Categoria: Histórias (Page 3 of 104)

Onde andará o meu doutor?

Tatiana Bruscky

Hoje acordei sentindo uma dorzinha, aquela dor sem explicação, e uma palpitação, resolvi procurar um doutor e fui divagando pelo caminho…

Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo…

O Meu Doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo mas a da minha alma, que me transmitia paz e calma!

Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta: – QUAL O SEU PLANO?

O MEU PLANO? Ah, o meu plano é viver mais e feliz! é dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora!

Mas a resposta teria que ser outra… o MEU PLANO DE SAÚDE…

Apresentei o documento do dito cujo já meio suada, tanto quanto o meu bolso, e aguardei…

Quando fui chamada corri apressada, ia ser atendida pelo Doutor, aquele que cura qualquer tipo de dor. Entrei e o olhei, me surpreendi: rosto trancado, triste e cansado… Será que ele estava adoentado? É, quem sabe, talvez gripado não tinha um semblante alegre, provavelmente devido à febre…

Dei um sorriso meio de lado e um bom dia…

Sobre a mesa, à sua frente, um computador, e no seu semblante a sua dor.

O que fizeram com o Doutor?

Quando ouvi a sua voz de repente:

— O que a senhora sente?

Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo! Parecia mais doente do que eu, a paciente…

Eu? ah! sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação e esperei a sua reação. Vai me examinar, escutar a minha voz auscultar o meu coração.

Para minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse: peça autorização desses exames para conseguir a realização…

Quando li quase morri: TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA, RESSONÂNCIA MAGNÉTICA e CINTILOGRAFIA!?

Ai, meu Deus! que agonia! Eu só conhecia uma tal de abreugrafia…

Só sabia que ressonar era dormir, de magnético eu conhecia um olhar. E cintilar só o das estrelas!

Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?

Naquele instante timidamente pensei em falar: Terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio?

Que fazer com essa sensação de vazio? e observe, Doutor, o tal Pai da Medicina, o grego Hipócrates, acreditava que A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR.

Olhe para mim…

Bem verdade que o juramento dele está ultrapassado. Médico não é sacerdote! Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano. Mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine!

Estou sentindo falta de dizer até aquele 33 …

Não me abandone assim de uma vez, procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!

Alimente a minha mente e o meu coração.

Me dê, ao menos, uma explicação! O senhor não se informou se eu ando descalça… ando sim!

Gosto de pisar na areia e seguir em frente deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida,

Estarei errada?

Ou estarei com o verme do amarelão?

Existirá umas gotinhas de solução?

Será que já existe vacina contra o tédio?

Ou não terá remédio?

Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!

Cadê o Scott, aquele da Emulsão?

Que tinha um gosto horrível mas me deixava forte que nem um Sansão!

E o Elixir? Paregórico e categórico, e o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?

Será que pensei asneiras?

Ah! meu querido e adoentado Doutor!

Sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo, do seu pensar…

O seu sorriso que aliviava a minha dor, que me dava forças para lutar contra a doença… e que estimulava a minha saúde e a minha crença.

Sairei daqui para um ataúde?

Preciso viver e ter saúde!

Por favor, me ajude!

Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim.

Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador e o olhar vago e cansado do Doutor!

Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza… ouço até os seus gemidos!

Por favor, tragam de volta o meu Doutor!

Estamos todos doentes e sentindo dor.

E peço, para o ser humano, uma receita de calor, e para o exercício da medicina….. uma prescrição de amor!

Tatiana Bruscky é médica e mora em Recife (PE)

A última gota

Gilberto Cabeggi

Havia parado de chover fazia pouco mais de trinta minutos, e o sol já brilhava imponente, dando reflexos suaves em árvores e arbustos. Foi mais uma chuva de verão.

Naquele sítio, tudo convidava para uma caminhada: era o mato cheirando a molhado, os pássaros que voltavam a cantar alegremente, os pequenos insetos que começavam a esvoaçar, procurando secar suas asas ao sol.

Um sábio de nome Jonas PahNu convidou e Daniel, seu discípulo, aceitou de imediato: puseram suas bermudas e camisetas, sandálias confortáveis e chapéus de palha, e foram percorrer as vizinhanças da casa, procurando por novidades.

