Categoria: Histórias (Page 5 of 105)

Oi Moça!

Não me perguntem quantos anos tenho, e sim, quantas cartas mandei e recebi. Se mais jovem, se mais velha o que importa, se ainda sou um fervilhar de sonhos, se não carrego o fardo da esperança morta!

Não me perguntem quantos anos tenho, e sim, quantos beijos troquei – Beijos de amor! Se a juventude em mim ainda é festa, se aproveito de tudo a cada instante e se eu bebo da taça gota a gota Ora! Então pouco se me dá que gota resta!

Não me perguntem quantos anos tenho, mas queiram saber de mim se criei filhos, queiram saber de mim que obras eu fiz, queiram saber de mim que amigos tenho e se a alguém, pude eu, tornar feliz.

Não me perguntem quantos anos tenho, mas queiram saber de mim que livros li, queiram saber de mim por onde andei, queiram saber de mim quantas histórias, quantos versos ouvi, quantos cantei.

E assim, somente assim, todos vocês, por mais brancos que estejam meus cabelos, por mais rugas que vejam no meu rosto, terão vontade de chamar-me: E ao me verem passar aqui ali não saberão ao certo minha idade, mas saberão, por certo, que eu vivi!

Uma flor rara

Havia uma jovem muito rica, que tinha tudo: um marido maravilhoso, filhos perfeitos, um emprego que lhe pagava muitíssimo bem, uma família unida.

O estranho é que ela não conseguia conciliar tudo isso, o trabalho e os afazeres lhe ocupavam todo o tempo e a sua vida estava deficitária em algumas áreas.

Se o trabalho lhe consumia muito tempo, ela tirava dos filhos. Se surgiam problemas, ela deixava de lado o marido… E assim, as pessoas que ela amava eram sempre deixadas para depois.

Até que um dia, seu pai, um homem muito sábio, lhe deu um presente: uma flor muito cara e raríssima, da qual havia um apenas exemplar em todo o mundo.

E disse a ela:

“Filha, esta flor vai lhe ajudar muito mais do que você imagina! Você terá apenas que regá-la e podá-la de vez em quando, e às vezes conversar um pouquinho com ela, e ela te dará em troca esse perfume maravilhoso e essas lindas flores.”

A jovem ficou muito emocionada, afinal a flor era de uma beleza sem igual.

Mas o tempo foi passando, os problemas surgiam, o trabalho consumia todo o seu tempo, e a sua vida, que continuava confusa, não lhe permitia cuidar da flor.

Ela chegava em casa, olhava a flor e as flores ainda estavam, lá, não mostravam sinal de fraqueza ou morte, apenas estavam lá, lindas, perfumadas.

Então ela passava direto.

Até que um dia, sem mais nem menos, a flor morreu.

Ela chegou em casa e levou um susto!

Estava completamente morta, suas raízes estavam ressecadas, suas flores caídas e suas folhas amarelas.

A jovem chorou muito, e contou a seu pai o que havia acontecido.

Seu pai então respondeu:

“Eu já imaginava que isso aconteceria, e eu não posso lhe dar outra flor, porque não existe outra igual a essa, ela era única, assim como seus filhos, seu marido e sua família. Todos são bênçãos que o Senhor lhe deu, mas você tem que aprender a regá-los, podá-los e dar atenção a eles, pois assim como a flor, os sentimentos também morrem. Você se acostumou a ver a flor sempre lá, sempre florida, sempre perfumada, e se esqueceu de cuidar dela…”

Sementes

Um homem trabalhava em uma fábrica distante cinqüenta minutos de ônibus da sua casa. No ponto seguinte entrava uma senhora idosa que sempre sentava-se junto à janela. Ela abria a bolsa, tirava um pacotinho e passava a viagem toda jogando alguma coisa para fora.

A cena sempre se repetia e um dia, curioso, o homem lhe perguntou o que ela tanto jogava pela janela.

— Jogo sementes, respondeu ela.

— Sementes? Sementes de quê?

— De flores. É que eu olho para fora e acho a estrada é tão vazia. Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas por todo o caminho. Imagine como seria bom!

— Mas as sementes caem no asfalto, responde o senhor, são esmagadas pelos pneus dos carros, devoradas pelos passarinhos.

— A senhora acha mesmo que estas sementes vão germinar na beira da estrada?

— Com delicadeza ela responde, Acho meu filho! Mesmo que muitas se percam, algumas delas acabam caindo na terra e com o tempo vão brotar.

