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A morte de cada dia

Paulo Angelim

Num artigo interessante, Paulo Angelim que é arquiteto, pós-graduado em Marketing diz mais ou menos o seguinte:

Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à ausência de vida e isso é um erro. Existem outros tipos de morte e precisamos “morrer” todo dia.

A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação. Não existe planta sem a “morte” da semente, não existe embrião sem a “morte” do óvulo e do esperma, não existe borboleta sem a “morte” da lagarta, isso é óbvio!

Esse tipo de morte nada mais é do que o ponto de partida para o início de algo novo. É a fronteira entre o passado e o futuro.

Se você quer ser um bom universitário, mate dentro de você o secundarista aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente. Quer ser um bom profissional? Então mate dentro de você o universitário descompromtido que acha que a vida se resume a estudar só o suficiente para fazer as provas.

Quer ter um bom relacionamento, então mate dentro de você o jovem inseguro ou ciumento ou o solteiro solto que pensa poder fazer planos sozinho,sem ter que dividir espaços, projetos e tempo com mais ninguém.

Enfim, todo processo de evolução exige que matemos o nosso “eu” passado. E qual o risco é de não agirmos assim? O risco está em tentarmos ser duas pessoas ao mesmo tempo, perdendo o nosso foco, comprometendo nossa produtividade e, por fim, prejudicando nosso desenvolvimento.

Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram, não se projetam para o que serão ou desejam ser. Elas querem a nova etapa, sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam. Acabam se formando em projetos inacabados, híbridos, adultos “infantilizados”.

Podemos até agir, às vezes, como meninos, de tal forma que não matemos virtudes de criança que também são necessárias a nós, adultos, como: brincadeira, sorriso fácil, vitalidade, criatividade etc. Mas, se quisermos ser adultos, devemos necessariamente matar atitudes infantis, para passarmos a agir como adultos.

Quer ser alguém (líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou cidadã, amigo ou amiga) melhor e mais evoluído?

Então, o que você precisa matar em si ainda hoje para que nasça o ser que você tanto deseja ser?

Pense nisso e “morra”! Mas não esqueça de nascer melhor ainda!

Paul Rusesabagina: O Herói do Hotel des Mille Collines no Genocídio de Ruanda

Paul Rusesabagina é reconhecido mundialmente por sua bravura e liderança durante o genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994. Naquele ano, o país africano foi devastado por uma onda de violência sem precedentes, na qual cerca de 800.000 pessoas, em sua maioria tutsis, foram barbaramente assassinadas por militantes extremistas hutus em um período de apenas 100 dias. Em meio ao caos e ao massacre, a história de Rusesabagina emergiu como um sinal de esperança e humanidade.

Na época, Paul Rusesabagina era gerente do Hotel des Mille Collines, um luxuoso hotel situado na capital Kigali. Quando os ataques começaram e famílias inteiras eram perseguidas e mortas, ele tomou a corajosa decisão de transformar o hotel em um refúgio seguro para pessoas em risco. Ao longo dos meses do genocídio, cerca de 1.268 pessoas se abrigaram nas instalações do hotel, enquanto a violência avançava brutalmente do lado de fora.

Rusesabagina usou sua posição como gerente do hotel de forma estratégica. Ele negociou ativamente com líderes das milícias, membros do governo e forças armadas que organizavam o massacre. Por meio de habilidades diplomáticas, além de subornos em dinheiro, cigarros e álcool, conseguiu persuadir os perpetradores a poupar os refugiados dentro do hotel. Em várias ocasiões, enfrentou ameaças diretas enquanto tentava proteger aqueles que dependiam de sua liderança. Sua coragem e capacidade de negociação mantiveram os portões do hotel fechados aos assassinos que rondavam o local, determinados a eliminar qualquer tutsi que encontrassem.

