Categoria: Histórias (Page 99 of 110)

O mais importante

Alberto Becker

Um jovem rei, com um desejo muito grande de conhecer as coisas da vida, do mundo, convocou os sábios e filósofos de seu reino. Eles deveriam anotar e registrar tudo o que considerassem importante sobre a vida. O pedido do rei foi levado muito a sério. Após quarenta anos de muito trabalho e pesquisa, de muita reflexão e anotações, retornaram ao rei, trazendo mil livros, nos quais estava registrado tudo o que consideravam importante para a vida.

O rei, que agora estava com sessenta anos, pediu aos seus sábios que fizessem um resumo do seu trabalho, pois ele não teria mais condições de ler mil livros aos sessenta anos. Após dez anos, os sábios retornaram novamente ao rei, trazendo um resumo das coisas mais importantes da vida em cem livros. Novamente o rei, já mais idoso, reagiu dizendo: Cem livros ainda é demais. Com setenta anos não posso mais ler e refletir sobre as coisas mais importantes da vida.

Deu nova tarefa aos seus sábios e filósofos dizendo: Anotem realmente só o essencial. Realizada a tarefa, voltaram ao rei, mas agora com um único livro. O rei, no entanto, estava à beira da morte. O desejo de conhecer as coisas mais importantes da vida ainda estava bem presente na vida do rei, apesar de sua idade avançada, fraqueza e doença. Pediu então aos sábios e filósofos que resumissem todos estes anos de trabalho, pesquisa e estudo em uma única frase. O rei queria conhecer, antes de morrer, quais as descobertas e conclusões de seus sábios.

O resumo apresentado pelos sábios foi este:

“O ser humano nasce, vive, sofre e morre, e o mais importante na vida e o que sobrevive a tudo é o amor recebido e o amor presenteado”.

O Laço e o Abraço

Maria Beatriz Marinho dos Anjos

Meu Deus! Como é engraçado!

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço.

Uma fita dando voltas? Enrosca-se.

Mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço é assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.

É assim que é o laço: um laço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço.

E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando devagarzinho, desmancha, desfaz o laço.

Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.

E na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

Ah! Então é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento? Como um pedaço de fita?

Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.

Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz – romperam-se os laços.- e saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.

Então o amor é isso. Não prende, não escraviza, não aperta, nãosufoca.

Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

O Idiota

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.

Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 RÉIS e outra menor de 2.000 RÉIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

‘-Eu sei’, respondeu o tolo. ‘Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda’.

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.

A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.

A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?

A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.

Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.

O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente.

Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam… é problema deles.

Colaboração de Maria Jacinta N. Silva

Oceanos

Os oceanos são feitos de gotas d’água…

Para ser ouvido, fale,

Para ser compreendido, exponha claramente suas idéias sem jamais abrir mão daquelas que julga fundamentais apenas para que os outros o aceitem.

Acima de tudo, busque o prazer antes do sucesso, a auto-realização antes do dinheiro,

O fazer bem feito antes de pensar em obter qualquer recompensa.

Nenhum reconhecimento externo vai substituir a alegria de poder ser você mesmo.

Para poder recomeçar sempre, perdoe-se pelos fracassos e erros que cometer, aprenda com eles e, a partir deles, programe suas próximas ações.

Nunca se deixe iludir que será possível fazer tudo num dia só ou quando tiver todos os recursos: tal dia nunca virá.

Para se manter motivado, sonhe.

Para realizar, planeje, pensando grande e fazendo pequeno, um pouco a cada dia e todos os dias um pouco,

Porque são pequenas gotas d’água que fazem todo o grande oceano…

O Bambu Chinês

Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.

Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída.

Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

O escritor Stephen Covey escreveu: “Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5.º ano chegará, e com ele virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava…”

O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos. Devemos sempre procurar cultivar sempre dois bons hábitos na vida: a Persistência e a Paciência, para alcançar nossos sonhos.

É preciso muita fibra para chegar às alturas, e ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão”.