Depois de algum tempo, o garoto se distraiu e se afastou do mestre. Quando se deu conta disso, chamou por Jonas:

— Ei, Mestre… Onde está você?

— Aqui, garoto… Bem aqui – uma voz respondeu a poucos metros de distância.

Daniel seguiu na direção da voz e encontrou o mestre PahNu sentado em um tronco, observando curiosamente alguma coisa.

— Venha. Venha ver, Daniel – disse o mestre, ao perceber a proximidade do garoto. “Sente-se aqui, ao meu lado” – completou.

O discípulo obedeceu e, ao sentar-se também no tronco, percebeu o que tanto atraía a atenção de seu mestre: uma pequena flor branca, em forma de taça, recebia gotas de água que caiam de folhas molhadas, que estavam um pouco mais acima que ela. À medida que as gotas caíam, a pequena taça ia sendo enchida. Até que, num determinado momento, sua haste não suportava o peso, vergava e derramava toda a água. Uma vez vazia, a flor voltava então à posição normal, e recomeçava a receber a água das folhas. E todo o processo se repetia.

— Legal, Mestre! – disse Daniel, visivelmente divertido com o que via.

— Muito legal mesmo, meu garoto – confirmou Jonas. Mas, observe bem… Será que não há uma lição a aprender daí?

O discípulo olhou novamente para a flor, justamente no momento em que mais uma gota caia e, ao cair, transbordou a taça e a fez entornar. Orgulhoso, Daniel olhou para Jonas PahNu e disse eufórico:

— Na vida, sempre há uma gota d’água que é a que entorna o copo. É ela que faz com que a água toda se derrame.

— E o que isso quer dizer? – perguntou o mestre.

— Quer dizer que sempre que um acontecimento desagradável, ou um gesto ruim de alguém, ultrapassa a capacidade de suportar de uma pessoa, ela toma uma atitude, ou parte para uma mudança radical em sua vida. Acertei? – perguntou o garoto, ansioso pela aprovação do mestre.

— Em parte, sim…

— Como assim, Mestre?

— Sempre que o copo entorna – isto é, sempre que a situação na vida de uma pessoa ultrapassa os seus limites suportáveis – ela parte para uma atitude de mudança daquilo que está vivendo. Nisso você tem razão. Mas a última gota d’água – aquele problema que faz com que o limite da pessoa transborde, seja ultrapassado – não é a responsável por provocar essa atitude.

— Não é? Mas… Nós vimos a flor virar de boca para baixo com essa última gota, e derramar todo o seu conteúdo!

— Você tem razão, Daniel… Nós vimos. E é sempre assim: todo recipiente tem uma capacidade limitada ao seu volume máximo. Depois disso, ele transborda. Mas a culpa não é somente daquela gota adicional, mas de todas as outras gotas depositadas anteriormente.

É por isso que há relacionamentos que se desfazem. Não foi por uma única palavra, gesto ou ação. Foi por causa de todas as palavras, gestos e ações que se antecederam. Em um casamento, por exemplo, é preciso que o casal se habitue a esvaziar a taça periodicamente. Quero dizer, é necessário que conversem sempre sobre seus problemas e dificuldades, de modo a não deixar que os desentendimentos se acumulem.

É preciso evitar que a taça vire devido ao excesso de peso na relação. Mesmo porque, na vida a dois, nem sempre a taça se coloca outra vez de pé, disposta a receber água novamente, como observamos com essa nossa pequena flor.

Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro “Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.

Momento de Harmonia

James Luz

Um dia, um homem já muito cansado de tanto dar amor e perceber que quanto mais amoroso ele se tornava menos era correspondido, em um desses momentos que só os que realmente têm a fé em seu interior conseguem sentir a infinita bondade do Pai, ele parou e sentou em uma pedra, olhando aquele mar azul anil na contemplação da beleza da criação.

E em uma praia alva em um momento de solitude, ele falou ao Pai:

“Pai, muito obrigado por ter me dado o dom da amorosidade mesmo que o mundo insista em não querer. Pai, não conceda nunca que eu renegue a amorosidade mesmo que eu sofra com a ingratidão.

