Categoria: Histórias (Page 98 of 110)

Oração especial para os maiores de 50 anos

Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia. Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.

Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros.

Ensina-me a pensar nos outros e ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando, com modéstia, a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante.

Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preserva os amigos e os filhos…… quando não há intromissão na vida deles…

Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá-me asas no assunto para voar diretamente ao ponto que interessa.

Não me permita falar mal de alguém. Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças.. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada dia que passa.

Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir demais. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com alguma paciência.

Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errado em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.

Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço: Mantenha-me o mais amável possível.

Livrai-me de ser santo. É difícil conviver com santos!

Mas um velho ou uma velha rabugentos, Senhor, é obra prima do capeta!!!!! Me poupe!!! Amém!

Oração das Mães

Senhor, fazei que eu me lembre mais das minhas responsabilidades do que dos meus privilégios.

Que eu saiba amar meus filhos sem intenção alguma de possuí-los.

Que eu conquiste o respeito dos meus filhos em lugar de exigi-lo.

Que eu seja compassiva e compreensiva ante os defeitos deles, sendo forte também em corrigi-los, não tendo nunca amor de “vista grossa” o triste falso amor que sabe apenas fazer todas as vontades das crianças.

Que eu tente projetar no coração de meus filhos a vossa imagem de Pai e que a minha imagem de mãe seja um reflexo de vossa imagem de Pai.

Que eu os faça crescer, estes meus filhos, bem mais por dentro do que por fora.

Que eu saiba dialogar bem mais do que ensinar.

Que a fertilidade do meu ventre não seja maior do que a sublime fecundidade da minha alma de mãe.

E que esta alma de mãe seja uma cópia do vosso grande coração de Pai.

Amém.

O Presente

Um garoto pobre, com cerca de doze anos de idade, vestido e calçado de forma humilde, entra na loja, escolhe um sabonete comum e pede ao proprietário que embrulhe para presente.

— É para minha mãe?, diz com orgulho.

O dono da loja ficou comovido diante da singeleza daquele presente. Olhou com piedade para o seu freguês e, sentindo uma grande compaixão, teve vontade de ajudá-lo.

Pensou que poderia embrulhar, junto com o sabonete comum, algum artigo mais significativo. Entretanto, ficou indeciso: ora olhava para o garoto, ora para os artigos que tinha em sua loja.

Devia ou não fazer? O coração dizia sim, a mente dizia não.

O garoto, notando a indecisão do homem, pensou que ele estivesse duvidando de sua capacidade de pagar.

Colocou a mão no bolso, retirou as moedinhas que dispunha e as colocou sobre o balcão.

O homem ficou ainda mais comovido quando viu as moedas, de valor tão insignificante. Continuava seu conflito mental. Em sua intimidade concluíra que, se o garoto pudesse, ele compraria algo bem melhor para sua mãe.

Lembrou de sua própria mãe. Fora pobre e muitas vezes, em sua infância e adolescência, também desejara presentear sua mãe. Quando conseguiu emprego, ela já havia partido para o mundo espiritual. O garoto, com aquele gesto, estava mexendo nas profundezas dos seus sentimentos.

Do outro lado do balcão, o menino começou a ficar ansioso. Alguma coisa parecia estar errada. Por que o homem não embrulhava logo o sabonete?

Ele já escolhera, pedira para embrulhar e até tinha mostrado as moedas para o pagamento. Por que a demora? Qual o problema?

No campo da emoção, dois sentimentos se entreolhavam: a compaixão do lado do homem, a desconfiança por parte do garoto.

Impaciente, ele perguntou:

— Moço, está faltando alguma coisa??

— Não, respondeu o proprietário da loja — é que de repente me lembrei de minha mãe. Ela morreu quando eu ainda era muito jovem. Sempre quis dar um presente para ela, mas, desempregado, nunca consegui comprar nada.

Na espontaneidade de seus doze anos, perguntou o menino:

— Nem um sabonete?

O homem se calou. Refletiu um pouco e desistiu da idéia de melhorar o presente do garoto. Embrulhou o sabonete com o melhor papel quetinha na loja, colocou uma fita e despachou o freguês sem responder mais nada.

A sós, pôs-se a pensar. Como é que nunca pensara em dar algo pequeno e simples para sua mãe? Sempre entendera que presente tinha que ser alguma coisa significativa, cara até, tanto assim que, minutos antes, sentira piedade da singela compra e pensara em melhorar o presente adquirido.

