Categoria: Histórias (Page 3 of 105)

O Poder da Validação

Stephen Kanitz

Todo mundo é inseguro, sem exceção.

Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor.

Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.

Afinal, ninguém é de ferro.

Paulo Autran tremia nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes.

Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os comentários que chegam.

Insegurança psicológica é o problema humano número 1.

O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros.

Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva.

Mas como reduzir esta insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema.

Ledo engano, por uma simples razão:

segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle.

Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de “validação”, embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos.

Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.

Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente.

Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema.

Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém.

Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”.

Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Gosto de você pelo que você é”.

Quem cunhou a frase “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros.

Estamos tão preocupados em mostrar que somos o “máximo”, que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o “máximo” são eles.

Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser.

Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia.

Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um “valeu, cara, valeu”.

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Velhinha na auto-estrada

Um policial avista um carro em baixissima velocidade e manda parar.É uma velhinha, acompanhada de três amigas.

O guarda adverte:

— Minha senhora, andar devagar demais pode provocar acidente.

— Mas, seu guarda, estou obedecendo à sinalização, diz a mulher, apontando a placa: BR-30.

— Minha senhora! Essa placa não indica limite de velocidade, e sim o número da estrada. Trate de prestar mais atenção, certo? Só mais uma coisa. Suas amigas estão bem? Parecem assustadas.

— Elas já vão melhorar. É que acabamos de sair da BR-201.

Alguém precisa de você

Equipe de Redação do Momento Espírita

Você já se sentiu alguma vez como um zero à esquerda, ou seja, sem valor algum? Você pode responder que não, mas outras tantas pessoas já tiveram o seu dia de baixa auto-estima.

São aqueles dias em que a gente olha ao redor e não consegue ver nada em que possamos ser úteis.

No entanto, e por essas mesmas razões, há sempre alguém que precisa de você.

Há pessoas caladas que precisam de alguém para conversar.

Há pessoas tristes que precisam de alguém que as conforte.

Há pessoas tímidas que precisam de alguém que as ajude vencer a timidez.

Há pessoas sozinhas que precisam de alguém para conversar.

Há pessoas com medo que precisam de alguém para lhes dar a mão.

Há pessoas fortes, mas que precisam de alguém que as faça pensar na melhor maneira de usar a sua força.

Há pessoas habilidosas que precisam que alguém as ajude a descobrir a melhor maneira de usar sua habilidade.

Há pessoas que julgam não saber fazer nada e que precisam de alguém que as ajude a descobrir o quanto podem fazer.

Há pessoas apressadas que precisam de alguém que lhes mostre tudo o que não têm tempo para ver.

Há pessoas impulsivas que precisam de alguém que as ajude a não magoar os outros.

Há pessoas que se sentem perdidas e precisam de alguém que lhes mostre o caminho.

Há pessoas que se julgam sem importância alguma e precisam de alguém que as ajude a descobrir como são valiosas.

E você, que muitas vezes pensa não ter nenhuma utilidade, pode ser justamente a pessoa que alguém está precisando agora…

É claro que você não precisa, nem pode ser a solução para todos os problemas, mas faça o melhor ao seu alcance.

Se não puder ser uma árvore frondosa no topo da colina, seja um arbusto no vale – mas seja o melhor arbusto do vale.

Se não puder ser um arbusto, seja um ramo – mas seja o ramo mais exuberante a enfeitar a paisagem.

E se não puder ser um ramo, seja um pequeno tapete de relva para dar alegria a algum caminhante…

Se deseja ser um lindo ramalhete de flores perfumadas, e não consegue, seja uma singela flor silvestre – mas seja a mais bela.

E nesse esforço de ser útil a alguém que precisa de você, irá cada vez se tornando mais forte e mais confiante.

E todos as alegrias que espalhar pelo caminho serão as mesmas alegrias que encontrará na própria estrada.

Por mais difícil que esteja a situação, nunca deixe de lembrar que alguém precisa de você. E o mais importante: você pode ajudar alguém.

Quando me amei

Charles Chaplin

Quando me amei amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar.

Hoje sei que isso tem nome de… Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, o meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.

Hoje sei que isso é… Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.