Além de proteger fisicamente os refugiados dentro do hotel, Paul Rusesabagina aproveitou sua conexão com a rede internacional operada por Sabena, a companhia belga que era proprietária do hotel. Ele fez apelos às embaixadas, organizações internacionais e autoridades externas, pedindo ajuda e proteção para aqueles que haviam encontrado abrigo sob seu cuidado. No entanto, em um genocídio que comprometeu a comunidade internacional por sua falta de ação, sua luta foi em boa parte solitária. Ainda assim, dentro do Mille Collines, ele manteve as pessoas vivas — assegurando provisões básicas como comida e água, mesmo quando os recursos começaram a escassear gravemente.

Rusesabagina se destacou não apenas por suas habilidades práticas, mas também por seu inabalável senso de humanidade. Em meio a um ambiente onde o ódio e a violência haviam tomado conta de vizinhos, amigos e famílias, ele mostrou compaixão, colocando até mesmo sua própria vida e a de sua família em risco para salvar outros. Ele escolheu se posicionar contra as forças genocidas quando muitos ao seu redor foram incapazes ou não quiseram fazê-lo.

O impacto de suas ações é ainda mais significativo quando se considera o contexto do genocídio de Ruanda: enquanto a aniquilação em massa era orquestrada com brutal eficiência, o hotel tornou-se um dos poucos símbolos de segurança no país. A atitude de Rusesabagina desafiou a lógica de medo e destruição que reinava naqueles dias, mostrando que a coragem individual podia salvar vidas mesmo diante de tamanha tragédia.

A história de Paul Rusesabagina capturou a atenção internacional quando foi interpretada no filme Hotel Ruanda (2004), que trouxe luz ao horror do genocídio e à sua atuação heroica. Com o tempo, ele foi amplamente reconhecido como uma das figuras mais importantes no esforço de proteção de vítimas, e sua coragem é uma inspiração para aqueles que acreditam na força da humanidade, mesmo em seus momentos mais sombrios.

Paul Rusesabagina simboliza a resistência à brutalidade e o poder do indivíduo para fazer a diferença. Sua história é um lembrete de que, em meio à destruição, atos de humanidade e coragem podem salvar vidas e preservar a dignidade daquilo que nos torna humanos.

Raoul Wallenberg: Um Herói da Humanidade na Segunda Guerra Mundial

Raoul Wallenberg, um arquiteto, diplomata e humanitário sueco, gravou seu nome na história durante um dos períodos mais sombrios do século XX — a Segunda Guerra Mundial. Reconhecido por sua coragem e sua incansável luta contra a perseguição nazista, Wallenberg tornou-se um símbolo de esperança para dezenas de milhares de judeus vivendo sob a ameaça da aniquilação sistemática na Hungria. Sua história excepcional de bravura e compaixão oferece uma lição inspiradora sobre o poder da ação individual diante de horrores inimagináveis.

Nascido em 4 de agosto de 1912, em Estocolmo, Suécia, Wallenberg veio de uma família distinta de banqueiros e diplomatas. Apesar de sua educação privilegiada, ele permaneceu profundamente empático em relação aos necessitados. Depois de estudar arquitetura nos Estados Unidos, na Universidade de Michigan, ele começou a trabalhar no comércio internacional. Essa trajetória o expôs a diferentes culturas, idiomas e, de forma crucial, à crescente opressão contra os judeus na Europa ocupada pelos nazistas.

Em 1944, a Hungria tornou-se um dos principais focos do Holocausto. Forças alemãs ocuparam o país e iniciaram a deportação sistemática da população judaica para campos de concentração, especialmente Auschwitz. Ciente da situação desesperadora, Wallenberg, com apenas 32 anos, foi recrutado pelo Ministério das Relações Exteriores da Suécia, em colaboração com o War Refugee Board dos Estados Unidos, para embarcar em uma missão perigosa a Budapeste. Seu objetivo era claro, mas monumental: salvar o maior número possível de judeus da deportação e da morte certa.