Pai, que eu ame cada dia mais, mesmo sabendo que quanto mais me dôo, mais me maltratam.

Pai, que suas benções diárias continuem a fortalecer-me principalmente nos momentos em que estou mais frágil.

Pai, que as ingratidões diárias não me maltratem, mesmo sabendo que são um prova de que eu ainda necessito aprender mais.

Pai, obrigado por ter me dado a oportunidade da harmonia, mesmo vivendo em um mundo tão conturbado”.

E em sua oração,continuou:

“Por mais que eu seja incompreendido, mesmo frente à arrogância e à prepotência, que eu tenha serenidade.

Pai, mesmo que a dor da falsidade insista em me maltratar, mesmo assim, que eu não perca o dom da bondade.

Pai, por fim, que o meu amor por Ti seja tão grande que nada, nada mesmo, mude meu rumo em direção a Ti. Que cada dia mais tenha o entendimento de que eu sou um ser de PAZ.”

Naquele momento aquele homem sentiu uma brisa tão forte, que lhe pareceu ser levado ao encontro de uma luz branco-azulada muito forte. Tudo em sua volta ficou branco e ele pôde sentir o amor e bondade do Pai.

Temos que ser como a luz do sol que diariamente nos banha, sem que nós percebamos o bem que ela nos faz.

Temos que ser doadores de muita luz, sem esperar nada de volta, pois até a beleza da luz do luar é um mero reflexo da bondade do sol.

Tornemo-nos doadores com muita luz de amor e paz a todos que nos cercam, pois nossa meta é sermos como girassóis, sempre captando a luz do Pai e ao mesmo tempo doando novas sementes para germinar outros seres.

A escolha é sua

Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for, ou viver infeliz por não ser quem você gostaria.Você pode assumir sua individualidade, ou reprimir seus talentos e fantasias, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse.

Você pode produzir-se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar, ou dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas são fúteis.

Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as outras pessoas, ou com aquele olhar de censura, que poda, pune, fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos, limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus.

Você pode amar e deixar-se amar de maneira incondicional, ou ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta.

Você pode ouvir o seu coração e apaixonadamente viver, ou agir de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar a vida antes de vivê-la.

Você pode deixá-la como está para ver como é que fica, ou com paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias na sua vida e no mundo à sua volta.

Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos, ou partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de ganhar.

Você pode amaldiçoar sua sorte, ou encarar a situação como uma grande oportunidade de crescimento que a vida lhe oferece.

Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados para todas as suas insatisfações, ou encarar a verdade de que, no fim das contas, sempre é você quem decide o tipo de vida que quer levar.

Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas, caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas, avanços e retrocessos, ou continuar acreditando que ele já estava escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer.

Você pode viver o presente que a vida lhe dá, ou ficar preso a um passado que já acabou – e portanto não há mais nada a fazer -, ou a um futuro que ainda não veio e que portanto não lhe permite fazer nada.

Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que você é e possui, ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por não ser ou não possuir tudo o que você gostaria.

Você pode engajar-se no mundo, melhorando a si próprio e, por conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta, ou esperar que o mundo melhore para que então você possa melhorar.

Você pode celebrar a Vida e a Energia Universal que o criou, ou celebrar a morte, aterrorizado com a idéia de pecado e punição.

Você pode continuar escravo da preguiça, ou comprometer-se com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o seu Plano de Vida.

Você pode aprender o que ainda não sabe, ou fingir que já sabe tudo e não precisa de aprender nada mais.

Você pode ser feliz com a vida como ela é, ou passar todo o seu tempo se lamentando pelo que ela não é.A escolha é sua.E o importante é que você sempre tem escolha.

Pondere bastante ao se decidir, pois é você que vai carregar – sozinho e sempre – o peso das escolhas que fizer.

O grande dom da minha mãe

Marie Ragghiandi

Eu tinha dez anos de idade quando minha mãe teve paralisia, causada por um tumor na espinha dorsal. Antes disso ela havia sido uma mulher vibrante e vigorosa, de tal maneira ativa que a maioria das pessoas achava impressionante.

Mesmo quando era pequena, eu ficava admirada com suas realizações e por sua beleza. Porém, quando tinha trinta e um anos, sua vida mudou. Assim como a minha.