Hoje chamo a isso… Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive, eu mesmo.

Hoje sei que o nome disso é… Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a livrar-me de tudo o que não fosse saudável. Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, a minha razão denominou essa atitude de egoísmo.

Hoje sei que se chama… Amor próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.

Hoje sei que isso é… Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a… Humildade.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode atormentar-me e decepcionar-me. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela torna-se uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é… Saber viver !!!!”

Uma pequena mensagem

André Luiz (Chico Xavier) em “Agenda Cristã”

Não espere a morte para solucionar as questões da vida, nem alegue enfermidade ou velhice para desistir de aprender, porque estamos excessivamente distantes do Céu. A sepultura não é uma cigana, cheia de promessas miraculosas, e sim uma porta mais larga de acesso à nossa própria consciência.

Não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer.

Não gaste suas energias, tentando consertar os outros de qualquer modo. Quando consertamos a nós mesmos, reconhecemos que o mundo está administrado pela Sabedoria Divina e que a obrigação de cooperar invariavelmente para o bem é nosso dever primordial.

Não acuse os Espíritos desencarnados sofredores, pelos seus fracassos na luta. Repare o ritmo da própria vida, examine a receita e a despesa, suas ações e reações, seus modos e atitudes, seus compromissos e determinações, e reconhecerá que você tem a situação que procura e colhe exatamente o que semeia.

Não recorra sistematicamente aos amigos espirituais, quanto a comezinhos deveres que lhe competem no caminho comum. Eles são igualmente ocupados, enfrentam problemas maiores que os seus, detêm responsabilidades mais graves e imediatas, e você, nas lutas vulgares da Terra, não teria coragem de pedir ao professor generoso e benevolente que desempenhasse funções de ama-seca.

A minha idade

Eda Carneiro da Rocha

Queres saber minha idade? Olha dentro dos meus olhos profundamente, docemente!

Verás tudo o que imaginares!.. Não uma alma cansada, não uma mulher madura, não quem perdeu a esperança, não quem a insônia não deixou dormir!

Antes, uma criança que corre pelos prados atrás das borboletas, dos gamos e gazelas de tudo que lhe dá vida! Do cheiro do alecrim, das flores esparsas como um tapete de relva que seus pezinhos palmilham…

Antes, alegria rejuvenescida, vontade de viver, jovem como é!…

Nunca me perguntes minha idade! Não a tenho! Podes me dar a que quiseres. Não me importo não!…

Se esse corpo de hoje está diferente, a alma , essa, nunca mudou e nem mudará!

Não é uma alma atribulada, plena de dor e desamor! É uma alma cheia de encantamentos, para te dar muito amor que só conhecem os que amam, os que ainda correm atrás de seus sonhos, atrás dos beija-flores, do canto das cigarras, do sol que já desponta, e da tarde que se vai.

Tudo isso é a minha idade, junto a todo o amor que sinto por mim e por ti.

Sim, porque preciso me amar também. Dar-me um pouco de calor, para aquecer esse meu abraço que é só teu e meu.

Se quiseres , ainda, saber a minha idade, olha, dentro dos meus olhos e lá verás a Idade do Amor!…

O Destino de cada um

Ninguém conhece alguém … Nada nesta vida acontece… Ninguém chega até nós… E ninguém permanece em nossa vida por um simples acaso.

Pessoas nos encontram, ou nós as encontramos, meio sem querer, não há programação da hora em que as encontraremos .

Assim, tudo o que podemos pensar é que existe um destino, em que cada um encontra aquilo que é importante para si mesmo. As pessoas que entram em nossa vida, sempre entram por alguma razão, algum propósito.

Ainda que a pessoa que entrou em nossa vida, aparentemente, não nos ofereça nada, mas ela não entrou por acaso, não está passando por nós apenas por passar. O universo inteiro conspira para que as pessoas se encontrem e resgatem algo com as outras.

Discutir o que cada um nos trará, não nos mostrará nada, e ainda nos fará perder tempo demais, desperdiçando a oportunidade de conhecer a alma dessas pessoas.

Conhecer a alma significa conhecer o que as pessoas sentem, o que elas realmente desejam de nós, ou o que elas buscam no mundo, pois só assim é que poderemos tê-las por inteiro em nossa vida.