Em Budapeste, Wallenberg elaborou e empregou estratégias engenhosas para salvar vidas. Uma de suas iniciativas mais famosas foi a criação de “passaportes de proteção” (Schutz-Pässe), que identificavam os judeus húngaros como cidadãos suecos sob a proteção da Suécia neutra. Esses documentos, adornados com o brasão de armas sueco, frequentemente conseguiam frustrar deportações e proteger indivíduos das forças nazistas e fascistas húngaras.

No entanto, o heroísmo de Wallenberg não se limitava à emissão de documentos. Ele também estabeleceu casas seguras sob proteção diplomática sueca por toda Budapeste. Esses abrigos ofereciam segurança a milhares de famílias judias, além de fornecer alimentos e assistência médica.

Os confrontos diretos de Wallenberg com oficiais nazistas tornaram-se lendários. Demonstrando uma coragem extraordinária, ele frequentemente ia até estações de trem onde os judeus estavam sendo embarcados em trens da morte, rumo a Auschwitz. Munido apenas de seu status diplomático e sua determinação inabalável, ele intervinha pessoalmente, retirando indivíduos e famílias dos trens, alegando que eram cidadãos suecos. Essas ações ousadas eram realizadas a um risco pessoal gigantesco.

Wallenberg é creditado por ter salvado diretamente cerca de 20.000 judeus e desempenhado um papel crucial na proteção de até 100.000 judeus durante os caóticos meses finais da guerra na Hungria. Em uma época em que o medo e a indiferença paralisavam muitos, os atos de coragem de Wallenberg foram um testemunho do poder da integridade e da humanidade.

Tragicamente, a história de Wallenberg não teve um final feliz. Em janeiro de 1945, enquanto as forças soviéticas libertavam Budapeste, Wallenberg foi preso pelo Exército Vermelho sob suspeita de espionagem. Ele desapareceu no sistema prisional soviético, e seu destino final permanece um mistério. Apesar de diversas investigações, as circunstâncias exatas de sua morte nunca foram esclarecidas.

O legado de Raoul Wallenberg permanece como um símbolo de coragem moral, resiliência e humanidade diante do mal indescritível. Nações ao redor do mundo o homenagearam, e ele foi declarado “Justo Entre as Nações” pelo Yad Vashem, por seus extraordinários esforços para salvar vidas judaicas. Ruas, monumentos e instituições em todo o globo carregam seu nome, garantindo que sua história nunca seja esquecida.

A história de Wallenberg ensina uma lição inestimável: mesmo nos momentos mais sombrios da história, uma pessoa, armada com coragem e compaixão, pode fazer uma diferença monumental. Ao refletir sobre os horrores do Holocausto, as ações de Raoul Wallenberg nos lembram do poder — e da responsabilidade — do espírito humano de se levantar contra a injustiça.

Aristides de Sousa Mendes: O Cônsul da Consciência

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches (1885–1954) foi um herói humanitário português que, durante a Segunda Guerra Mundial, desafiou as ordens do governo de seu país e arriscou sua carreira, reputação e até mesmo o bem-estar de sua família para salvar milhares de refugiados, incluindo muitos judeus, da perseguição nazista.

Durante o final dos anos 1930 e início da década de 1940, Portugal, sob o regime autoritário de António de Oliveira Salazar, manteve-se oficialmente neutro na guerra.

Essa neutralidade, no entanto, veio acompanhada de severas restrições à entrada de refugiados no país.

O governo português emitiu a famosa “Circular 14”, uma ordem que instruía os diplomatas a não concederem vistos a “estrangeiros de nacionalidade indefinida ou contestada,” especialmente judeus que fugiam do regime nazista.

Sousa Mendes, então cônsul de Portugal em Bordéus, na França, foi diretamente impactado por essas regras, sendo pressionado a negá-los, mesmo frente ao desespero daqueles que buscavam abrigo.

Em junho de 1940, quando as tropas nazistas avançavam pela França, Bordéus tornou-se um ponto crucial de fuga, com milhares de refugiados desesperados lotando consulados em busca de documentos que os permitissem escapar.

Sousa Mendes, testemunhando as condições terríveis e as histórias de sofrimento, decidiu que seguir sua consciência era mais importante do que obedecer às ordens do governo de Salazar.

