Categoria: Histórias (Page 40 of 105)

Odeio Prepotência

Paloma Jorge Amado

Era 1998, estavamos em Paris, papai já bem doente participara da Feira do Livro de Paris e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saude se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o aviao da Varig (que saudades) para Salvador.

Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas. Empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais de 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um politico do Sul (nao lembro se na época era senador ou governador, já foi tantas vezes os dois, que fica dificil lembrar). A mulher parecia uma arvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (Calá, com sua graça, diria: o jegue da festa do Bonfim). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo. Me armei de paciência e respondi: Sim, senhora, eu sei. Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara, mas nao disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos. Eu só sorri. Terminei o check in e fui encontrar meus pais.

Pouco depois bateram à porta, era o casal querendo cumprimentar o escritor. Não mandei, às favas, apesar de desejar fazê-lo, mas educadamente disse não. Hoje, quando vi na tv o Senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, eteceteraetal, fiquei muito retada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar este triste episódio pelo qual passei. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas deste episódio, meus pais nunca souberam de nada?

(*) Paloma Jorge Amado é psicóloga. Define a sua preferência política desta forma. “Sou livre pensadora. Odeio tudo que é contra o povo, reacionário, retrógrado, preconceituoso. Se tivesse que escolher uma ala, escolheria a das Baianas.”

Colaboração de Wilma Santiago

O Corvo Cobiçoso

Era uma vez uma linda pomba que costumava viver em um ninho perto de uma cozinha.

Os cozinheiros gostavam muito dela e freqüentemente lhe davam grãos.

Ela gostava do lugar e tinha uma boa vida.

Um dia, um corvo viu a pomba e percebeu como ela estava recebendo ótimas refeições da cozinha.

Então, numa ocasião o corvo fez amizade com a pomba, e sob o pretexto de amizade, de alguma forma conseguiu fazer com que a pomba dividisse o seu ninho com ele.

A pomba então lhe disse que poderiam passar o tempo juntos discutindo política, religião, etc., mas que em se tratando de comida cada um teria seu meio próprio.

Dessa forma ela sugeriu que o corvo buscasse sua própria comida.

Mas o corvo estava impaciente e sua única razão para fazer amizade com a pomba era pela comida.

Ele queria carne e tudo o que a pomba ganhava da cozinha eram grãos.

Ela não podia esperar mais e finalmente decidiu visitar a cozinha diretamente para obter comida.

Assim pensando, ela furtivamente se arrastou pela chaminé abaixo e entrou na cozinha.

Ela sentiu o cheiro de um peixe temperado que estava numa panela.

Cobiçoso, ele adiantou-se e tentou pegar o peixe, porém ao fazer isto ele tropeçou numa concha de sopa e fez um barulho.

Isto alertou o cozinheiro que estava na sala vizinha e apanhou o corvo e o matou.

Moral da história :

A cobiça paralisa a Inteligência.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

O Cobrador

Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre, seguindo por uma longa estrada.

Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido.

Verificaram e descobriram, caído, um homem.

Estava pálido e com uma grande mancha de sangue, próximo ao coração.

O homem tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência.

Com muita dificuldade, mestre e discípulo carregaram o homem para o casebre rústico, onde trataram do ferimento.

Uma semana depois, já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora ferido por uma faca.

Disse que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse.

Disposto a partir, o homem disse ao sábio :

— Senhor, muito lhe agradeço por ter salvo minha vida. Tenho que partir e levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor que senti.

O mestre olhou fixo para o homem e disse :

— Vá e faça o que deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz.

O homem ficou assustado e disse :

— Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor !

— Se não podes pagar pelo bem que recebestes, com que direito queres cobrar o mal que lhe fizeram ?

O homem ficou confuso e o mestre concluiu :

— Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que te aconteçam nessa vida, pois essa vida pode lhe cobrar tudo que você deve. E com certeza você vai pagar muito mais caro.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

O Cirurgião e o Mecânico

Um mecânico está desmontando o cabeçote de uma moto quando vê na oficina um cirurgião cardiologista muito conhecido. Ele está olhando o mecânico trabalhar. O mecânico pára e pergunta:

— Hei, doutor, posso fazer uma pergunta pro senhor?