Precisamos de amigos para nos ensinar, compartilhar, nos conduzir, nos alegrar e também para cumprirmos nossa maior missão na terra: “Amar ao próximo como a si mesmo”.

A amizade é algo que importa muito na vida do ser humano, sem esse vínculo nós não teremos harmonia e nem paz.

E para que isso aconteça, é preciso que nos aceitemos em primeiro lugar, e depois olhemos para o próximo e enxerguemos o nosso reflexo.

Essas pessoas entram na nossa vida, às vezes de maneira tão estranha, que nos intrigam até. Mas cada uma delas é especial, mesmo que o momento seja breve, com certeza elas nos deixarão alguma coisa. Observe a sua vida, comece a recordar todas as pessoas que já passaram por você, e o que cada uma deixou.

Você estará buscando a sua própria identidade, que foi sendo construída aos poucos, de momentos que aconteceram na sua vida, e que até hoje interferem em seu caminho.

Passamos por vários momentos em nossa vida. Momentos estes que nos marcam de uma forma surpreendente, nos transformam, nos comovem, nos ensinam e muitas vezes, nos machucam profundamente.

Quando sentir que alguém não lhe agrada, dê uma segunda chance de conhecê-lo melhor, você poderá ter muitas surpresas cedendo mais uma oportunidade.

Quando sentir que alguém é especial para você, diga a ele o que sente, e terá feito um momento de felicidade na vida de alguém. Não deixe para fazer as coisas amanhã, poderá ser tarde demais. Faça hoje tudo o que tiver vontade.

Abrace o seu amigo, os seus irmãos, os seus filhos. Dê um sorriso para todos, até ao seu inimigo.

Se estiver amando, ame pra valer, viva cada minuto deste amor, sem medir esforços.

Seja alegre todas a manhãs, mesmo que o dia não prometa nada de novo.

Preste atenção em todas as pessoas, elas poderão estar trazendo a sua tão esperada FELICIDADE!

Perfil do otimismo

Quando as andorinhas, bailarinas ligeiras, dançam no ar, coloridas pelos últimos raios do sol poente, o suave calor da primavera anuncia a chegada alegre das flores e da renovação da vida.

Arrebentam-se as fendas dos velhos muros e morros cansados, deixando que os vegetais surjam em variado verdor e os campos largos se exibam com matizados em festa inigualável.

As mãos mágicas do Celeste Pintor saem derramando tintas e perfumes embriagadores em todo lugar, confirmando seu inefável amor por Suas criaturas.

Os córregos cantam com as águas apressadas e as cachoeiras arrebentam cristais nas pedras resignadas, que os recebem felizes.

Há uma revolução geral, e os dias frios partem, deixando as lembranças tristes sepultadas sem saudades.

Revoadas de aves alegres, incessantemente, bordam os céus com imagens sucessivas de beleza incomum.

A primavera é o otimismo da natureza cantando o poema da estesia de Deus. Enquanto se repita, a aliança de amor permanece entre o homem descuidado e seu Pai zeloso, sustentando a esperança.

Apesar disso, muitas criaturas desanimadas deixam de fitar a claridade do dia primaveril, mergulhadas na noite das suas paixões.

Preferem olhar o chão onde permanece o lodo, a contemplar o alto onde fulguram as estrelas. Por isso, tornam-se torpes, amarguradas, perturbadoras.

A vida humana, qual ocorre com a da natureza, passa por quadras variadas que se sucedem em ordem de grandeza, servindo uma de base à outra, indispensáveis à harmonia de conjunto.

A noite, que convida ao repouso, enseja a reflexão para o dia, que propicia a ação.

O inverno, que parece destruidor, também enseja a preservação da energia, que estrugirá em vida na primavera.

A criatura humana é o mais grandioso investimento de Deus na Terra, e ser otimista quanto ao futuro, mesmo que haja dificuldades no presente, é o mínimo que lhe cabe, como afirmação da sua realidade e gratidão ao seu Criador.

Quem pretende conservar tristeza no coração, encontrará sempre motivos falsos para sustentá-la, acalentando a queixa, cultivando a desdita e nutrindo-se da insatisfação.

