Categoria: Histórias (Page 101 of 110)

Milho Bom

Esta é a história de um fazendeiro que venceu o prêmio “milho-crescido”.

Todo ano ele entrava com seu milho na feira e ganhava o maior prêmio.

Uma vez um repórter de jornal o entrevistou e aprendeu algo interessante sobre como ele cultivou o milho.

O repórter descobriu que o fazendeiro compartilhava a semente do milho dele com seus vizinhos.

— Como pode você se dispor a compartilhar sua melhor semente de milho com seus vizinhos quando eles estão competindo com o seu em cada ano? perguntou o repórter.

— Por que? – disse o fazendeiro

— Você não sabe? O vento apanha pólen do milho maduro e o leva através do vento de campo para campo. Se meu vizinhos cultivam milho inferior, a polinização degradará continuamente a qualidade de meu milho. Se eu for cultivar milho bom, eu tenho que ajudar meu vizinhos a cultivar milho bom.

Ele era atento às conectividades da vida.

O milho dele não pode melhorar a menos que o milho do vizinho também melhore.

Assim é também em outras dimensões.

Aqueles que escolhem estar em paz devem fazer com que seus vizinhos estejam em paz.

Aqueles que querem viver bem têm que ajudar os outros para que vivam bem.

E aqueles que querem ser felizes têm que ajudar os outros a achar a felicidade, pois o bem-estar de cada um está ligado ao bem-estar de todos.

A lição para cada um de nós se formos cultivar milho bom, nós temos que ajudar nossos vizinhos a cultivar milho bom.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

Meus Amigos…

Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso só sendo louco. Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e a alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria.

Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e a outra metade velhice. Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

Mercado de trabalho

Comentário de Max Gheringer – Rádio CBN, entrevista com o famoso Reynold Remhn

Pergunto: Ainda é possível ser feliz num mundo tão competitivo?

Resposta: Quanto mais conhecimento conseguimos acumular, mais entendemos que ainda falta muito para aprendermos. É por isso que sofremos. Trabalhar em excesso é como perseguir o vento. A felicidade só existe para quem souber aproveitar agora os frutos do seu trabalho.

Segunda pergunta: O profissional do futuro será um individualista? Resposta: Pelo contrário. O azar será de quem ficar sozinho, porque se cair, não terá ninguém para ajudá- lo a levantar-se.

Terceira pergunta: Que conselho o Sr. dá aos jovens que estão entrando no mercado de trabalho? Resposta: É melhor ser criticado pelos sábios do que ser elogiado pelos insensatos. Elogios vazios são como gravetos atirados em uma fogueira.

Quarta pergunta: E para os funcionários que tem Chefes centralizadores e perversos? Reposta: Muitas vezes os justos são tratados pela cartilha dos injustos, mas isso passa. Por mais poderoso que alguém pareça ser, essa pessoa ainda será incapaz de dominar a própria respiração.

Última pergunta: O que é exatamente sucesso?

Resposta: É o sono gostoso. Se a fartura do rico não o deixa dormir, ele estará acumulando, ao mesmo tempo, sua riqueza e sua desgraça.

Belas e sábias respostas. Eu só queria me desculpar pelo fato de que não existe nenhum Reynold Remhn. Eu o inventei. Todas as respostas, embora extremamente atuais, foram retiradas de um livro escrito a 2300 anos: o ECLESIASTES da Bíblia. Mas, se eu digo isso logo no começo, muita gente, talvez, nem tivesse interesse em continuar ouvindo.

Medidas para sapato

Cris Lacerda

Um filósofo chinês, Hanfeitse, escreveu a parábola Medida para Sapatos que expressa muito bem o que vem predominando hoje em dia, a falta de confiança em si mesmo.

Certo homem de Cheng ia comprar um novo par de sapato. Primeiro tomou as medidas dos pés, e deixou-as na cadeira.

Quando foi para a rua, esqueceu-se de levá-las, e depois de entrar numa sapataria, disse consigo mesmo: Oh, esqueci-me de trazer as medidas e tenho de voltar para buscá-las . E assim o fez.

Mas, ao regressar, a loja já estava fechada e ele deixou de comprar os sapatos.

Ao ver a decepção do homem, um transeunte inquiriu o que havia sucedido e ele explicou.

— Por que não fizeste provar os sapatos mesmos nos pés?

Cheng respondeu: – Eu confiava mais nas medidas que em mim mesmo.

Muitos de nós perdemos a originalidade e até a essência por confiar mais no gosto alheio. Deixamos de ser nós mesmos para ser igual a fulano ou beltrano, deixamos de lado tantas coisas só para não demonstrar que somos assim ou assado e passamos imitar os outros, creditando-lhes a nossa própria personalidade.

Gente, cada um é único e traz consigo uma bagagem de vivências, que torna singular e por mais que haja dissimulação no sentido de copiar os outros, de tentar passar uma realidade camuflada que não é a nossa, jamais deixaremos de ser quem somos e nossa marca registrada deve ser coerente conosco.

