O dia apenas amanhecera e Jorge já se achava a meio caminho da empresa em que trabalhava.
Os passos lentos e o olhar voltado para o chão, demonstravam a tristeza e o desalento de que estava possuído.
Adentrou o local de trabalho alguns minutos antes do horário, e cumprimentou o colega, um tanto desanimado.
Ao perceber a tristeza de Jorge o companheiro lhe perguntou interessado :
— O que aconteceu com você? Seu olhar denuncia sentimentos amargos…
— É verdade. Trago nos ombros o peso da desesperança…
— À minha volta só acontecem desgraças e mais desgraças…
Sinto-me impotente, e penso que sou o homem mais infeliz da face da terra.
— Mas, afinal de contas, o que aconteceu ? – Indagou o colega.
— Ora, meu irmão mais novo contraiu grande dívida e fugiu sem deixar o endereço. Meu cunhado envolveu-se com assaltantes e está atrás das grades.
O companheiro que ouvia atento, observou : mas podia ser pior…
Jorge continuou :
— Minha esposa, levianamente envolveu-se com um rapaz bem mais novo que ela, e abandonou o lar…
— Mas podia ser pior… – Retrucou o colega.
— Meu melhor amigo me traiu, espalhando calúnias a meu respeito…
— No entanto, podia ser pior… – Falou novamente o companheiro.
Jorge não suportou mais ouvir aquela afirmativa e perguntou um tanto irritado :
— Ora, eu já lhe contei tantas desgraças e você só sabe dizer que podia ser pior ?
O que poderia acontecer que fosse pior ?
O amigo respondeu serenamente :
— você falou que o seu irmão tomou um empréstimo e não honrou o compromisso… Que seu cunhado envolveu-se em assaltos… Que sua esposa o traiu… Que seu melhor amigo o caluniou… E eu posso afirmar com segurança que podia ser pior, se fosse você o autor de tantos desatinos…
Jorge um tanto chocado, olhou longamente para o colega e respondeu meio reticente:
— É… Podia mesmo ser pior…
Às vezes nos deparamos com situações que nos deixam tristes, porque sentimos o coração dilacerado pela traição, pela calúnia, ou pelos equívocos dos entes queridos.
Todavia, se já conseguimos permanecer fiéis à nossa própria consciência, poderemos oferecer apoio aos que ainda se debatem nas águas turbulentas dos vícios morais.
Ainda que a navalha da ingratidão nos dilacere o coração…
Ainda que a desgraça dos seres amados comprima nosso coração afetuoso…
Ainda que tenhamos que sorver a taça da calúnia, lembremos o exemplo maior de Jesus, diante da traição do amigo que com ele convivera por longos anos…
Lembremos as lágrimas do Sublime Galileu diante do sofrimento alheio…
Colaboração: Renato Antunes Oliveira