O otimismo é gerador de adrenalina emocional, que estimula o sangue, impulsionando ao avanço, à alegria fomentadora da ação.

Cultivando-o nos sentimentos, adquire-se visão para penetrar o lado oculto ou sombrio das ocorrências e entusiasmo para não desfalecer ante os primeiros insucessos da marcha, prelúdios das vitórias futuras.

Quem não possui capacidade para sustentar com valor os embates fracassados, não tem condições para viver as grandes e decisórias batalhas.

Nos céus dos que amam e confiam em Deus com otimismo, sempre haverá andorinhas bailando em prenúncio de gloriosas primaveras.

Onde andará o meu doutor?

Tatiana Bruscky

Hoje acordei sentindo uma dorzinha, aquela dor sem explicação, e uma palpitação, resolvi procurar um doutor e fui divagando pelo caminho…

Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo…

O Meu Doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo mas a da minha alma, que me transmitia paz e calma!

Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta: – QUAL O SEU PLANO?

O MEU PLANO? Ah, o meu plano é viver mais e feliz! é dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora!

Mas a resposta teria que ser outra… o MEU PLANO DE SAÚDE…

Apresentei o documento do dito cujo já meio suada, tanto quanto o meu bolso, e aguardei…

Quando fui chamada corri apressada, ia ser atendida pelo Doutor, aquele que cura qualquer tipo de dor. Entrei e o olhei, me surpreendi: rosto trancado, triste e cansado… Será que ele estava adoentado? É, quem sabe, talvez gripado não tinha um semblante alegre, provavelmente devido à febre…

Dei um sorriso meio de lado e um bom dia…

Sobre a mesa, à sua frente, um computador, e no seu semblante a sua dor.

O que fizeram com o Doutor?

Quando ouvi a sua voz de repente:

— O que a senhora sente?

Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo! Parecia mais doente do que eu, a paciente…

Eu? ah! sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação e esperei a sua reação. Vai me examinar, escutar a minha voz auscultar o meu coração.

Para minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse: peça autorização desses exames para conseguir a realização…

Quando li quase morri: TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA, RESSONÂNCIA MAGNÉTICA e CINTILOGRAFIA!?

Ai, meu Deus! que agonia! Eu só conhecia uma tal de abreugrafia…

Só sabia que ressonar era dormir, de magnético eu conhecia um olhar. E cintilar só o das estrelas!

Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu? Iria morrer assim ao léu?

Naquele instante timidamente pensei em falar: Terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio?

Que fazer com essa sensação de vazio? e observe, Doutor, o tal Pai da Medicina, o grego Hipócrates, acreditava que A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR.

Olhe para mim…

Bem verdade que o juramento dele está ultrapassado. Médico não é sacerdote! Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano. Mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine!

Estou sentindo falta de dizer até aquele 33 …

Não me abandone assim de uma vez, procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!

Alimente a minha mente e o meu coração.

Me dê, ao menos, uma explicação! O senhor não se informou se eu ando descalça… ando sim!

Gosto de pisar na areia e seguir em frente deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida,

Estarei errada?

Ou estarei com o verme do amarelão?

Existirá umas gotinhas de solução?

Será que já existe vacina contra o tédio?

Ou não terá remédio?

Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!

Cadê o Scott, aquele da Emulsão?

Que tinha um gosto horrível mas me deixava forte que nem um Sansão!

E o Elixir? Paregórico e categórico, e o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?

Será que pensei asneiras?

Ah! meu querido e adoentado Doutor!

Sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo, do seu pensar…

O seu sorriso que aliviava a minha dor, que me dava forças para lutar contra a doença… e que estimulava a minha saúde e a minha crença.

Sairei daqui para um ataúde?

Preciso viver e ter saúde!

Por favor, me ajude!

Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim.

Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador e o olhar vago e cansado do Doutor!

Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza… ouço até os seus gemidos!

Por favor, tragam de volta o meu Doutor!

Estamos todos doentes e sentindo dor.

E peço, para o ser humano, uma receita de calor, e para o exercício da medicina….. uma prescrição de amor!