— Mesmo assim, demoram para crescer, precisam de água…

— Ah, eu faço a minha parte, diz a senhora. Sempre há dias de chuva. E se alguém jogar as sementes, um dia as flores nascerão. Dizendo isso, virou-se para a janela aberta e recomeçou seu trabalho.

O homem desceu logo adiante, achando que a senhora já estava senil.

Algum tempo depois …

Um dia, no mesmo ônibus, o homem ao olhar para fora percebeu flores à beira da estrada. Muitas flores, a paisagem colorida, perfumada e linda! Lembrou-se então daquela senhora. Procurou-a em vão. Perguntou ao cobrador, que conhecia todos os usuários no percurso.

— Cadê aquela senhora que joga sementes pela janela?

— A velhinha das sementes? Pois é, morreu há quase um mês.

O homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem florida pela janela e pensou:

— “Quem diria, as flores brotaram mesmo. Mas de que adiantou o trabalho dela? Morreu e não pode ver toda esta beleza”.

Nesse mesmo instante, ouviu risos de criança. No banco à frente, uma garotinha apontava pela janela toda entusiasmada:

— Mamãe, olha, que lindo! Quantas flores pela estrada! Como se chamam aquelas flores?

Então, o senhor entendeu o que aquela senhora havia feito. Mesmo não estando ali para ver, fez a sua parte, deixou a sua marca, a beleza para a contemplação e a felicidade das pessoas.

No dia seguinte, o homem entrou no ônibus, sentou-se junto à janela e tirou um pacotinho de sementes do bolso. E assim, deu continuidade à vida, semeando o amor, a amizade, o entusiasmo e a alegria.

“O futuro depende das nossas ações no presente. E se semeamos boas sementes, os frutos serão igualmente bons.”

Meu Pai

Silvana Duboc

Existem pessoas que precisariam sobreviver além da eternidade e não deveriam obedecer a regra de que a vida é uma passagem.

Poderiam ser como o sol, a lua, o mar que nunca desaparecem ou mudam de lugar.

Existem pessoas que possuem a alma tão pura, tão grande e impregnada de tanta ternura que não poderiam jamais sofrer ou morrer para evitar que a vida de muitos viesse a escurecer.

Existem pessoas com cheiro de orvalho e que não são simples caminhos, são grandes atalhos.

Existem pessoas com um brilho extraordinário, pessoas semelhantes as primaveras, com flores coloridas e muito belas.

Existem pessoas que, apesar da aparência de um cristal, possuem uma imensa força espiritual e uma garra sobrenatural.

Existem pessoas que são dia por que possuem uma ousadia em se tratando de viver e nunca se parecerão com a noite que insiste em escurecer.

Existem pessoas que são como um presente que nunca terminamos de desembrulhar deixando, assim, na nossa mente um toque de surpresa que jamais vai acabar.

Existem pessoas infinitamente diferentes, existe nesse mundo muita gente que deveria se espelhar no tipo de pessoa que acabei de mencionar.

Mas… pessoas especiais não nascem toda hora, não vivem e simplesmente vão embora, elas nos marcam de forma tão poderosa, que a vida, mesmo depois delas, ainda é saborosa.

Existe na minha vida uma pessoa especial apesar do seu jeito parecer tão normal.

Essa pessoa é meu depósito de carinho, é o meu herói, é o meu velhinho, é o Pai que Deus colocou no meu caminho.

Escola de Pintura

Outro dia um amigo me perguntou o que eu acho da vida. Resposta difícil não é? Vou contar como respondi. Imagine uma escola de pintura. Ao entrar, você recebe uma tela em branco e encontra vários alunos pintando. Muitos estão trabalhando há anos e os quadros são de todos os tipos, desde obras maravilhosas até telas completamente destruídas. As tintas, os pincéis, e os materiais de pintura estão espalhados por toda a sala, alguns bem acessíveis, outros em locais bem difíceis. Apesar de ser uma escola, não há professores. É tudo por sua conta. O que você faria nesta situação? Pegaria qualquer pincel e simplesmente espalharia tintas em sua tela? Observaria os que estão trabalhando e tentaria imitar alguém talentoso? Juntaria sua tela às de outras pessoas e pintaria um grande painel em equipe? Tentaria criar uma obra original e aprender com seus próprios erros? Utilizaria apenas os materiais mais acessíveis ou batalharia para conseguir os materiais mais difíceis?

Volto a perguntar, o que você faria?