Do dia para a noite, parecia, ela passou a ficar deitada de costas em uma cama de hospital. Um tumor benigno a havia incapacitado, mas eu era jovem demais para compreender a ironia da palavra “benigno”, pois ela nunca mais seria a mesma.

Ainda tenho imagens vívidas dela antes da paralisia. Ela sempre foi gregária e recebia muitas visitas. Com freqüência passava horas preparando canapés e enchendo a casa de flores, que colhia frescas no jardim cultivado ao lado da casa.

Selecionava as músicas populares da época e rearrumava a mobília a fim de abrir espaço para que os amigos pudessem se entregar à dança. Na realidade, era minha mãe quem mais gostava de dançar.

Hipnotizada, eu a observava se vestir para as festividades noturnas. Mesmo hoje em dia ainda me lembro de nosso vestido favorito, com sua saia preta e corpete de renda azul-marinho, o contraste perfeito para seu cabelo louro. Fiquei tão emocionada quanto ela, no dia em que trouxe para casa uns sapatos de salto alto de renda preta e, naquela noite, minha mãe certamente era a mulher mais bonita do mundo.

Eu acreditava que ela podia fazer qualquer coisa, fosse jogar tênis (ganhara campeonatos na universidade), costurar (fazia todas as nossas roupas), tirar fotografias (ganhou um concurso nacional), escrever (era colunista de um jornal) ou cozinhar (especialmente pratos espanhóis para meu pai).

Agora, apesar de não poder fazer nenhuma dessas coisas, ela encarava sua doença com o mesmo entusiasmo que tinha em relação a tudo o mais.

Palavras como “deficiente” e “fisioterapia” tornaram-se parte de um estranho mundo novo no qual entramos juntas, e as bolas de borracha para crianças que ela se esforçava para apertar adquiriram um simbolismo que jamais haviam possuído.

Gradualmente, passei a ajudar nos cuidados com a mãe que sempre cuidara de mim. Aprendi a cuidar do meu próprio cabelo – e do dela. Eventualmente, tornou-se rotina levá-la na cadeira de rodas até a cozinha, onde ela me ensinava a arte de descascar cenouras e batatas e como esfregar alho e sal e pedaços de manteiga em uma boa carne assada.

Quando, pela primeira vez, ouvi falarem em uma bengala, opus-me:

— Não quero que a minha linda mãe use uma bengala!

Mas a única coisa que ela disse foi:

— Não é melhor você me ver andando com uma bengala do que não me ver andando de maneira alguma?

Cada conquista era um marco para nós duas: a máquina de escrever elétrica, o carro com câmbio e freio automáticos, sua volta à universidade, onde se diplomou em Educação Especial.

Ela aprendeu tudo o que podia sobre as pessoas com deficiências e acabou fundando um grupo ativista de apoio chamado “Os Incapacitados”. Certo dia, sem ter falado muito de antemão, ela me levou e a meus irmãos a uma reunião dos Incapacitados. Eu nunca vira tantas pessoas com tantas deficiências. Voltei para casa, silenciosamente introspectiva, pensando em como nós realmente tínhamos sorte.

Ela nos levou muitas vezes depois disso e, eventualmente, a visão de um homem ou uma mulher sem pernas ou braços não nos chocava mais. Minha mãe também nos apresentou a vítimas de paralisia cerebral, enfatizando que a maioria era tão inteligente quanto nós, talvez mais. E nos ensinou a nos comunicarmos com os retardados mentais, mostrando como eles eram freqüentemente mais afetuosos, comparados às pessoas normais. Durante tudo isso, meu pai continuou a amá-la e apoiá-la.

Quando eu estava com onze anos, minha mãe me contou que ela e papai iriam ter um bebê. Muito depois, eu soube que seus médicos tinham insistido para que ela fizesse um aborto (terapêutico) – uma opção à qual ela resistiu veementemente.

Logo, éramos mães juntas, já que virei mãe adotiva de minha irmã, Mary Therese.

Em pouquíssimo tempo aprendi a trocar fraldas, banhá-la e alimentá-la. Ainda que mamãe tenha mantido a disciplina maternal, para mim foi um passo gigantesco além da brincadeira com bonecas.