Ele afirmou: “Prefiro estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus.”

Em um ato de desobediência heroica, Sousa Mendes passou dias e noites emitindo vistos para refugiados de todas as nacionalidades, credos e origens.

Estima-se que ele tenha concedido cerca de 30.000 vistos, dos quais aproximadamente 10.000 foram para judeus que, de outra forma, poderiam ter sido deportados para campos de concentração.

O trabalho de Sousa Mendes foi extremamente arriscado.

Ele contava com as mãos e a ajuda de sua família e de voluntários para carimbar e assinar os documentos o mais rápido possível, enquanto as autoridades portuguesas pressionavam para que ele interrompesse a prática.

Desafiando todos os protocolos, ele inclusive ajudou refugiados a navegar para a fronteira espanhola, arriscando sua própria segurança.

Quando a notícia de seus atos chegou a Lisboa, o governo de Salazar reagiu rapidamente.

Sousa Mendes foi chamado de volta a Portugal e enfrentou duras punições.

Ele foi destituído de seu cargo, aposentado compulsoriamente e privado de sua pensão.

Com sua reputação manchada, passou o restante da vida em grande pobreza, dependendo da ajuda de parentes e amigos.

Ele nunca recuperou totalmente sua posição ou recebeu reconhecimento oficial enquanto estava vivo.

Embora tenha morrido em 1954 sem o devido reconhecimento de seus atos heroicos, o legado de Aristides de Sousa Mendes começou a emergir nas décadas seguintes.

Ele foi reconhecido por “Yad Vashem”, em Israel, como um dos “Justos entre as Nações” em 1966, um título concedido a não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto.

Em Portugal, seu legado foi reabilitado gradualmente.

Em 1988, o governo português anulou oficialmente as sanções contra ele, e em 1995, Sousa Mendes recebeu postumamente a “Ordem da Liberdade”, uma das maiores honrarias do país.

Sua casa em Cabanas de Viriato foi transformada em um museu para preservar sua memória e espalhar sua mensagem de humanidade e coragem.

A história de Aristides de Sousa Mendes não é apenas um relato de heroísmo, mas também uma lição poderosa sobre ética e consciência em tempos de crise.

Ele mostrou que um único indivíduo, guiado por princípios morais inabaláveis, pode desafiar a opressão e fazer uma diferença significativa na vida de milhares de pessoas.

Sua coragem e sacrifício permanecem como um testemunho do impacto que a compaixão pode ter, mesmo quando o custo pessoal é incrivelmente alto.

Aristides de Sousa Mendes é lembrado hoje como um dos grandes heróis da Segunda Guerra Mundial e uma figura que inspira gerações a seguir a voz da empatia e da justiça — não importa o quão difíceis sejam as circunstâncias.

A História do “Schindler Britânico” e sua Missão Para Salvar Vidas

Nicholas Winton foi um humanitário e corretor da bolsa britânico que ficou conhecido como o “Schindler Britânico” por suas ações heroicas durante os primeiros estágios da Segunda Guerra Mundial.

Nascido em 19 de maio de 1909, em West Hampstead, Londres, de pais judeus que emigraram da Alemanha, Winton cresceu com um forte senso de responsabilidade social.

Em dezembro de 1938, aos 29 anos, Winton estava se preparando para uma viagem de esqui na Suíça quando recebeu um telefonema de seu amigo Martin Blake, pedindo-lhe para visitar Praga.

Blake queria que Winton visse a grave situação dos refugiados que fugiam do regime nazista na Tchecoslováquia após a anexação da região dos Sudetos pela Alemanha.

Comovido pelo que testemunhou, Winton decidiu agir para ajudar crianças judias que corriam o risco de se tornarem vítimas da perseguição nazista.
Ele começou a organizar esforços para transportar crianças da Tchecoslováquia para a segurança no Reino Unido.

Essa iniciativa ficou conhecida como a Kindertransport Tcheca. Winton trabalhou incansavelmente em um quarto de hotel em Praga, onde montou um escritório improvisado.