Lembremo-nos sempre que nossas sombras são projetadas e elas são fiéis ao nosso corpo.

Mau humor

Lula Vieira – publicitário

Não me lembro direito, mas li numa revista, acho que na Carta Capital, um artigo levantando a hipótese de que todo o cara que tem mania de fazer aspas com os dedinhos quando faz uma ironia é um chato. Num outro artigo alguém escreveu que achava que jamais tinha conhecido um restaurante de boa comida com garçons vestidos de coletinho vermelho. Joaquim Ferreira dos Santos, em “O Globo” de domingo, fala do seu profundo preconceito com quem usa “agregar valor”. Eu posso jurar que toda mulher que anda permanentemente com uma garrafinha de água e fica mamando de segundo em segundo é uma chata. São preconceitos, eu sei. Mas cada vez mais a vida está confirmando estas conclusões.

Um outro amigo meu jura que um dos maiores indícios de babaquice é usar o paletó nos ombros, sem os braços nas mangas. Por incrível que pareça, não consegui desmentir. Pode ser coincidência, mas até agora todo cara que eu me lembro de ter visto usando o paletó colocado sobre os ombros é muito babaca.

Já que estamos nessa onda, me responda uma coisa: você conhece algum natureba radical que tenha conversa agradável? O sujeito ou sujeita que adora uma granola, só come coisas orgânicas, faz cara de nojo à simples menção da palavra “carne”, fica falando o tempo todo em vida saudável é seu ideal como companhia numa madrugada? Sei lá, não sei. Não consigo me lembrar de ninguém assim que tenha me despertado muita paixão.

Eu ando detestando certos vícios de linguagem, do tipo “chegar junto”, “superar limites”, essas bobagens que lembram papo de concorrente a big brother. Mais uma vez, repito: acho puro preconceito, idiossincrasia, mas essa rotulagem imediata é uma mania que a gente vai adquirindo pela vida e que pode explicar algumas antipatias gratuitas.

Tem gente que a gente não gosta logo de saída, sem saber direito por quê. Vai ver que transmite algum sintoma de chatice. Tom de voz de operador de telemarketing lendo o script na tela do computador e repetindo a cada cinco palavras a expressão “senhoooorrr” me irrita profundamente.

Se algum dia eu matar alguém, existe imensa possibilidade de ser um flanelinha. Não posso ver um deles que o sangue sobe à cabeça. Deus que me perdoe, me livre e me guarde, mas tenho raiva menor do assaltante do que do cara que fica na frente do meu carro fazendo gestos desesperados tentando me ajudar em alguma manobra, como se tivesse comprado a rua e tivesse todo o direito de me cobrar pela vaga.

Sei que estou ficando velho e ranzinza, mas o que se há de fazer? Não suporto especialista em motivação de pessoal que obrigue as pessoas a pagarem o mico de ficar segurando na mão do vizinho, com os olhos fechados e tentando receber “energia positiva”.

Aliás, tenho convicção de que empresa que paga bons salários e tem uma boa e honesta política de pessoal não precisa contratar palestras de motivação para seus empregados. Eles se motivam com a grana no fim do mês e com a satisfação de trabalhar numa boa empresa.

Que me perdoem todos os palestrantes que estão ficando ricos percorrendo o país, mas eu acho que esse negócio de trocar fluidos me lembra putaria. E para terminar: existe qualquer esperança de encontrar vida inteligente numa criatura que se despede mandando “um beijo no coração”?

Mágoa

Mágoa é algo que não se deve ter em lugar nenhum, muito menos no coração! E tem pessoas que fazem do seu organismo um depósito de mágoa, como quem armazena ressentimento para consumo diário.

De uma coisa tenha certeza: quem tem algo contra alguém, não conseguirá ser plenamente feliz!

Mães más

Um dia quando o meu filho for crescido o suficiente para entender a lógica que motiva um pai, eu hei de dizer-lhe:

Eu te amei o suficiente para ter perguntado: onde vais, com quem vais, e a que horas regressarás a casa.

Eu te amei o suficiente para ter insistido que juntasses o teu dinheiro e comprasses uma bicicleta para ti, mesmo que eu tenha tido hipótese de comprá-la para ti.

Eu te amei o suficiente para ter ficado em silêncio e deixar-te descobrir que o teu novo amigo não era boa companhia.

Eu te amei o suficiente para te fazer pagar a bala que tiraste da mercearia, e dizeres ao senhor: “Eu peguei isto ontem e queria pagar”.

Eu te amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de ti 2 horas, enquanto limpavas o teu quarto; tarefa que eu teria realizado em 15 minutos.

Eu te amei o suficiente para te deixar ver: fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos.