Na minha opinião, a vida é como esta escola de pintura. As pinceladas são nossas ações. Às vezes, damos pinceladas de mestre. Usamos o tipo certo de pincel, a mistura correta das cores e movimentos precisos. São as nossas boas ações. Aquelas que nos fazem dormir tranqüilos e com um sorriso no rosto. Outras vezes borramos todo o nosso quadro e pensamos: “Argh! Estraguei tudo. Não tem mais jeito”. Cogitamos até jogar a tela fora e parar com tudo. Vamos dormir arrasados e querendo morrer. É nesta hora que precisamos lembrar da escola de pintura. Não se desespere. Por mais borrado que seu quadro esteja, você sempre pode pegar um pincel limpo, as tintas certas e pintar por cima. Se você disse algo ruim para alguém, peça perdão. Se fez algo que não deveria, volte lá e conserte. Se deixou passar uma oportunidade de elogiar, procure a pessoa ou pegue o telefone e faça o elogio. Se teve vontade de acariciar alguém e não o fez, faça-o na próxima vez que encontrá-lo e diga-lhe apenas que está acertando seu quadro, tenho certeza que você será compreendido. A única coisa que você não deve fazer é deixar os borrões aparecendo. Não interessa quão antigos eles sejam. Se eles estiverem lá, corrija-os. É corrigindo que aprendemos a não cometê-los e nos tornamos artistas cada vez melhores. Fazendo assim, não importa se teremos mais duzentos anos ou apenas mais um dia para nossa pintura, quando formos chamados para expô-la, ela estará perfeita.

Talento, tenho certeza, todos nós temos.

Resista um pouco mais …

Há dias em que temos a sensação de que chegamos ao fim da linha.

Não conseguimos vislumbrar uma saída viável para os problemas que surgem em grande quantidade.

Com você não é diferente. Você também faz parte deste mundo cheio de provas e sofrimentos. Desta escola chamada Terra.

E já deve ter passado por um desses dias, e pensado em desistir.

No entanto vale a pena resistir.

Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejem e que a sua coragem esteja cochilando.

Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais.

Resista mais um instante, mesmo que a derrota seja um ímã… Mesmo que a desilusão caminhe em sua direção.

Resista mais um pouco mesmo que os pessimistas digam para você parar… mesmo que sua esperança esteja no fim.

Resista mais um momento mesmo que você não possa avistar, ainda, a linha de chegada… mesmo que a insegurança brinque de roda a sua volta.

Resista um pouco mais, ainda que a sua vida esteja sendo pesada na balança dos insensatos, e você se sinta indefeso como um pássaro de asas quebradas.

As dores, por mais amargas, passam.Tudo passa.

A ilusão fascina, mas se desvanece.

A posse agrada, porém se transfere de mãos.

O poder apaixona, entretanto, transita de pessoa.

O prazer alegra, todavia é efêmero.

A glória terrestre exalta e desaparece.

O triunfador de hoje, passa, mais tarde, vencido…

Tudo, nesta vida, tem um propósito.

A dor aflige, mas também passa.

A carência aturde, porém, um dia se preenche.

A debilidade física deprime, todavia, liberta das paixões.

O silêncio que entristece, leva à meditação que felicita.

A submissão aflige, entretanto fortalece o caráter.

O fracasso espezinha, ao mesmo tempo ensina o homem a conquistar-se.

A situação muda, como mudam as estações.

O verão brinca de esconde-esconde com a brisa morna, mas cede lugar ao outono, que espalha suas tintas sobre a folhagem.

O inverno chega e, sem pedir licença, congela a brisa e derruba as folhas.

Tudo parece sem vida, sem cor, sem perfume.

Será o fim? Não! Eis que surge a primavera e estende seus tapetes multicoloridos, espalhando perfume no ar e reverdecendo novamente a paisagem.

Assim, quando as provas lhe baterem à porta, não se deixe levar pelo desejo de desistir… resista um pouco mais.

Resista, porque o último instante da madrugada é sempre aquele que puxa a manhã pelo braço.

E essa manhã bonita, ensolarada, sem algemas, nascerá para você em breve, desde que você resista.

Resista, porque alguém que o ama está sentado na arquibancada do tempo, torcendo muito para que você vença e ganhe o troféu que tanto deseja: a felicidade.

Não se deixe abater pela tristeza.Todas as dores terminam.

Aguarde que o tempo, com suas mãos cheias de bálsamo, traga o alívio.

A ação do tempo é infalível, e nos guia suavemente pelo caminho certo, aliviando nossas dores, assim como a brisa leve abranda o calor do verão.