Ele compilou listas de crianças em necessidade, comunicou-se com autoridades britânicas e negociou com a Gestapo para a partida segura dessas crianças – uma tarefa imensamente complexa e perigosa, à medida que as tensões aumentavam na Europa.

Winton enfrentou grandes obstáculos. Ele precisou obter vistos, arrecadar fundos para as despesas de viagem e convencer as autoridades britânicas a permitir que crianças refugiadas entrassem no país em um momento em que as políticas de imigração eram altamente restritivas.

Notavelmente, ele conseguiu apoio de vários aliados, incluindo voluntários que ajudaram a processar a papelada e famílias no Reino Unido que concordaram em acolher as crianças resgatadas.

Ele também organizou o transporte por trem através da Alemanha e dos Países Baixos, atravessando o Canal da Mancha para levar as crianças à segurança.
Entre março e setembro de 1939, Nicholas Winton e sua equipe conseguiram resgatar 669 crianças, a maioria delas judias, organizando a saída de oito trens de Praga.

A Kindertransport representou uma esperança em meio a um dos períodos mais sombrios da história. Tragicamente, um nono trem com 250 crianças estava programado para partir em 1º de setembro de 1939, mas sua viagem foi cancelada devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Essas crianças ficaram para trás e acredita-se que tenham perecido em campos de concentração.

Por décadas, os feitos extraordinários de Winton permaneceram em grande parte desconhecidos, até mesmo por sua própria família. Seu trabalho humanitário veio à tona em 1988, quando sua esposa, Grete, descobriu um antigo álbum de recortes no sótão, contendo listas das crianças que ele havia salvado, junto com fotos e registros delas. Isso levou ao reconhecimento mundial de seu heroísmo.
Winton apareceu em um programa da BBC, onde foi reunido com algumas das crianças – agora adultas – cujas vidas ele salvou. O momento emocionante consolidou seu legado e apresentou sua história ao mundo.

Ao longo de sua vida, Sir Nicholas Winton permaneceu humilde em relação às suas realizações, frequentemente dizendo que apenas “viu um problema e tentou resolvê-lo.” Ele recebeu inúmeras honrarias por seu trabalho, incluindo o título de cavaleiro concedido pela Rainha Elizabeth II em 2003 e a Ordem do Leão Branco da República Tcheca em 2014.

Apesar disso, ele continuou a defender causas humanitárias e a inspirar novas gerações com seu exemplo de coragem e compaixão. Nicholas Winton faleceu em 1º de julho de 2015, aos 106 anos, deixando um legado de esperança, humanidade e dever moral. Sua história serve como um lembrete poderoso de que as ações de um único indivíduo, movido por compaixão e determinação, podem fazer uma diferença profunda na vida de inúmeras pessoas.

Ouça, por favor!

Quando peço para você me ouvir e você começa a me dar conselhos, não está fazendo o que eu pedi.

Quando peço para você me ouvir e você começa a me dizer por que eu não deveria me sentir assim, está ferindo meus sentimentos.

Quando peço para você me ouvir e você acha que precisa fazer alguma coisa para resolver o meu problema, você não me ajudou, por mais estranho que pareça.

Não fale nem faça – apenas ouça.

Conselhos são baratos. Com pouco dinheiro, você compra uma revista, um jornal ou um livro cheios de conselhos. E isso eu posso fazer por conta própria. Não sou incapaz.

Talvez me desanime e hesite com frequência, mas não sou incapaz.

Quando você faz por mim alguma coisa que eu posso e preciso fazer por conta própria, você contribui para o meu medo e a minha insegurança.

Mas, quando você aceita como um fato natural que eu sinta o que sinto, por mais irracional que seja, aí eu não preciso me preocupar em convencer você e posso entender o que está por trás desse sentimento irracional.

E, quando isso estiver claro, as respostas serão óbvias e não precisarei de conselhos.

Sentimentos irracionais fazem sentido quando entendemos o que está por trás deles.