Eu te amei o suficiente para te deixar assumir a responsabilidade das tuas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo eu te amei o suficiente para te dizer não quando eu sabia que me irias odiar por isso. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.

Estou contente, venci, porque no final vocês venceram também.

E qualquer dia, quando os teus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais, tu vais lhes dizer quando eles te perguntarem se a tua mãe era má… “que sim, era má, era a mãe mais má do mundo”.

As outras crianças comiam doces pela manhã,mas nós tinhamos de comer cereais, ovos e torradas.

As outras crianças ao almoço bebiam Pepsi e comiam batatas fritas, mas nós tínhamos de comer carne, legumes e frutas.

E, não vais acreditar, a nossa mãe obrigava-nos a jantar à mesa, bem diferente das outras mães também.

A nossa mãe insistia em saber onde nós estávamos a todas as horas. Era quase uma prisão.

Ela tinha de saber quem eram os nossos amigos, e o que nós fazíamos com eles.

Ela insistia que lhe disséssemos que íamos sair por uma hora, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.

Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis de trabalho infantil. Nós tínhamos de lavar a louça, fazer nossas camas, lavar nossa roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis.

Eu acho que ela nem dormia à noite a pensar em coisas para nos mandar fazer.

Ela insistia sempre conosco para lhe dizermos a verdade, e apenas a verdade. Na altura em que éramos adolescentes, ela conseguia ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata.

A mãe não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para nós descermos.Tinham de subir, bater à porta para ela os conhecer.

Enquanto toda a gente podia sair à noite com 12, 13 anos, nós tivemos de esperar pelos 16.

Por causa da nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência. Nenhum de nós, nenhuma vez esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos ou advertidos por crime nenhum. Foi tudo por causa dela.

Agora que já saímos de casa, nós somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor, para sermos “maus pais”, tal como a nossa mãe foi.

Eu acho que este é um das males do mundo de hoje: Não há suficientes Mães Más.

Colaboração de Wilma Santiago

Livro da Vida

As páginas da vida são Cheias de surpresas…
Há capítulos de alegria, mas também de tristezas,
Há mistérios e fantasias,sofrimentos e decepções…
Por isso, não rasgue páginas e nem solte capítulos,
Não se apresse a descobrir os mistérios.
Não perca as esperanças, Pois muitos são os finais felizes.
E nunca se esqueça do principal:
NO LIVRO DA VIDA, O AUTOR É VOCÊ!

Ler é para uma minoria?

Liberato Vieira da Cunha

Há muito adotei um costume que me aparenta vagamente com os ratos de biblioteca. Sou um devorador compulsivo de sopas de letrinhas, não importa se as de um romance, de um jornal, de um guia telefônico ou de um outdoor. Descubro agora espantado que um dos maiores escritores de nosso tempo considera que ler sempre foi e será sempre algo para uma minoria.

José Saramago declarou, para quem quisesse ouvir, que estimular o hábito da leitura é empresa inútil e não se pode exigir de ninguém que morra de paixão por ela. O Nobel português criticou um plano do governo socialista de seu país para incentivar a leitura entre as crianças, apesar de ser ele próprio membro de um comitê honorário que se dedica exatamente a estimular aquela prática desde a infância.

O autor de O Ano da Morte de Ricardo Reis é polêmico pela própria natureza. Desta vez, no entanto, parece que carregou na dose. Na Idade Média, ninguém lia, a não ser os monges copistas. Depois de Gutenberg, essa passou a ser a diversão de uma elite. Em nossos tempos, contudo, em que uma simples história de fantasia e suspense como O Código da Vinci vende 50 ou 60 milhões de exemplares, já não se pode dizer que a literatura, mesmo a dos best-sellers, seja mania exclusiva de um círculo de eleitos e muito menos que deva continuar assim.

Conheci na Alemanha um projeto, que nasceu tímido e hoje tornou-se multinacional, cujo único objetivo é aproximar meninos e meninas dos livros já no jardim de infância. O presidente de honra desse movimento é o presidente da RFA em pessoa. Não creio que Sua Excelência ou os milhares de voluntários devotados à mesma causa sejam lunáticos.

O Brasil não é nenhum espelho para o mundo nesse campo. Mas vale também para nós uma regrinha simples: aprende-se a gostar de ler quando se é criança ou nunca mais se contrai o agradável vício. Conheço pais que lêem para seus filhos à noite. Outros adotam a receita do exemplo: têm sempre um livro ao alcance da mão. Mas é do professor a grande missão de converter o testemunho do lar em um exercício para toda a vida.

José Saramago é um excelente ficcionista. Aqueles enormes óculos denunciam também um leitor impenitente. É por isso que acho que valem para ele as palavras de um de seus colegas, hoje gloriosamente jovem aos cem anos.

“O livro tem a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado”

  • falou e disse Mario Quintana.

Porto Alegre, 22 de agosto de 2006

Zero Hora, Edição nº 14973

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