Mais depressa do que supõe, você terá a resposta, na consolação de que necessita.

Por tudo isso, resista… e confie nesse abençoado aliado chamado TEMPO.

O quanto de Boris existe em você?

William Douglas

William Douglas é juiz federal com mestrado em Direito e pós-graduação em Políticas Públicas e Governo. Atua também como professor em cursos de extensão em Direito e preparatórios para concursos. É autor de vários livros com dicas para passar em concursos públicos.

Após ouvir lixeiros desejarem “feliz 2010”, Boris Casoy disse “… quem—-, dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras… (risos) … dois lixeiros… o mais baixo da escala do trabalho.”

O episódio chocou. As reações que está sofrendo são exageradas? Ou ele as merece? Os lixeiros desejaram a todos (inclusive a ele, portanto) “paz, saúde, dinheiro, trabalho” e o que se seguiu foi, usando sua terminologia, “uma vergonha”.

O pedido de desculpas, protocolar, não teve eficácia, talvez até o contrário. A oposição entre a imagem do apresentador e o comentário em off, revelador de uma visão elitista e preconceituosa, frustrou a ideia de respeito a todos e ao telespectador (imaginem o filho de um gari ouvindo isso). A rudeza dos comentários não se resolve por ter sido um acidente e não é fácil pedir desculpas pelo que se é ou pensa. Contudo, até que ponto a diferença entre nós e o Boris reside apenas no azar que ele deu pelo vazamento? O quanto de Boris existe em cada brasileiro?

Quando alguém se refere ao ponto “mais baixo na escala do trabalho” pode estar se referindo ao conteúdo moral ou social da atividade (como, por exemplo, criticar o tráfico ou a agiotagem), pelos riscos ou pela remuneração reduzida. A atividade de lixeiro não é nociva à sociedade. Nocivo seria, para a saúde e meio ambiente, que eles não atuassem. Como o risco não é tão grande, por eliminação, resta a remuneração. E aí reside um preconceito que resiste: julgar a dignidade das pessoas, ou das profissões, de acordo com sua remuneração. Há que se reconhecer que nem sempre existe equilíbrio entre a importância social de uma função e os ganhos que esta proporciona. E não se pode confundir o desejo de melhorar de vida ou ganhar mais, e a admiração por quem logra isto, com uma postura de menoscabo com as funções menos rentáveis.

Todo trabalho é digno. O que existe, em cada ofício, são pessoas que agem bem e outras não. Existem servidores públicos, CEO’s, lixeiros, jornalistas e juízes dignos e indignos, o que se define pela forma como exercem sua atividade. Mais que isso, Jesus dizia que “a vida do homem não consiste na abundancia dos bens que possui”.

Se você, leitor, julga alguém melhor ou pior levando em consideração o quanto a pessoa ganha, ou como se veste, ou onde mora, é preciso reconhecer que em você há, escondido, um pouco desse lado sombrio que o Boris revelou ter. Talvez o lado positivo desse episódio seja a reflexão sobre até que ponto ele não revela nossos preconceitos em off.

Camila Pitanga, que faz o papel de uma faxineira na novela global, afirmou que anda pelo estúdio sem ser cumprimentada quando está com os trajes da personagem. Feliz pelo papel ser convincente, não deixou de anotar como é estranho ficar “invisível”, Esse fenômeno já foi objeto de estudo por um professor da USP que, vestido de faxineiro, ficou “invisível” na universidade, por anos. Em suma, quem deixa de ver o faxineiro, não deixa de ter seu lado Boris. Não que o Boris seja de todo mal, ele não é. Ninguém é. Somos todos humanos, com nossos lados luminosos e sombrios.

Boris também errou ao analisar a função de lixeiro. Os “‘garis” são figuras simpáticas à população, vivem de bom humor e, ao lado dos carteiros, têm índices de aprovação e confiança que fazem corar os Poderes, a igreja e a imprensa. Infelizmente, estas instituições não são eficientes para limpar seus respectivos “lixos” como os garis o são com o lixo que lhes cabe. Por fim, não esquecer que – com seu jeito e ginga – um gari ilustra o vídeo institucional da bem sucedida campanha “Rio 2016”. No Rio, os concursos para gari são concorridíssimos.

