Iraê Carlovich
A rotina, a velocidade das informações, um mundo global cada vez menor, metrópoles com gente solitária, pressão da sociedade, e outros causa s. Quem é que nunca ouviu dizer que a vida atual está deixando muita gente doente? Pois bem, não deixa de ser verdade.
Na verdade muitos problemas que sempre existiram ganham destaque no século XX com ajuda de um dos maiores vilões dos dias de hoje, o famoso stress . Diversos fatores colaboram: preocupações com trabalho, trânsito, barulho, violência… Todos têm seus motivos para, vez ou outra, perder a cabeça.
Diversas doenças começam a se popularizar nestes tempos modernos. Depressão, síndrome do pânico, anorexia (doença na qual a pessoa deixa de comer, muda sua rotina para evitar as refeições e, mesmo perdendo peso rapidamente, continua se enxergando obesa) e bulimia (a pessoa não deix a de comer, mas vomita tudo o que ingere) são os exemplos mais populares. Mas engana-se quem realmente acha que estas doenças são recentes. “Ambas são doenças que existem há muitos séculos”, conta o criador de um site para prevenção de anorexia e bulimia, Carlos Peixoto.
Carlos tem uma história trágica. Em 1999, ele perdeu sua filha de 18 anos, morta em decorrência de anorexia combinada com bulimia. Para ele, o estilo de vida levado nas grandes cidades, aliado ao poder exercido pela mídia, é o grande vilão na luta contra estas doenças. “O dia a dia das metrópoles, a competição acirrada entre as pessoas, a insegurança tanto individual quanto profissional, a mídia nos bombardeando que as modelos de sucesso são ‘as mulheres mais lindas do mundo’, etc. Tudo colabora para que cada vez mais jovens ingressem nessa loucura do emagrecer rápido”, acredita.
A influência da mídia em relação a estas doenças ainda é um assunto muito polêmico. Para a psicóloga Virgínia Garrote, “na anor exia esta relação não pode ser estabelecida. Porque esta doença depende de uma força de vontade enorme, muito maior do que a influencia da m ídia. Já com a bulimia, pode haver relação. Porque na bulimia, a pessoa come o quanto quer, depois vai ao banheiro, vomita, e volta a comer.
O fato é que com a mídia influenciando os jovens ou não, estas doenças têm chamado mais atenção nos dias de hoje. Segundo dados da Org anização Mundial de Saúde, a síndrome do pânico, por exemplo, cresce de maneira assustadora e hoje, cerca de 2 a 4% da população mundial sofre do problema.
O pânico ocorre a partir da fobia em níveis exagerados. A partir deste ponto, a pessoa começa a apresentar sintomas físicos como o coração disparado, tontura, atordoamento, náusea, dificuldade de respirar, calafrios ou ondas de calor. O músico Thiago Warzee, de 21 anos, conta qual a sensação de se viver com a síndrome: “O pânico me fazia chorar, o tempo todo. Também sentia uma constante vontade de morrer”, diz.
Thiago acredita que o início da síndrome ocorreu logo após a morte de dois familiares muito queridos. ” Sofri dois grandes traumas, a morte de minha avó e de meu tio, duas perdas que causaram muito sofrimento. Com isso tive um aumento significativo de ansiedade, e começaram os sintomas do pânico”, explica.
O músico afirma que sofreu muito preconceito e acredita que existe muita falta de informação, inclusive dos profissionais.” Eu acho que essa reação ocorre porque há muita falta de informação a respeito de doenças psicológicas. Acham que tudo é depressão. Inclusive muitos médicos não entendem o pânico”, afirma.
A psicóloga Virgínia Garrote também compartilha da opinião de Thiago.” Na verdade há tanta informação, que muitos profissionais acabam classificando tudo como sendo depressão. Além disto, a própria pessoa começa a ler em revistas àqueles testes sobre stress e coisas do tipo, e acha que tem algum daqueles sintomas e começa a se auto-medicar, o que é um grande perigo”, explica.
Virgínia acredita que o fato de muitos jovens estarem com sintomas destas doenças, se deve ao fato de que os pais os criaram com muita proteção, prolongaram demais a infância.” Isso faz com que o jovem cresça sem garra, ele não passa por todas as fases de transição da vida, com isso, não aprende a superar, a lidar com a frustração. Isso aliado a vida nos tempos modernos pode contribuir para o aumento de jovens que apresentam sintomas de doenças psicológicas”, conclui.