O cirurgião um tanto surpreso concorda e vai até a moto na qual o mecânico está trabalhando. O mecânico se levanta e começa:

— Doutor, olhe este motor. Eu abro seu coração, tiro válvulas, conserto-as, ponho-as de volta e fecho novamente e, quando eu termino, ele volta a trabalhar como se fosse novo. Por que é, então, que eu ganho tão pouco e o senhor ganha tanto se o nosso trabalho é praticamente o mesmo?

O cirurgião dá um sorriso, se inclina e fala baixinho ao mecânico:

— Tente fazer isso com o motor funcionando!

O Círculo da Tolerância

Um famoso senhor com poder de decisão, gritou com um diretor da sua empresa, porque estava com ódio naquele momento.

O diretor, chegando em casa, gritou com sua esposa, acusando-a de que estava gastando demais, porque havia um bom e farto almoço à mesa.

Sua esposa gritou com a empregada que quebrou um prato.

A empregada chutou o cachorrinho no qual tropeçara.

O cachorrinho saiu correndo, e mordeu uma senhora que ia passando pela rua, porque estava atrapalhando sua saída pelo portão.

Essa senhora foi à farmácia para tomar vacina e fazer um curativo, e gritou com o farmacêutico, porque a vacina doeu ao ser-lhe aplicada.

O farmacêutico, chegando à casa, gritou com sua mãe, porque o jantar não estava do seu agrado.

Sua mãe, tolerante, um manancial de amor e perdão, afagou-lhe seus cabelos e beijou-o na testa, dizendo-lhe :

“Filho querido, prometo-lhe que amanhã farei os seus doces favoritos. Você trabalha muito, está cansado e precisa de uma boa noite de sono. Vou trocar os lençóis da sua cama por outros bem limpinhos e cheirosos para que você descanse em paz. Amanhã você vai sentir-se melhor.”

E abençoou-o, retirando-se e deixando-o sozinho com os seus pensamentos.

Naquele momento, rompeu-se o círculo do ódio, porque esbarrou-se com a tolerância a doçura, o perdão e o amor.

Faça você o mesmo.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

O círculo da alegria

Conta Bruno Ferrero que, certo dia, um camponês bateu com força na porta de um convento. Quando o irmão porteiro abriu, ele lhe estendeu um magnífico cacho de uvas.

— Caro irmão porteiro, estas são as mais belas produzidas pelo meu vinhedo. E venho aqui para dá-las de presente.

— Obrigado! Vou leva-las imediatamente ao Abade, que ficará alegre com esta oferta.

— Não! Eu as trouxe para você.

— Para mim? – o irmão ficou vermelho, porque achava que não merecia tão belo presente da natureza.

— Sim! – insistiu o camponês. – Porque sempre que bati na porta, você abriu. Quando precisei de ajuda porque a colheita foi destruída pela seca, você me dava um pedaço de pão e um copo de vinho todos os dias. Eu quero que este cacho de uvas traga-lhe um pouco do amor do sol, da beleza da chuva, e do milagre de Deus, que o fez nascer tão belo.

O irmão porteiro colocou o cacho diante de si, e passou a manhã inteira a admira-lo: era realmente lindo. Por causa disso, resolveu entregar o presente ao Abade, que sempre o havia estimulado com palavras de sabedoria.

O Abade ficou muito contente com as uvas, mas lembro-se que havia no convento um irmão que estava doente, e pensou:

“Vou dar-lhe o cacho. Quem sabe, pode trazer alguma alegria à sua vida.”

E assim fez. Mas as uvas não ficaram muito tempo no quarto do irmão doente, porque este refletiu:

“O irmão cozinheiro tem cuidado de mim por tanto tempo, alimentando-me com o que há de melhor. Tenho certeza que se alegrará com isso.”

