Miriam Travassos
Estava toda feliz, acessando a internet, quando meu computador trancou.
Comecei a bater em diversas teclas, liguei e desliguei, disse um nome horrível que eu sei… e nada.
Sentada em frente ao pc, era mesmo uma burra olhando para um palácio.
Foi quando me ocorreu a idéia de pedir uma ajuda a um colega que entende a fundo de eletrônica.
Não o encontrei. Fiquei ali, perdendo tempo e paciência, até que me lembrei de discar para o serviço de suporte do meu provedor.
E tudo foi resolvido.
Pois tirei uma lição desse problema: a vida da gente é nada mais nada menos do que uma internet, interligados todos numa rede onde se cruzam bons contatos, conhecimento, futilidade, violência, pornografia, inutilidade.
E, vez em quando, nos sentimos travados.
Por que há dias em que você se sente off-line.
Sua vida, como um pc, parece haver se trancado, fugindo a seu comando, provocando-lhe a estranha sensação de uma queda de voltagem, de força, deresistência – você ali, impotente, sem entender em que teclas erradas bateu para que acontecesse essa parada súbita.
A primeira e compreensível atitude é interrogar por que não lhe deramum pentium cheio de recursos, evitando que você tivesse que passar uma existência inteira catando milho nas teclas de um micro assim tão sem potência.
Mas, você sabe, é quase impossível trocar o programa que lhe é imposto pelo destino.
À noite, em sua cama, você faz um download nos seus sentimentos.
Nota que há dezenas de tarefas, ainda no rascunho, que você jamais se importou em terminar; centenas de itens que já deveriam ter sido excluídos de sua memória, sua lixeira está repleta de sentimentos negativos ainda não deletados; há mensagens na caixa de entrada que você se recusa a receber e itens enviados que você poderia ter evitado encaminhar.
Perderam-se, para sempre, as linhas de um ideal que você havia traçado,ao programar seu futuro.
E não existe back-up em nossa vida quando se extravia o plano original, não há como recuperar o que foi definitivamente deletado, nem é possível dar backspace no presente.
Desarvorado, você conclui que lhe foge ao controle reter as alegrias e afugentar os sofrimentos: a tecla enter não consegue fazer com que as pequenas conquistas sejam arquivadas para depois repeti-las, nem a tecla escape consegue evitar que os fracassos prossigam sendo impressos a laser e em cores vivas.
Diante da tela em branco, nenhum recurso lhe ocorre.
Exausto por causa de tantas tentativas de acerto, você começa a pensar que é hora de abandonar essa luta em busca de saída:
Não há atalho e nem lhe resta espaço.
Quantos mais reset você dá, tantas vezes se mostra igual o reinício -insistindo em bater nas mesmas teclas, você apenas repete as mesmas tolices.
Que saída você tentará, nesse momento?
O aconselhamento de amigos, o extravasamento de toda a sua fúria, a buscade aperfeiçoamento para entender o problema, a conformidade perante a sua incapacidade de seguir em frente, a depressão?
Não se resolve assim, quando é a nossa existência que se encontra em jogo.
Há um momento em que é preciso estabelecer contato com nosso provedor, quando nos foge à compreensão onde nos quer levar esse intrincado software chamado vida.
E você sabe quem é nosso Bill Gates, em hora dessas.
Melhor, então, acessar o Dono do programa.
Envie um sos urgente e peça-Lhe ajuda.
Ele consegue decodificar as mais complexas linguagens, mas você pode iniciar assim sua mensagem: Pai Nosso que estais no céu…
Conte com uma resposta com absurda agilidade.
Talvez você até continue a julgar-se inapto para tantos comandos, entrejanelas e campos, estilos e modelos, vacilante na escolha de uma ferramenta.
Mas descobre que é sempre possível contatar o próprio autor do soft, que entende a precariedade do seu pc, a pouca capacidade de seu hd, a sua falta de espaço para o armazenamento de tantas amarguras e, mesmo assim, teima em querer vê-lo aperfeiçoar-se a cada dia, sem se deixar vergar ante a complexidade da intrincada operação que é esta vida – de home a end.
… nunca dê pause em sua fé.