Comovido, entendeu que naquele dia tinha recebido uma grande lição. Junto com o sabonete do menino, seguia algo muito mais importante e grandioso, o melhor de todos os presentes: o gesto de amor!

Equipe de Redação do Momento, a partir do cap. 20 do livro Novas histórias que ninguém contou, novos conselhos que ninguém deu, de autoria de Melcíades José de Brito, DPL editora.

Oportunidades da Vida

Um garoto que nasceu com uma doença que não tinha cura.

Tinha 17 anos e podia morrer a qualquer momento.

Sempre viveu na casa de seus pais, sob o cuidado constante de sua mãe.

Um dia decidiu sair sozinho e, com a permissão da mãe, caminhou pela sua quadra, olhando as vitrines e as pessoas que passavam.

Ao passar pôr uma loja de discos, notou a presença de uma garota, mais ou menos da sua idade, que parecia ser feita de ternura e beleza.

Foi amor a primeira vista.

Abriu a porta e entrou, sem olhar para mais nada que não a sua amada.

Aproximando-se timidamente, chegou ao balcão onde ela estava.

Quando o viu, ela deu-lhe um sorriso e perguntou se podia ajuda-lo em alguma coisa.

Era o sorriso mais lindo que ele já havia visto, e a emoção foi tão forte que ele mal conseguiu dizer que queria comprar um CD.

Pegou o primeiro que encontrou, sem nem olhar de quem era, e disse :

— Esse aqui.

— Quer que embrulhe para presente ?

Perguntou a garota sorrindo ainda mais e ele só mexeu com a cabeça para dizer que sim.

Ela saiu do balcão e voltou, pouco depois, com o CD muito bem embalado.

Ele pegou o pacote e saiu, louco de vontade de ficar por ali, admirando aquela figura divina.

Daquele dia em diante, todos as tardes voltava a loja de discos e comprava um CD qualquer.

Todas as vezes a garota deixava o balcão e voltava com um embrulho cada vez mais bem feito, que ele guardava no closet, sem nem abrir.

Ele estava apaixonado, mas tinha medo da reação dela, e assim, por mais que ela sempre o recebesse com um sorriso doce, não tinha coragem para convida-la para sair e conversar.

Comentou sobre isso com sua mãe e ela o incentivou, muito, a chama-la para sair.

Um dia, ele se encheu de coragem e foi para a loja.

Como todos os dias comprou outro CD e, como sempre, ela foi embrulha-lo.

Quando ela não estava vendo, escondeu um papel com seu nome e telefone no balcão e saiu da loja correndo.

No dia seguinte o telefone tocou e a mãe do jovem atendeu.

Era a garota perguntando por ele.

A mãe, desconsolada, nem perguntou quem era, começou a chorar e disse:

— Então, você não sabe ? Faleceu essa manhã.

Mais tarde, a mãe entrou no quarto do filho, para olhar suas roupas e ficou muito surpresa com a quantidade de CDs, todos embrulhados.

Ficou curiosa e decidiu abrir um deles.

Ao faze-lo, viu cair um pequeno pedaço de papel, onde estava escrito :

— Você é muito simpático, não quer me convidar para sair ? Eu adoraria.

Emocionada, a mãe abriu outro CD e dele também caiu um papel que dizia o mesmo, e assim todos quantos ela abriu traziam uma mensagem de carinho e a esperança de conhecer aquele rapaz.

Assim é a vida : não espere demais para dizer a alguém especial aquilo que você sente.

Diga-o já; amanhã pode ser muito tarde.

Essa mensagem foi escrita para fazer as pessoas refletirem e assim, pouco a pouco, ir mudando sua vida.

Esta mensagem é para dizer que você é muito especial, diga agora a alguém o que ainda não foi dito.

Não deixe para amanhã.

Quem sabe não dá mais tempo.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

O Poder da Validação

Stephen Kanitz

Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os super confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes, nem colegas de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada artigo que escrevo e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros.

Segurança não depende da gente, depende dos outros.

Está totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera. Segurança depende de um processo que chamo de “validação”, embora para os estatísticos o significado seja outro.

Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor. Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente.

Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”. Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Amo você!”.

Quem cunhou a frase “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a própria insegurança que não temos tempo para sair validando os outros.