Um momento se destaca mesmo hoje em dia: o dia em que Mary Therese, na época com dois anos, caiu e esfolou o joelho, abriu-se em prantos e passou correndo pelos braços estendidos de minha mãe para os meus. Tarde demais, eu vislumbrei a faísca de dor no rosto de mamãe, mas tudo o que ela disse foi:

— É natural que ela corra para você, pois você toma conta dela tão bem. . .

Como minha mãe aceitava sua condição com tanto otimismo, raramente me senti triste ou ressentida. Mas nunca irei esquecer o dia em que minha complacência foi destruída.

Muito tempo depois da imagem de minha mãe em salto agulha ter se dissipado da minha consciência, houve uma festa em nossa casa. A essa altura eu era adolescente, e vi minha sorridente mãe sentada na lateral, olhando seus amigos dançarem, e fui atingida pela cruel ironia de suas limitações físicas.

Subitamente, fui transportada de volta à época de minha primeira infância e a visão de minha mãe dançando radiante estava novamente diante de mim.

Imaginei se mamãe se lembraria também. Espontaneamente, andei em sua direção e então vi que, apesar de estar sorrindo, seus olhos estavam marejados de lágrimas.

Corri para fora do aposento e para o meu quarto, enterrei meu rosto no travesseiro e chorei copiosamente – todas as lágrimas que ela jamais chorara. Pela primeira vez, eu me enraiveci contra Deus e contra a vida e suas injustiças para com a minha mãe.

A lembrança do sorriso brilhante de minha mãe permaneceu comigo. Daquele momento em diante, enxerguei sua habilidade de superar a perda de tantas batalhas anteriores e seu ímpeto em olhar para a frente – coisas que eu tomava por certas – como um grande mistério e uma poderosa inspiração.

Quando eu estava crescida e comecei a trabalhar com o sistema penal, mamãe se interessou em trabalhar com os prisioneiros. Ela telefonou para a penitenciária e pediu para dar aulas de Redação Criativa para os detentos. Lembro-me de como eles se amontoavam em volta dela sempre que ela chegava e pareciam se a agarrar a cada palavra sua, como eu fizera na infância.

Mesmo quando não podia mais se deslocar até a prisão, ela freqüentemente se correspondia com vários detentos.

Um dia pediu-me para enviar uma carta para um prisioneiro, “Waymon”. Perguntei se poderia lê-la antes e ela concordou, sem perceber, eu acho, o quanto aquilo seria revelador para mim. Dizia:

“Quero que saiba que tenho pensado em você com freqüência desde que recebi sua carta. Você mencionou como é difícil estar preso atrás das grades e meu coração se une ao seu. Mas quando você disse que eu não imagino o que é estar na prisão, senti-me compelida a dizer-lhe que está errado.

Existem diferentes tipos de liberdade, Waymon, diferentes tipos de prisões. Às vezes, nossas prisões são auto-impostas.

Quando, com a idade de trinta e um anos, levantei-me um dia para descobrir que estava completamente paralisada, senti-me em uma armadilha – dominada pela sensação de estar presa dentro de um corpo que não mais me permitiria correr através de uma campina, dançar ou carregar minha filha nos braços.

Fiquei deitada ali durante muito tempo, lutando para chegar a um acordo com minha enfermidade, tentando não sucumbir em autopiedade. Perguntei-me se, na verdade, valeria a pena viver nessas condições, se não seria melhor morrer.

Pensei a respeito desse conceito de prisão, pois me parecia que havia perdido tudo o que importava na vida. Eu estava próxima do desespero.

Mas, então, um dia me ocorreu que, na realidade ainda havia opções abertas para mim e que eu tinha a liberdade de escolher entre elas. Será que eu iria sorrir quando visse meus filhos de novo, ou iria chorar? Iria zangar-me em Deus, ou iria pedir que Ele fortalecesse minha fé?

Em outras palavras, o que eu iria fazer com o livre-arbítrio que Ele havia me dado e que ainda era meu?

Tomei a decisão de lutar, enquanto estivesse viva, para viver o mais plenamente possível, para procurar tornar minhas experiências aparentemente negativas em experiências positivas, procurar formas de transcender minhas limitações físicas expandindo minhas fronteiras mentais e espirituais.