Talvez seja por isso que rezar funciona às vezes para algumas pessoas – porque Deus é mudo e não dá conselhos, nem tenta consertar as coisas. Deus apenas ouve e deixa você descobrir as coisas por conta própria.

Então, por favor, apenas ouça, apenas ouça.

E se quiser falar, espere um pouco a sua vez – e eu ouvirei você.

As palavras

Quantas vezes, ao longo da vida, observamos as bênçãos e os estragos causados por uma palavra.

Palavras o vento leva – diz o provérbio popular.

Mas nem sempre é assim. Há palavras que dificilmente conseguimos esquecer.

Muitas vezes, as palavras transmitem a gratidão de que está plena nossa alma. Então, elas tomam a forma de doces expressões.

Em outras ocasiões, elas servem para demonstrar o desgosto que nutrimos. Tornam-se amargas como o fel.

Há momentos em que as palavras são encorajadoras, leves, repletas de luz. São a manifestação da amizade e do amor.

Em outros momentos, elas são como ácido: agridem os que as ouvem.

São tristes e dolorosas. Nesse instante, são as condutoras do desencanto e da infelicidade.

Sobre a natureza das palavras há uma reflexão a fazer: elas são a expressão daquilo que carregamos na alma.

Foi o próprio Jesus quem advertiu: Os lábios falam daquilo que está cheio o coração. Que grande verdade!

As palavras apenas traduzem o que ocorre dentro de nós.

Se acalentamos mágoa, desejo de vingança, revolta, ódio e dor, nossos lábios se abrirão para deixar sair uma torrente de palavras rudes.

E quem nos ouvir entenderá que trazemos o coração obscurecido por sentimentos doentios.

Haverá, inclusive, quem passe a nos evitar, a fim de não ter contato com essa descarga de mau humor ou de depressão.

Por outro lado, se nos expressamos mediante palavras de engrandecimento, bem-estar, alegria e paz, nossa boca se tornará instrumento da esperança e da fraternidade.

E quem nos ouvir deduzirá que trazemos a alma clara, iluminada por sentimentos saudáveis.

Haverá até quem nos procure, para ter contato com a torrente de otimismo e serenidade que deixamos escapar dos lábios.

É bem verdade que passamos a maior parte do tempo alternando entre momentos risonhos e os de raiva ou tristeza.

Por isso, o nosso desafio diário é tornar cada vez mais freqüentes os estados de ânimo felizes.

Nossa tarefa é nos educar para que nossos lábios sejam instrumentos do bem que habita em nós.

É essencial moderar a língua, medir as palavras, pensar antes de falar.

Melhor ainda: é imprescindível educar os sentimentos, disciplinar a mente, ser firme no combate ao desejo por reclamações, fofocas e comentários ferinos.

Somos Espíritos imortais, responsáveis pelo impacto de nossas palavras, pensamentos e atitudes.

Responderemos a Deus e à nossa consciência, por todas as palavras ferinas que dirigirmos aos outros.

Sim, pois as palavras têm força e podem causar tremendos impactos sobre a vida alheia. Que este impacto seja, então, positivo.

Que cada uma de nossas palavras seja de estímulo, amizade, fraternidade, pacificação.

Mesmo quando discordarmos, sejamos moderados, prudentes e bondosos.

Não esqueçamos: sempre há um sabor para pôr nas palavras: a doçura do mel ou o amargor do fel.

A escolha é inteiramente de cada um.

Redação do Momento Espírita

Um sorriso

Um sorriso não custa nada e rende muito.

Enriquece quem o recebe e não empobrece quem dá.

Dura somente um instante mas sua recordação é eterna.

Ninguém é tão rico que possa dispensar.

Ninguém é tão pobre que não possa dar.

Cria felicidade no lar.

É sustento no trabalho.

Sinal visível de uma amizade profunda.

Um sorriso representa repouso no cansaço, coragem no desânimo, consolo na tristeza e alívio na angústia.

