. O dono da casa, o Sr. Ward Cheney, que veio receber-me à porta, saudou-me, dizendo que não esperava que eu chegasse senão no dia seguinte pela manhã.
Logo que entrei no vestíbulo, a minha atenção foi atraída por um ruído semelhante ao farfalhar de um pesado vestido de seda. Olhei ao redor de mim e fiquei surpreendido de não ver ninguém; passamos, então, a uma das salas e não me preocupei mais com esses incidente.
Pouco depois, vi no vestíbulo uma velha baixa, com pesado vestido de seda escura, a qual parecia muito preocupada. Aí estava a explicação desses mistérios; eu tinha ouvido, sem ver, essa pessoa que ia e vinha pela casa.
Repetindo-se o farfalhar do vestido, o Sr. Cheney, que o tinha ouvido ao mesmo tempo em que eu, perguntou-me de onde vinha esse ruído.
“Ora esta! – respondi -, é do vestido de seda escura dessa velha que vejo no vestíbulo.”
Quem seria essa pessoa? A aparição era, efetivamente, tão perfeita que eu não duvidava que fosse uma criatura em carne e osso. Como o resto da família chegasse naquele instante, as apresentações impediram o Sr. Cheney de me responder e, naquele momento, eu não tive mais ocasião de obter informações.
Tendo sido servido o jantar, fiquei admirado de não ver à mesa a senhora do vestido de seda; esses fatos despertaram a minha curiosidade e essa senhora tornou-se logo para mim um objeto de preocupação.
Quando todos deixaram a sala de jantar, ouvi de novo o farfalhar do vestido de seda e, também, uma voz disse: “eu estou aborrecida porque colocaram um caixão sobre o meu; não quero que ele fique ali”.
Tendo eu dado parte dessa comunicação ao dono da casa e à sua mulher, eles se olharam com admiração e, em seguida, o Sr. Cheney, rompendo o silêncio, me disse que reconhecia perfeitamente esse vestido, a sua cor e mesmo seu gênero de seda espessa, mas que o fato do caixão colocado sobre o dela era um absurdo. Essa resposta me tornou perplexo; eu não sabia mais o que dizer.
Uma hora depois, ouvi de repente a mesma voz pronunciar exatamente idênticas palavras, porém acrescentando o seguinte: “Além disso, Seth não tinha o direito de cortar essa árvore”.
Tendo narrado ao dono da casa essa nova comunicação, ele ficou muito inquieto. “Há, em tudo isso, disse-me ele, alguma coisa bem extraordinária. Meu irmão Seth cortou uma árvore que embaraçava a vista, e dissemos-lhe que, se a pessoa que ora pretende falar-vos fosse viva, não consentiria no corte dessa árvore. Quanto ao resto da comunicação, afirmo que não tem nada de racional.”
A mesma comunicação me foi dada à noite pela terceira vez, e me expus de novo a um desmentido formal. Eu estava sob o golpe de uma impressão muito penosa, quando me recolhi ao quarto, pois nunca tinha recebido comunicação mentirosa, e mesmo admitindo o bom senso do seu agravo, semelhante insistência, da parte de um Espírito desencarnado de não querer que um outro caixão fosse colocado sobre o seu, me parecia absolutamente ridícula.
Pela manhã, manifestei ao dono da casa o meu profundo desapontamento, respondendo-me que também estava muito sentido, mas ia provar-me que esse Espírito – se realmente era aquele que dizia ser – estava perfeitamente enganado. “Vamos até ao jazigo de minha família – acrescentou -, e vereis que, embora tivéssemos querido, não fora possível colocar um outro caixão em cima do dela.”
Logo que chegamos ao cemitério, fomos procurar o coveiro, que guardava a chave do jazigo. Na ocasião em que ele ia abrir a porta, pareceu refletir e disse com um ar um tanto embaraçado, voltando-se para o Sr. Cheney: “Devo participar a V.S. que, como restava justamente um pequeno espaço em cima do caixão da Sra. X, coloquei ali o caixãozinho do filho de L… Penso que isso não tem importância, mas talvez fora melhor que eu vos tivesse prevenido disso. Ele está lá desde ontem apenas.”
Nunca me hei de esquecer do olhar que me lançou o Sr. Cheney, quando me disse, voltando-se para mim: “Meu Deus, é pois uma verdade!”
À noite, o Espírito manifestou-se de novo e disse-nos: “Não acrediteis que eu ligue a menor importância ao caixão colocado sobre o meu; pode ser colocada até uma pilha de caixões, com isso não me incomodo. O meu único fim era dar, de uma vez para sempre, prova da minha identidade, de vos levar à convicção absoluta de que sou sempre um ser vivo e racional, a mesma E… que sempre fui.”