(De “A verdade e a vida”, de Cenyra Pinto)
O sofrimento seleciona os verdadeiros amigos. Quando estamos felizes, qualquer companhia nos serve, e nos cercamos de grande número de amigos, ou melhor, de pessoas com quem nos relacionamos bem e achamos maravilhosas.
Quando a dor nos visita, então selecionamos esses amigos, e bem poucos são os que compartilham conosco, cujas presenças nos proporcionam o conforto moral de que necessitamos nessas horas.
Os verdadeiros amigos não esperam ser solicitados; são voluntários que se apresentam para atender-nos em nossa amargura.
As afinidades se conhecem nesses momentos.
Há criaturas que são boas companheiras nas horas alegres, mas fracas e sem possibilidade de dar algo de si nas horas difíceis. Esquivam-se porque não amadureceram para o serviço cristão. Afirmam não ter coragem para as situações dolorosas ou não sabem o que dizer nessas horas.
Aqueles que atravessam uma fase dolorosa, quando ainda não despertaram, tornam-se às vezes exigentes, porque nesses momentos a consolação, fundamentada em exemplos de outros sofrimentos iguais ou piores, não tem efeito; ao contrário, irrita, porque só a dor desses sofredores é que é importante no momento em que sofrem.
No entanto, os espíritos amadurecidos também sofrem, choram, mas não se desesperam nem caem em prostrações. Os amigos sinceros que deles se aproximam não necessitam trazer exemplos de outras dores, porque eles já conhecem a importância da dor. E se têm necessidade de se desabafar, por ser pesada demais a sua cruz, sabem a quem procurar, têm seus amigos selecionados que estão sempre a postos para trazer o socorro que o momento requer.
Precisamos nos relacionar bem com todos, mas sabemos que para certas horas os amigos verdadeiros vêm sem esperar ser chamados e sempre nos ajudam muito.