É um bem que não se pode comprar, nem emprestar, nem roubar porque só tem valor no instante que se dá.

Mas se encontrar alguém que recusa um sorriso, seja generoso em dar.

O Jovem Médico e o Paciente Inesperado

Antes de se tornar político, Juscelino sonhava em ser médico. Formou-se pela Faculdade de Medicina de Minas Gerais em 1927 e iniciou sua carreira com grande dedicação. Imagine o jovem JK, recém-formado, trabalhando com afinco e idealismo.

Uma noite, já tarde, Juscelino estava de plantão em um hospital em Belo Horizonte. A rotina era exaustiva, mas ele se entregava de corpo e alma a cada caso. De repente, a porta do pronto-socorro se abriu com um estrondo e um homem foi trazido às pressas, sangrando muito, vítima de um grave acidente. A situação era crítica, e a equipe médica rapidamente se mobilizou.

Juscelino, com a calma que se tornaria uma de suas marcas, assumiu o caso. Ele sabia que cada segundo contava. Com a experiência ainda limitada, mas com uma intuição aguçada e um pulso firme, ele realizou os procedimentos necessários para estancar a hemorragia e estabilizar o paciente. A cirurgia foi longa e delicada, e o jovem médico demonstrou uma perícia impressionante para alguém tão no início de sua carreira.

Após horas de tensão, o homem foi salvo. Juscelino sentiu um alívio imenso, a sensação de dever cumprido que só a medicina pode proporcionar. No dia seguinte, quando o paciente já estava fora de perigo, o médico foi visitá-lo. Foi então que uma surpresa o aguardava.

O homem, ainda fraco, olhou para Juscelino com gratidão nos olhos e se apresentou: “Sou o jornalista Carlos de Lacerda“. Aquele nome, na época, significava pouco para o jovem médico. Mal sabia Juscelino que, anos mais tarde, Carlos de Lacerda se tornaria um de seus mais ferrenhos adversários políticos, opondo-se veementemente à construção de Brasília e a muitas de suas políticas.

O Destino Inesperado da Política

Essa história, contada por amigos e biógrafos de JK, é fascinante por vários motivos. Primeiro, ela ilustra a vocação genuína de Juscelino para a medicina e sua dedicação em salvar vidas, algo que ele levou consigo para a política: a ideia de “curar” o país de seus males e levá-lo ao progresso.

Em segundo lugar, e talvez o mais intrigante, é o encontro inusitado com seu futuro antagonista. Quem diria que o paciente que teve sua vida salva pelas mãos do jovem médico seria, anos depois, o grande crítico de seu governo? Esse episódio revela as reviravoltas da vida e como as relações humanas, mesmo as mais improváveis, podem se desenvolver de maneiras inesperadas.

Essa história pessoal de Juscelino, que poderia ter sido apenas mais um dia na vida de um médico, se tornou um prelúdio irônico para os complexos caminhos que o destino o levaria a trilhar na política brasileira. Ele salvou a vida de um homem que, mais tarde, tentaria, figurativamente, impedir o “salvamento” de seu projeto mais ambicioso: a construção de uma nova capital.

A Fascinante Jornada da Palavra “Algoritmo”: Das Areias da Pérsia à Era Digital

A palavra “algoritmo”, tão fundamental no mundo da computação, matemática e até mesmo em nosso cotidiano digital, carrega consigo uma história rica e fascinante, que nos transporta para a Idade de Ouro Islâmica e homenageia um dos maiores intelectos da época.

Sua origem não está em uma fórmula matemática abstrata, mas sim no nome de um homem notável: Abū Jaʿfar Muḥammad ibn Mūsā al-Khwārizmī.

Quem foi Al-Khwārizmī? Um Polímata da Casa da Sabedoria

Nascido por volta de 780 d.C. na região da Corásmia (Khwārizm) – atualmente parte do Uzbequistão e Turcomenistão –, al-Khwārizmī foi um matemático, astrônomo, geógrafo e erudito persa de immense influência.