Certa vez, fui a uma festa na casa de um Procurador do Ministério Público do Trabalho (negro e onde grande número de convidados eram afrodescendentes). Fui com meus dois filhos e a babá do mais novo. Ela, negra, não está acostumada a ir a festas com tantas pessoas da sua cor. Em restaurantes e colégios caros, só para dar dois exemplos, é raro encontrar pessoas negras. Depois da festa, perguntei à babá o que ela achou e sua resposta foi: “Achei muito diferente, Dr. William. As pessoas olhavam para mim!”. De fato, quem reparar vai ver quantos ignoram os trabalhadores mais humildes, quando não chegam a destratá-los. Naquele ambiente raro, a jovem experimentou a “não invisibilidade”.

E você, leitor? Cumprimenta seu lixeiro? O garçom? A babá da vizinha? O porteiro? Você os vê? Aquele áudio procura você. Se você se julga, ou julga os outros, por quanto ganha, por qual carro tem, ou se não tem um, então o episódio pode revelar esse lado do Boris em seu cotidiano. Melhor que apenas discutir o que fez o Casoy é também questionarmos até que ponto reconhecemos o valor de todo e qualquer trabalho honesto.

Zé Alegria

Havia uma fazenda onde os trabalhadores viviam tristes e isolados.

Eles estendiam suas roupas surradas no varal e alimentavam seus magros cães com o pouco que sobrava das refeições.

Todos que viviam ali trabalhavam na roça do Sinhozinho João, um homem rico e poderoso, que, dono de muitas terras, exigia que todos trabalhassem duro, pagando muito pouco por isso.

Um dia, chegou ali um novo empregado, cujo apelido era Zé Alegria.

Era um jovem agricultor em busca de trabalho.

Recebeu, como todos, uma velha casa onde iria morar enquanto trabalhasse ali.

O jovem vendo aquela casa suja e largada, resolveu dar-lhe vida nova.

Pegou uma parte de suas economias, foi até a cidade e comprou algumas latas de tinta.

Chegando à sua casa, cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com cores alegres e brilhantes, além de colocar flores nos vasos.

Aquela casa limpa e arrumada chamava à atenção de todos que passavam.

O jovem sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, era por isso que tinha esse apelido.

Os outros trabalhadores lhe perguntavam:

— Como você consegue trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos ?

O jovem olhou bem para os amigos e disse: -Bem, este trabalho, hoje é tudo que eu tenho.

Ao invés de blasfemar e reclamar, prefiro agradecer por ele.

Quando aceitei este trabalho, sabia de suas limitações.

Não é justo que agora que estou aqui, fique reclamando.

Farei com capricho e amor aquilo que aceitei fazer.

Os outros olharam admirados. “Como ele podia pensar assim?”

Afinal, acreditavam ser vítimas das circunstâncias abandonados pelo destino…

O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou à atenção de Sinhozinho, que passou a observar à distância os passos dele.

Um dia Sinhozinho pensou:

— Alguém que cuida com tanto cuidado e carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo capricho da minha fazenda.

Ele é o único aqui que pensa como eu.

Estou velho e preciso de alguém que me ajude na administração da fazenda.

Sinhozinho foi até a casa do rapaz e, após tomar um café bem fresquinho, ofereceu ao jovem um emprego de administrador da fazenda.

O rapaz prontamente aceitou.

Seus amigos agricultores novamente foram perguntar-lhe:

— O que faz algumas pessoas serem bem sucedidas e outras não ?

E ouviram, com atenção, a resposta:

— Em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi muito e o principal é que:

Não existe realidade, existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Você tem certeza?

Já aconteceu de você ter perdido alguma coisa e, finalmente, achá-la exatamente no lugar em que você tinha certeza absoluta que ela não ia estar?

Que outras coisas na sua vida você pode não estar rotineiramente enxergando, porque tem certeza que não estão lá?

Quantas idéias criativas nunca apareceram porque você já tem certeza do que funciona e do que não?

Será que a certeza está limitando você?

Será que sua certeza é realmente certeza?

Ou simplesmente falta de vontade de explorar novas opções?

Existem momentos em que devemos agir e pensar com certeza e determinação, mas muitas vezes o que julgamos ser certeza é pura teimosia.

Suas certezas resultam, na maioria das vezes, de suas experiências.

Mas leve sempre em conta que existe um universo de oportunidades além dessas experiências.

Sim, é mais fácil rejeitar novas idéias sem considerá-las ou explorá-las.

Agora, se você já sabe tudo, como é possível aprender?

É ótimo ter certeza e confiança.

Só não deixe a certeza cegá-lo para o real potencial das suas possibilidades.

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