Quando o irmão cozinheiro apareceu na hora do almoço, trazendo sua refeição, ele entregou-lhe as uvas.

— São para você – disse o irmão doente. – Como sempre está em contacto com os produtos que a natureza nos oferece, saberá o que fazer com esta obra de Deus.

O irmão cozinheiro ficou deslumbrado com a beleza do cacho, e fez com que o seu ajudante reparasse a perfeição das uvas. Tão perfeitas, pensou ele, que ninguém para aprecia-las melhor que o irmão sacristão; como era ele o responsável pela guarda do Santíssimo Sacramento, e muitos no mosteiro o viam como um homem santo, seria capaz de valorizar melhor aquela maravilha da natureza.

O sacristão, por sua vez, deu as uvas de presente ao noviço mais jovem, de modo que este pudesse entender que a obra de Deus está nos menores detalhes da Criação.

Quando o noviço o recebeu, o seu coração encheu-se da Glória do Senhor, porque nunca tinha visto um cacho tão lindo. Na mesma hora lembrou-se da primeira vez que chegara ao mosteiro, e da pessoa que lhe tinha aberto a porta; fora este gesto que lhe permitira estar hoje naquela comunidade de pessoas que sabiam valorizar os milagres.

Assim, pouco antes do cair da noite, ele levou o cacho de uvas para o irmão porteiro.

— Coma e aproveite – disse. – Porque você passa a maior parte do tempo aqui sozinho, e estas uvas lhe farão muito feliz.

O irmão porteiro entendeu que aquele presente tinha lhe sido realmente destinado, saboreou cada uma das uvas daquele cacho, e dormiu feliz.

Desta maneira, o círculo foi fechado; o círculo de felicidade e alegria, que sempre se estende em torno das pessoas generosas.

O cesto e a água

Um discípulo chegou para seu mestre e perguntou:

— Mestre, por que devemos ler e decorar a Palavra de Deus se nós não conseguimos memorizar tudo e com o tempo acabamos esquecendo? Somos obrigados a constantemente decorar de novo o que já esquecemos.

O mestre não respondeu imediatamente ao seu discípulo. Ele ficou olhando para o horizonte por alguns minutos e depois ordenou ao discípulo:

— Pegue aquele cesto de junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e traga até aqui.

O discípulo olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem do mestre, mas, mesmo assim, obedeceu. Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro até o riacho, encheu o cesto de água e começou a subir. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava nada.

O mestre perguntou-lhe:

— Então, meu filho, o que você aprendeu?

O discípulo olhou para o cesto vazio e disse, jocosamente:

— Aprendi que cesto de junco não segura água.

O mestre ordenou-lhe que repetisse o processo.

Quando o discípulo voltou com o cesto vazio novamente, o mestre perguntou-lhe:

— Então, meu filho, e agora, o que você aprendeu?

O discípulo novamente respondeu com sarcasmo:

— Que cesto furado não segura água.

O mestre, então, continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa.

Depois da décima vez, o discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as escadarias.

Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo:

— Então, meu filho, o que você aprendeu?

O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu admirado:

— O cesto está limpo! Apesar de não segurar a água, a repetição constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixá-lo limpo.

O mestre, por fim, concluiu:

— Não importa que você não consiga decorar todas as passagens da Bíblia que você lê, o que importa, na verdade, é que, no processo, a sua mente e a sua vida ficam limpas diante de Deus.

O cego de nascença

Era uma vez um cego de nascença. Nunca tinha visto o sol, e perguntava como era este às pessoas que enxergavam.

Alguém lhe disse: O sol é como uma bandeja de latão.

O cego bateu na bandeja de latão e ouviu o som. Depois, quando ouviu um sino, pensou que fosse o sol.

Outra vez, disse-lhe alguém: o sol é como uma vela. O cego apalpou uma vela, e pensou que assim era o formato do sol.

A verdade é mais difícil de descrever que o sol; e quando os homens não a conhecem, são exatamente como o cego.

Ainda que façais o possível para esclarecê-la por meio de comparações e exemplos, ela ficará tão confusa como a comparação da bandeja de latão e da vela.