Ele atuou como um dos principais estudiosos na lendária Casa da Sabedoria (Bayt al-Ḥikmah) em Bagdá, um vibrante centro intelectual estabelecido pelo califa abássida Al-Ma’mun.

Esta academia reunia e traduzia o conhecimento de civilizações como a grega, indiana e persa, tornando-se um farol do saber mundial.

Al-Khwārizmī não foi apenas um compilador de conhecimentos; ele os expandiu e os tornou acessíveis.

Duas de suas obras tiveram um impacto particularmente profundo e duradouro no Ocidente:

“Al-Kitāb al-mukhtaṣar fī ḥisāb al-jabr waʾl-muqābala” (O Livro Compendioso sobre Cálculo por Transposição e Redução): Publicado por volta de 820 d.C., este tratado é considerado um dos textos fundadores da álgebra.

De fato, a própria palavra “álgebra” deriva de “al-jabr”, um dos dois métodos que ele usou para resolver equações quadráticas e lineares.

Sua abordagem sistemática e prática para resolver problemas algébricos revolucionou o campo.

“Kitāb al-Jamʿ wa-l-tafrīq bi-ḥisāb al-Hind” (Livro sobre Adição e Subtração segundo o Método Indiano): Nesta obra, al-Khwārizmī descreveu e popularizou o sistema de numeração decimal hindu, que incluía o conceito revolucionário do zero como um marcador de posição.

Este sistema, hoje conhecido como indo-arábico, era imensamente superior aos sistemas numéricos usados na Europa na época, como os algarismos romanos, que eram pouco práticos para cálculos complexos.

A Latinização e o Nascimento de “Algorismus”

Quando os trabalhos de al-Khwārizmī começaram a ser traduzidos para o latim na Europa, a partir do século XII, seu nome passou por um processo de adaptação fonética.

“Al-Khwārizmī” – que significa “o [nativo] da Corásmia” – foi transformado em “Algorismus” ou “Algorithmus”.

Inicialmente, “Algorismus” não se referia a um procedimento genérico, mas sim ao método de cálculo utilizando os novos numerais indianos que al-Khwārizmī havia tão claramente elucidado.

Aprender “algorismus” significava aprender a fazer aritmética (adição, subtração, multiplicação, divisão) com esses novos e eficientes algarismos, incluindo o zero.

Era um sinônimo para a nova aritmética decimal.

A Evolução do Significado: De Números a Procedimentos

Com o passar dos séculos, à medida que o sistema indo-arábico se consolidava e se tornava o padrão na Europa, o termo “algorismus” (e suas variantes) começou a perder sua associação exclusiva com os numerais.

A ênfase deslocou-se da ferramenta (os números) para o processo sistemático e passo a passo descrito por al-Khwārizmī para realizar os cálculos.

Assim, gradualmente, “algoritmo” passou a designar qualquer sequência finita, bem definida e não ambígua de operações ou instruções lógicas, projetada para resolver um problema específico ou realizar uma tarefa.

Esta definição mais ampla é a que conhecemos e utilizamos hoje, não apenas na matemática e ciência da computação (onde é a espinha dorsal da programação de software), mas em diversas outras áreas que exigem processos sistemáticos.

Um Legado Duplo: Algoritmo e Algarismo

É um fato interessante e revelador que a palavra “algarismo”, utilizada para designar os próprios símbolos numéricos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), também tem sua origem no nome de al-Khwārizmī.

Isso sublinha a profunda conexão entre o homem, o sistema numérico que ele ajudou a disseminar e o conceito de procedimento de cálculo que hoje leva seu nome adaptado.

Portanto, toda vez que usamos a palavra “algoritmo”, estamos, mesmo que inconscientemente, prestando uma homenagem a Muḥammad ibn Mūsā al-Khwārizmī, o sábio persa cujos trabalhos não apenas transformaram a matemática, mas também lançaram as bases conceituais para a era da informação em que vivemos.

Sua clareza em descrever processos complexos de forma sistemática é a essência do que um algoritmo representa.

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