Tatiana Bruscky é médica e mora em Recife (PE)

A última gota

Gilberto Cabeggi

Havia parado de chover fazia pouco mais de trinta minutos, e o sol já brilhava imponente, dando reflexos suaves em árvores e arbustos. Foi mais uma chuva de verão.

Naquele sítio, tudo convidava para uma caminhada: era o mato cheirando a molhado, os pássaros que voltavam a cantar alegremente, os pequenos insetos que começavam a esvoaçar, procurando secar suas asas ao sol.

Um sábio de nome Jonas PahNu convidou e Daniel, seu discípulo, aceitou de imediato: puseram suas bermudas e camisetas, sandálias confortáveis e chapéus de palha, e foram percorrer as vizinhanças da casa, procurando por novidades.

Depois de algum tempo, o garoto se distraiu e se afastou do mestre. Quando se deu conta disso, chamou por Jonas:

— Ei, Mestre… Onde está você?

— Aqui, garoto… Bem aqui – uma voz respondeu a poucos metros de distância.

Daniel seguiu na direção da voz e encontrou o mestre PahNu sentado em um tronco, observando curiosamente alguma coisa.

— Venha. Venha ver, Daniel – disse o mestre, ao perceber a proximidade do garoto. “Sente-se aqui, ao meu lado” – completou.

O discípulo obedeceu e, ao sentar-se também no tronco, percebeu o que tanto atraía a atenção de seu mestre: uma pequena flor branca, em forma de taça, recebia gotas de água que caiam de folhas molhadas, que estavam um pouco mais acima que ela. À medida que as gotas caíam, a pequena taça ia sendo enchida. Até que, num determinado momento, sua haste não suportava o peso, vergava e derramava toda a água. Uma vez vazia, a flor voltava então à posição normal, e recomeçava a receber a água das folhas. E todo o processo se repetia.

— Legal, Mestre! – disse Daniel, visivelmente divertido com o que via.

— Muito legal mesmo, meu garoto – confirmou Jonas. Mas, observe bem… Será que não há uma lição a aprender daí?

O discípulo olhou novamente para a flor, justamente no momento em que mais uma gota caia e, ao cair, transbordou a taça e a fez entornar. Orgulhoso, Daniel olhou para Jonas PahNu e disse eufórico:

— Na vida, sempre há uma gota d’água que é a que entorna o copo. É ela que faz com que a água toda se derrame.

— E o que isso quer dizer? – perguntou o mestre.

— Quer dizer que sempre que um acontecimento desagradável, ou um gesto ruim de alguém, ultrapassa a capacidade de suportar de uma pessoa, ela toma uma atitude, ou parte para uma mudança radical em sua vida. Acertei? – perguntou o garoto, ansioso pela aprovação do mestre.

— Em parte, sim…

— Como assim, Mestre?

— Sempre que o copo entorna – isto é, sempre que a situação na vida de uma pessoa ultrapassa os seus limites suportáveis – ela parte para uma atitude de mudança daquilo que está vivendo. Nisso você tem razão. Mas a última gota d’água – aquele problema que faz com que o limite da pessoa transborde, seja ultrapassado – não é a responsável por provocar essa atitude.

— Não é? Mas… Nós vimos a flor virar de boca para baixo com essa última gota, e derramar todo o seu conteúdo!

— Você tem razão, Daniel… Nós vimos. E é sempre assim: todo recipiente tem uma capacidade limitada ao seu volume máximo. Depois disso, ele transborda. Mas a culpa não é somente daquela gota adicional, mas de todas as outras gotas depositadas anteriormente.

É por isso que há relacionamentos que se desfazem. Não foi por uma única palavra, gesto ou ação. Foi por causa de todas as palavras, gestos e ações que se antecederam. Em um casamento, por exemplo, é preciso que o casal se habitue a esvaziar a taça periodicamente. Quero dizer, é necessário que conversem sempre sobre seus problemas e dificuldades, de modo a não deixar que os desentendimentos se acumulem.

É preciso evitar que a taça vire devido ao excesso de peso na relação. Mesmo porque, na vida a dois, nem sempre a taça se coloca outra vez de pé, disposta a receber água novamente, como observamos com essa nossa pequena flor.

Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro “Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.

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