F. Pereira Nóbrega
Um dia nos implantaram a lei que profissionalizou o ensino de Segundo Grau. Alunos de Mecânica, Eletrônica, e semelhantes, diziam que disciplinas de cultura geral, como Geografia, História, eram “perfumes”, apenas para encher o tempo. Para a vida, para ganhar dinheiro, só contariam mesmo disciplinas ditas profissionalizantes.
Sustento exatamente o inverso. Para a vida, cultura geral não é menos importante que profissionalização. No mundo subdesenvolvido, ninguém tem a garantia da mesma profissão pela vida inteira. O mais desempregado é o homem sem cultura geral.
Imaginemos um curso de curta duração de Mecânico, digamos, da Volkswagen. Mudada a máquina, apagou-se o profissional. Nem cem cursinhos desse tipo farão dele um engenheiro mecânico. Falta-lhe a cultura geral da Mecânica, expressa em seus princípios universais. Por isso mesmo, não é capaz de se adaptar a situações novas, a qualquer máquina. Só o engenheiro é capaz de criar o que ainda não existe.
Mas falo de uma cultura mais geral que situa o homem não apenas na Mecânica – no mundo. Quem a tiver, onde cair, cairá de pé.
Estudei no Seminário, onde recebi sólida cultura geral. A maior parte dos que ali estudaram o deixava antes do fim. Mas no mundo, onde caíram, se firmaram nas mais diversas profissões, como Administração, Advocacia, Economia, Educação, Ciências Exatas e da Saúde. O Seminário não lhes ensinou tudo isso. Emprestou-lhes um background que os tornou capazes de se adaptarem a situações novas.
Inverso é o caso do índio. Só na cultura de sua taba, consegue sobreviver. Se ela se desfaz, ele se torna mendigo, objeto de curiosidade pública, como animais do zoológico. Não consegue se inserir numa nova cultura.
Não lhe faltou a profissionalização. Em várias coisas, está mais profissionalizado do que eu: na caça, pesca, na sobrevivência na selva. Faltou-lhe cultura geral. É incapaz, por isso, de se adaptar a situações novas.
Fala-se de cidadania, como objetivo da Educação. O mundo se tornou tão estreito, tanto atravessamos as fronteiras das culturas locais que mais cresce a necessidade de cada homem ser um cidadão universal. Para isso haja cultura geral.
O profissional sem cultura geral é como o mecânico da oficina da Volkswagen. Num mundo em mudanças, a profissionalização que recebeu foi o melhor caminho para não ter mais outro caminho.