Muito antes de se tornar presidente, Abraham Lincoln era um advogado praticante em Springfield, Illinois, conhecido não apenas por sua mente afiada, mas também por sua retidão inabalável. Uma história que ilustra bem essa faceta é a de um caso em que ele defendia um fazendeiro contra uma acusação de danificar a propriedade de um vizinho com seus porcos.
O vizinho alegava que os porcos do fazendeiro haviam invadido suas terras, revirado sua plantação e causado prejuízos significativos. O fazendeiro, cliente de Lincoln, insistia que isso era impossível, pois seus porcos não tinham o hábito de fugir e, além disso, a cerca entre as propriedades era robusta e estava em perfeitas condições. Lincoln, com sua curiosidade aguçada e seu desejo de chegar à verdade, decidiu investigar pessoalmente.
Ele viajou até as propriedades rurais para inspecionar o local do suposto incidente. Caminhou ao longo da cerca, examinou o terreno e conversou com testemunhas, buscando qualquer detalhe que pudesse corroborar a versão de seu cliente ou desmascarar a do acusador. Durante sua investigação, ele notou algo peculiar: a cerca era realmente alta e bem construída, sem sinais de violação. Os porcos do fazendeiro eram, de fato, robustos, mas não pareciam ser capazes de saltos extraordinários.
No dia do julgamento, o advogado do vizinho apresentou um caso aparentemente sólido, com testemunhas que juravam ter visto os porcos do cliente de Lincoln na propriedade vizinha. Lincoln ouvia atentamente, com sua expressão habitual de gravidade pensativa. Quando chegou a sua vez de interrogar as testemunhas, ele começou a fazer perguntas sobre a altura da cerca, a capacidade dos porcos de saltar e a exata localização dos danos.
Um dos pontos altos do interrogatório veio quando Lincoln, com sua voz calma e pausada, perguntou a uma das testemunhas-chave do acusador, um homem que parecia muito confiante em seu testemunho: “Senhor, o senhor afirma ter visto os porcos do meu cliente na propriedade do vizinho. Poderia descrever como eles chegaram lá, considerando a cerca de mais de um metro e meio de altura?”
A testemunha, pego de surpresa e sem uma resposta plausível, hesitou. Lincoln então lançou a pergunta que desarmaria completamente o caso: “Pelo que entendi, para os porcos do meu cliente terem chegado onde o senhor diz, eles teriam tido que voar. O senhor, por acaso, viu os porcos voando?”
A corte irrompeu em risadas. A ideia de “porcos voadores” era absurda, e a testemunha, envergonhada, não conseguiu dar uma resposta convincente. Lincoln, com essa única pergunta perspicaz, conseguiu expor a inconsistência e a inverossimilhança do testemunho do acusador. Ele não atacou a testemunha diretamente, mas usou o bom senso e a lógica para demonstrar que a história simplesmente não “se sustentava”.
O júri, convencido pela astúcia e pela lógica inabalável de Lincoln, e pela evidente impossibilidade física de tal evento, rapidamente o absolveu de todas as acusações. Lincoln não apenas venceu o caso para seu cliente, mas o fez expondo a verdade de uma forma que respeitava a inteligência de todos na sala, sem artifícios ou manipulações. Ele sempre procurava a justiça, não apenas a vitória, e sua honestidade e sua forma direta de lidar com os fatos eram tão impressionantes quanto sua habilidade oratória. Essa história reforça sua reputação de “Honest Abe”, um advogado que confiava na verdade e na razão, e que não hesitaria em desmascarar o absurdo com uma simples, mas poderosa, dose de bom senso.