Eu podia escolher entre ser um exemplo positivo para meus filhos ou podia murchar e morrer emocional assim como fisicamente.

Existem muitos tipos de liberdade, Waymon. Quando perdemos um tipo de liberdade, temos que simplesmente procurar por outro. Você e eu somos abençoados com a liberdade de escolher entre bons livros, que iremos ler, quais deixaremos de lado.

Você pode olhar para as suas grades ou pode olhar através delas. Você pode ser um exemplo para prisioneiros mais jovens ou pode se misturar com os encrenqueiros.

Você pode amar a Deus e buscar conhecê-Lo ou pode virar as costas para Ele.

Até certo ponto, Waymon, estamos nisso juntos. “

Quando finalmente terminei de ler a carta, minha visão estava borrada pelas lágrimas. Ainda assim, pela primeira vez, eu enxerguei minha mãe com clareza.

E eu a entendi.

Palavras … palavras … e palavras

Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.

É necessário tão poucas palavras para exprimir a sua essência. Os grandes discursos servem frequentemente só para confundir ou doutrinar. O silêncio é frequentemente mais esclarecedor que um fluxo de palavras. Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ela consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra.

Na realidade, as palavras devem ser a embalagem dos pensamentos. Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos do seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras.

Creio que, na sua grande sabedoria, a natureza deu-nos apenas uma língua e dois ouvidos para que escutemos mais e façamos menos discursos longos.

Se um texto não é mais bonito do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso, menos as palavras se tornam úteis…

É necessário lembrar-se do provérbio dos filósofos: as verdadeiras palavras não são sempre bonitas, mas as palavras bonitas nem sempre são verdades.

É característica das grandes mentes fazer com que em poucas palavras muitas coisas sejam ouvidas. As mentes pequenas acham que têm, pelo contrário, a concessão para falar e não dizer nada. Falam futilidades, mas há aqueles que sabem o que devem escutar para colher.

Poucas palavras são necessárias para dizer “gosto muito de ti”, todas as outras que poderiam ser ditas são supérfluas…

Sim e não são as palavras mais curtas e fáceis de serem ditas, mas são aquelas que trazem as mais pesadas consequências.

São necessários apenas dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que ele aprenda a ficar em silêncio.

Ser comedido nas suas palavras não é um defeito mas uma prova de profunda sabedoria. Aquele que fala muito quase nunca tem sucesso para organizar as coisas. Tende antes a confundir…

O tapetinho vermelho

Uma pobre mulher morava numa humilde casinha com sua neta muito doente. Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus muitos cuidados e remédios com ervas, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar a caminhada de 2 horas até a cidade próxima em busca de ajuda.

Ao chegar ao único hospital da região foi aconselhada a voltar para casa e trazer a neta, para que esta fosse examinada.

Quando voltava, desesperada por saber que sua neta não conseguia levantar da cama, a senhora passou em frente de uma igreja e como tinha muita fé em Deus, apesar de nunca ter entrado numa igreja, resolveu pedir ajuda.

Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas no chão em oração. As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, convidaram-na para se ajoelhar e orar pela criança.

Após quase uma hora de fervorosas orações e pedidos de intercessão ao Pai, as senhoras já se levantaram quando a mulher lhes disse:

— Eu gostaria de fazer uma oração só minha.

Vendo que se tratava de uma mulher de pouca cultura, as senhoras retrucaram:

— Não é necessário. Com nossas orações, com certeza sua neta irá melhorar.

Ainda assim insistiu em orar e começou:

“Deus, sou eu, olha, a minha neta está muito doente. Deus, assim eu gostaria que fosses lá curá-la. Deus, pega uma caneta que eu vou te dizer onde fica o endereço”.

As senhoras estranharam, mas continuaram a ouvir.

— Já tem a caneta Deus? Vá seguindo o caminho daqui de volta para Belo Horizonte e quando passar o rio com a ponte, entra na segunda estradinha de barro, não vá errar, tá?

Nesta altura as senhoras esforçavam-se para não desatar a rir, mas ela continuou.

— Seguindo mais uns 20 minutinhos tem uma vendinha, entra na rua depois da mangueira, que o meu barraquinho é o último da rua. Pode ir entrando que não tem cachorro.