O Aprendiz

Um feiticeiro africano conduz seu aprendiz pela floresta. Embora mais velho, caminha com agilidade, enquanto seu aprendiz escorrega e cai a todo instante. O aprendiz blasfema, levanta-se, cospe no chão traiçoeiro, e continua a acompanhar seu mestre.

Depois de longa caminhada, chegam a um lugar sagrado. Sem parar, o feiticeiro dá meia volta e começa a viagem de volta.

— Você não me ensinou nada hoje – diz o aprendiz, levando mais um tombo.

— Ensinei sim, mas você parece que não aprende – responde o feiticeiro. Estou tentando lhe ensinar como se lida com os erros da vida.

— E como lidar com eles?

— Como deveria lidar com seus tombos – responde o feiticeiro. Em vez de ficar amaldiçoando o lugar onde caiu, devia procurar aquilo que te fez escorregar.

O Anel

Venho aqui , professor, porque me sinto tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada.

Me dizem que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar ?

O que posso fazer para que me valorizem mais ?

O professor, sem olha-lo, disse :

— Sinto muito meu jovem, mas não posso te ajudar, devo primeiro resolver o meu próprio problema. Talvez depois.

E fazendo uma pausa falou :

— Se você me ajudasse, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois talvez possa te ajudar.

C…Claro, professor, gaguejou o jovem, mas se sentiu outra vez desvalorizado e hesitou em ajudar seu professor.

O professor tirou um anel que usava no dedo pequeno e deu ao garoto e disse :

— Monte no cavalo e vá até o mercado. Devo vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceite menos que uma moeda de ouro.

Vá e volte com a moeda o mais rápido possível.

O jovem pegou o anel e partiu. Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores.

Eles olhavam com algum interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel.

Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros saiam sem ao menos olhar para ele, mas só um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.

Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.

Depois de oferecer a jóia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso montou no cavalo e voltou.

O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, assim livrando a preocupação de seu professor e assim podendo receber ajuda e conselhos.

Entrou na casa e disse :

— Professor, sinto muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir duas ou três moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do anel.

— Importante o que disse meu jovem, contestou sorridente.

— Devemos saber primeiro o valor do anel. Volte a montar no cavalo e vá até o joalheiro. Quem melhor para saber o valor exato do anel ? Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dá por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda. Volte aqui com meu anel.

O jovem foi até o joalheiro e lhe deu o anel para examinar.

O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse :

— Diga ao seu professor, se ele quer vender agora, não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel.

— 58 MOEDAS DE OURO !!! Exclamou o jovem.

— Sim, replicou o joalheiro, eu sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de 70 moedas , mas se a venda é urgente…

O jovem correu emocionado a casa do professor para contar o que ocorreu.

— Senta. Disse o professor e depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou disse :

— Você é como esse anel, uma jóia valiosa e única. E que só pode ser avaliada por um expert.

Pensava que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor ???

E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.

— Todos somos como esta jóia : Valiosos e únicos e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.

Colaboração: Renato Antunes Oliveira

O Amor Não Morre

Letícia Thompson

O amor não morre. Ele se cansa muitas vezes. Ele se refugia em algum recanto da alma tentando se esconder do tédio que mata os relacionamentos.

Não é preciso confundir fadiga com desamor. O amor ama. Quem ama, ama sempre. O que desaparece é a musicalidade do sentimento. A causa? O cotidiano, o fazer as mesmas coisas, o fato de não haver mais mistérios, de não haver mais como surpreender o outro. São as mesmices: mesmos carinhos, mesmas palavras, mesmas horas… o outro já sabe!

Falta magia. Falta o inesperado.

O fato de não se ter mais nada a conquistar mostra o fim do caminho. Nada mais a fazer. Muitas pessoas se acomodam e tentam se concentrar em outras coisas, atividades que muitas vezes não têm nada a ver com relacionamentos. Outras procuram aventuras. Elas querem, a todo custo, se redescobrir vivas; querem reencontrar o que julgam perdido: o prazer da paixão, o susto do coração batendo apressado diante de alguém, o sono perdido em sonhos intermináveis e desejos infindos.