O Cavalo e o Porco

Um fazendeiro colecionava cavalos e só faltava uma determinada raça.

Um dia ele descobriu que o seu vizinho tinha este determinado cavalo.

Assim, ele atazanou seu vizinho até conseguir comprá-lo.

Um mês depois o cavalo adoeceu, e ele chamou o veterinário:

— Bem, seu cavalo está com uma virose, é preciso tomar este medicamento durante 3 dias, no terceiro dia eu retornarei e caso ele não esteja melhor, será necessário sacrificá-lo.

Neste momento, o porco escutava toda a conversa.

No dia seguinte deram o medicamento e foram embora.

O porco se aproximou do cavalo e disse:

— Força amigo! Levanta daí, senão você será sacrificado!

No segundo dia, deram o medicamento e foram embora.

O porco se aproximou do cavalo e disse:

— Vamos lá amigão, levanta senão você vai morrer! Vamos lá, eu te ajudo a levantar… Upa!

No terceiro dia deram o medicamento e o veterinário disse:

— Infelizmente, vamos ter que sacrificá-lo amanhã, pois a virose pode contaminar os outros cavalos.

Quando foram embora, o porco se aproximou do cavalo e disse:

— Cara, é agora ou nunca, levanta logo! Coragem! Upa! Upa! Isso, devagar! Ótimo, vamos um, dois, três, legal, legal, agora mais depressa vai…. Fantástico! Corre, corre mais! Upa! Upa! Upa!!! Você venceu Campeão!

Então, de repente o dono chegou, viu o cavalo correndo no campo e gritou :

— Milagre ! O cavalo melhorou. Isso merece uma festa… “Vamos matar o porco!”

Isso acontece com freqüência no ambiente de trabalho. Nem sempre alguém percebe, quem é o funcionário que tem o mérito pelo sucesso.

Saber viver sem ser reconhecido é uma arte, afinal quantas vezes fazemos o papel do porco amigo ou quantos já nos levantaram e nem o sabor da gratidão puderam dispor?

Se algum dia alguém lhe disser que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se :

AMADORES CONSTRUÍRAM A ARCA DE NOÉ E PROFISSIONAIS, O TITANIC.

Procure ser uma pessoa de valor, em vez de ser uma pessoa de sucesso!

Colaboração: Rony Lima

O Cavalo Descontente

O Livro das virtudes para crianças
por: William J. Bennett

Sempre podemos encontrar motivos para nos sentirmos descontentes, se quisermos. Podemos, também, encontrar argumentos para nos considerarmos afortunados por estarmos vivos. Tudo depende da maneira como cada um vê a existência.

Era uma vez um cavalo que, em pleno inverno, desejava o regresso da primavera. De fato, ainda que agora descansasse tranqüilamente no estábulo, via-se obrigado a comer palha seca.

— Ah, como sinto saudades de comer a erva fresca que nasce na primavera! dizia o pobre animal.

A primavera chegou e o cavalo teve sua erva fresca, mas começou a trabalhar bastante porque era época da colheita.

— Quando chegará o verão? Já estou farto de passar o dia inteiro puxando o arado! lamentava-se o cavalo.

Chegou o verão, mas o trabalho aumentou e o calor tornou-se muito forte.

— Oh, o outono! Estou ansioso pela chegada do outono! dizia mais uma vez o cavalo, convencido de que naquela estação terminariam seus males.

Mas no outono teve que carregar lenha para que seu dono estivesse preparado para enfrentar o inverno. E o cavalo não parava de queixar-se e de sofrer.

Quando o inverno chegou novamente, e o cavalo pode finalmente descansar, compreendeu que tinha sido fantasioso tentar fugir do momento presente e refugiar-se na quimera do futuro.

Esta não é a melhor forma de encarar a realidade da vida e do trabalho.

É melhor descobrir o que a vida tem de bom momento a momento, vivendo o presente da melhor forma possível.

Colaboração de Renato J.G. Filho

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