As senhoras começaram a indignar-se com a situação.

— Olha Deus, a porta está trancada, mas a chave fica debaixo do tapetinho vermelho na entrada, o Senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha.

Mas olha só Deus, por favor! Não se esqueça de colocar a chave de novo por baixo do tapetinho vermelho, senão eu não consigo entrar quando chegar em casa…

Nesta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era assim que se deveria orar, mas que ela poderia ir pra casa sossegada, pois elas eram pessoas de muita fé, e Deus, com certeza, iria ouvir as suas preces e curar a menina.

A mulher foi para casa um pouco desconsolada, mas ao entrar na sua casinha sua neta veio correndo para recebê-la.

— Minha neta, estás de pé, como é possível?

E a menina explicou:

— Eu ouvi um barulho na porta e pensei que era a senhora, no entanto, entrou um homem alto com um vestido branco no meu quarto e mandou-me levantar, e não sei como, eu simplesmente levantei.

E quase em pranto a menina continuou:

— Depois ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha que ir embora. Mas pediu para que eu avisasse a senhora que ele ia deixar a chave debaixo do tapetinho vermelho.

Simples Assim

Paulo Roberto Gaefke

Como é bom o simples!

O sorriso, por exemplo, é tão simples e agrada a todos.

O abraço despretensioso de uma criança é um tesouro.

O beijo dos apaixonados então, é o sublime do simples.

O caminhar, o respirar, nadar ou simplesmente boiar, são movimentos que expressam a liberdade, a liberdade do que é simples.

Por que complicamos tanto a vida?

Porque queremos sempre mais!

E na maioria das vezes, não valorizamos o que já temos.

Às vezes temos a melhor companhia do mundo, e a traímos.

Temos a melhor família possível, e brigamos.

Temos o melhor emprego do momento, e reclamamos.

Temos um grande amigo, e o desprezamos.

Temos a oportunidade de servir, e cruzamos os braços.

Temos um tesouro, e nos matamos por alguns trocados.

Insatisfeitos, infantis e imaturos.

Por isso, a dor continua sendo a “sirene” de Deus, aquela que faz tocar alarmes para alertar: “Algo não vai bem em nós!”

É a irritação constante, que leva ao estresse, que leva ao desespero, que leva ao enfarte.

Busque o simples.

Meditar pelas manhãs, agradecer sempre pelo pão, pela vida e pela misericórdia.

Lembre-se que somente pela misericórdia divina estamos aqui. Baixe a bola, seja simples.

Não se leve tão a sério. Ame e deixe-se amar.

Viva e deixe viver. Sorria e transforme o dia.

Simples assim …

A nova loja de flores

A mulher caminhava para um centro comercial e reparou num cartaz: “Uma nova loja de flores”.

Levou um susto ao entrar na loja e não encontrar nenhum vaso ou flores, mas se surpreendeu mais ainda ao ver que era Deus quem atendia no balcão.

Ele apenas lhe disse:

“Peça o que quiser, minha filha.”

Reconhecendo o Senhor, ela lhe respondeu candidamente:

“Quero ser feliz, quero paz, dinheiro, capacidade de ser compreendida. Quero ir para o céu quando morrer. E tudo que me for concedido quero que todos os meus amigos recebam também.”

Deus então abriu uns potes pequenos, tirou alguns grãos de dentro e os estendeu para a mulher, dizendo: “Aqui estão as sementes. Comece a plantá-las, a fim de colhê-las, porque aqui não se vendem os frutos.”

Em busca da verdade

Osho

Existem duas maneiras de se buscar a verdade: uma é tomar emprestado o conhecimento; a outra é buscar por si mesmo.

É claro que é mais fácil tomar emprestado, mas tudo o que você toma emprestado não é seu, e o que não é seu não pode ser verdadeiro.

Eu posso ter conhecido a verdade, mas não posso transferi-la a você.

No próprio ato de transferir ela se transforma numa mentira.

Essa é a natureza da verdade. Portanto, ninguém pode dá-la a você.

E a menos que você a conheça por si, o seu conhecimento não será um conhecer – e sim, apenas um esconderijo.

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