Não é possível uma vida sem amor. Ou com amor adormecido.

Se você ama alguém, desperte o amor que dorme! Vez ou outra, faça algo extraordinário. Faça loucuras, compre flores, ofereça um jantar, ponha um novo perfume…

Não permita que o amor durma enquanto você está acordado sem saber o que fazer da vida. Reconquiste! Acredite: reconquistar é uma tarefa muito mais árdua do que conquistar, pois vai exigir um esforço muito maior. Mas… sabe de uma coisa? Vale a pena! Vale muito a pena!

Boa festa do amor!

Nunca saberemos

Cláudio Moreno

Das muitas discussões travadas entre Zeus e Hera, o casal real da mitologia grega, uma delas tornou-se inesquecível. Ninguém ignorava que ele era dado a aventuras amorosas com outras deusas, com ninfas e com belas mortais. Um dia, apanhado em flagrante por Hera, tentou justificar-se alegando que não tinha culpa, porque, afinal, o prazer do homem era muito menos intenso que o prazer da mulher, e ele estava apenas tentando compensar a baixa qualidade pela grande variedade. Como Hera não concordasse quanto a esse ponto essencial, resolveram procurar um terceiro para servir de juiz. O problema não era nada simples, pois perguntar a um homem ou perguntar a uma mulher traria uma resposta fatalmente prejudicada, reduzida às limitações do ponto de vista de um ou do outro sexo.

Ambos lembraram então de Tirésias, o pastor que, já homem feito, tinha sido transformado em mulher, vivendo assim por sete anos, ao cabo dos quais voltara a ser homem de novo. Uns dizem que, durante esse tempo, ele – ou ela – foi prostituta famosa; outros, que casou e teve dois filhos. De qualquer forma, só ele podia comparar o desejo que nasce do corpo de um homem com o que nasce do corpo de uma mulher, e sua resposta – “Do prazer, o homem aproveita uma parte, enquanto a mulher aproveita três vezes três!”- foi imortalizada pela mitologia e pela literatura. Por que não ocorreu a ninguém – fosse deus, fosse mortal – aproveitar Tirésias para esclarecer de uma vez por todas as diferenças entre o mundo masculino e o feminino? A resposta está no próprio mito: só o corpo tinha sido trocado por um corpo de mulher, mas a mente, em momento algum, tinha deixado de ser a mente do mesmo Tirésias de sempre. Ele podia opinar sobre o prazer que sentiu, mas era só isso. Naqueles sete anos, seu espírito tinha habitado um país exótico, com paisagens desconhecidas, totalmente incompreensível para ele. Tirésias era como um daqueles tupinambás que os franceses levaram daqui, em 1550, para apresentar em Rouen, na festa dedicada a Henrique II e a Catarina de Médici, como exemplo típico de nossos nativos. Alguns ficaram por lá, mas outros conseguiram voltar às suas aldeias, com notícias do mundo diferente que tinham visitado; podemos imaginá-los à noite, em torno da fogueira, com os olhos ainda cheios de assombro, tentando descrever o brilho de uma corte renascentista, cheia de espelhos, castelos, carruagens, pontes, cavalos, todas essas coisas estranhas que tinham visto do outro lado do mar e que nunca poderiam entender, até porque a língua que falavam sequer tinha palavras para designá-las. Da mesma forma, o homem jamais poderá saber o que realmente se passa no coração da mulher – e vice-versa. Um só pode ver o outro com os olhos que lhe pertencem e, como o selvagem que foi a Rouen, guardar dessa fantástica viagem algumas imagens dispersas cujo significado jamais conseguirá entender plenamente.

Porto Alegre, 29 de agosto de 2006

Zero Hora, Edição nº 14980

« Older posts Newer posts »

© 2025 Contando Histórias

Theme by Anders NorenUp ↑