ESTAMOS TÃO PREOCUPADOS EM MOSTRAR QUE SOMOS O “MÁXIMO” que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o “MÁXIMO” são ELES.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o “ter” e não o “ser”.

Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou dominar os outros em busca de poder. Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são e não pelo que gostaríamos que fossem.

Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão polegar para cima, um “valeu cara, valeu”.

O Pior Analfabeto

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht

O Papel e a Tinta

Fábula de Leonardo Da Vinci

Certo dia, uma folha de papel que estava em cima de uma mesa, junto com outras folhas exatamente iguais a ela, viu-se coberta de sinais. Uma pena, molhada de tinta preta, havia escrito uma porção de palavras em toda a folha.

— Será que você não podia ter me poupado desta humilhação? – disse a folha de papel, furiosa, para a tinta.

— Espere!, respondeu a tinta. Eu não estraguei você. Eu cobri você de palavras. Agora você não é mais uma folha de papel, mas sim uma mensagem. Você é a guardiã do pensamento humano. Você se transformou num documento precioso.

Pouco depois, alguém foi arrumar a mesa e apanhou as folhas de papel para jogá-las na lareira. Subitamente, reparou na folha escrita com tinta. Então, jogou fora todas as outras, e guardou apenas a que continha uma mensagem.

M a r t h a
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O Obstáculo mais Difícil da Vida

Um grande sábio possuía três filhos jovens, inteligentes e consagrados à sabedoria.

Em certa manhã, eles altercavam a propósito do obstáculo mais difícil no grande caminho da vida.

No auge da discussão, prevendo talvez conseqüências desagradáveis, o genitor benevolente chamou-os a si e confiou-lhes curiosa tarefa.

Iriam os três ao palácio do príncipe governante, conduzindo algumas dádivas que muito lhes honraria o espírito de cordialidade e gentileza.

O primeiro seria o portador de rico vaso de argila preciosa.

O segundo levaria uma corça rara.

O terceiro transportaria um bolo primoroso da família.

O trio recebeu a missão com entusiástica promessa de serviço para a pequena viajem de três milhas; no entanto, no meio do caminho, começaram a discutir.

O depositário do vaso não concordou com a maneira pela qual o irmão puxava a corça delicada, e o responsável pelo animal dava instruções ao carregador do bolo, a fim de que não tropeçasse, perdendo o manjar; este último aconselhava o portador do vaso valioso, para que não caísse.

O pequeno séqüito seguia, estrada afora, dificilmente, porquanto cada viajante permanecia atento as obrigações que diziam respeito aos outros, através de observações acaloradas e incessantes.

Em dado momento, o irmão que conduzia o animalzinho, olvida a própria tarefa, a fim de consertar a posição da peça de argila nos braços do companheiro, e o vaso, premido pelas inquietações de ambos, escorrega, de súbito, para espatifar-se no cascalho.

Com o choque, o distraído orientador da corça perde o governo do animal, que foge espantado.

O carregador do bolo avança para sustar-lhe a fuga, e o bolo se perde totalmente no chão.

Desapontados e irritadiços, os três rapazes voltam a presença do pai, apresentando cada qual a sua queixa de derrota.

O sábio, porém, sorriu e explicou-lhes:

— Aproveitem o ensinamento da estrada. Se cada um de vocês estivesse vigilante na própria tarefa, não colheriam as sombras do fracasso. O mais intrincado problema do mundo, meus filhos, é o de cada homem cuidar dos próprios negócios, sem intrometer-se nas atividades alheias. Enquanto cogitamos de responsabilidades que competem aos outros, as nossas viverão esquecidas.

O Mulherão

Martha Medeiros

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso colgate.

Mulherões, dentro desse conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Malu Mader, Letícia Spiller, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.

Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.

Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais.

Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana.

Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.

Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.

Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos na natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.

Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, é quem de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.

Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava a roupa para fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.

Mulherão é quem cria os filhos sozinha, quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.

Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia.

Martha Medeiros (Jornal Zero Hora / RS)

O medo causado pela inteligência

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas.

O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:

— Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável ! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta”.

Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava n’uma carreira difícil.

Isso, na Inglaterra.

Imaginem aqui, no Brasil.

Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:

Há tantos burros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência– .

A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições.

Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.

Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.

Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos. Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer neste grupos de mediocres .

É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência,por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas… Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.

É um paradoxo angustiante !

Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues…

Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra”.

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar!

Que Deus nos proteja, então, dos medíocres!…

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