Rubia A. Dantés
A mulher ganhou de presente um vaso com uma linda orquídea branca. Ficou tão encantada que colocou a planta em um xaxim na árvore mais bonita do jardim… A planta criou raízes que se prenderam na árvore… e a flor… no tempo certo… morreu. Passou um tempo e a mulher se esqueceu da orquídea que acabou se misturando ás muitas plantas do jardim…
Muito tempo depois quando passeava distraída pelo jardim ela viu a linda flor branca… Com uma exclamação de alegria se aproximou da linda orquídea que nasceu sem ser esperada… A mulher ficou de novo tão encantada que quis preservar ao máximo aquela flor tão preciosa, da chuva… do sol…
Enquanto admirava a sua beleza ia pensando em uma forma de protegê-la para que ela ficasse o maior tempo possível enfeitando o jardim, sem sofrer nenhum dano nas aveludadas pétalas brancas…
Colocou então um plástico branco esticado sobre a planta… que protegia completamente a orquídea. Mas… também escondia a sua beleza… Quem passasse por ali, com certeza, veria a proteção, que chamava a atenção porque destoava do que era a natureza… mas não via a orquídea… a menos que tivesse um olhar bem atento e sensível para o que estava além…
A orquídea até se sentiu feliz e orgulhosa… quando se viu tratada de forma tão especial, ao contrário das muitas flores que estavam espalhadas no jardim… e na primeira chuva que veio se sentiu protegida e confortável quando os grossos pingos não chegavam a tocar as suas deliccadas pétalas… Ali de cima ela podia ver algumas flores perdendo uma pétala aqui, outra ali, e se curvando ao sabor das águas e do vento forte. E quando veio o sol a orquídea também não pôde sentir na pele das pétalas o calor, porque aquela proteção impedia que o sol a atingisse em cheio… como fazia com as outras flores do jardim. Ela estava protegida, com certeza estava. Mas não estava feliz…
Olhando as outras flores, ao sabor da chuva, do sol, podia ver um brilho especial nas pétalas e um viço diferente, e mesmo aquelas que perdiam algumas pétalas quando a água vinha mais forte, pareciam felizes, muito felizes, e exalavam vida, além de perfume.
A orquídea, mesmo linda, parecia pálida e sem vida… e se sentia assim. E as chuvas foram caindo, o sol foi brilhando, as flores nasciam e morriam. E a orquídea enfeitava o jardim, intacta e bela, Mas, triste, muito triste. Ela percebeu que o seu tempo estava passando, e isso deu-lhe uma profunda tristeza por não poder ter vivido a chuva, o sol. Nunca pôde sentir a alegria incontida que percebia nas outras flores quando em contato com as forças da natureza. Aquele plástico que protegia, sufocava mais que tudo. E o tempo que ela ganhou com esta proteção acabou se tornando tristeza.
E foi a lua, que também não tinha conseguido tocar diretamente as suas pétalas, que entendeu o sofrimento da orquídea, e sentiu uma profunda compaixão pela linda flor. Num ato de Amor, lançou um raio de luar tão intenso que desintegrou completamente o plástico que protegia a orquídea, que se rendeu feliz á lua, ao sol, á chuva, á vida, intensamente, até seu último e derradeiro instante, colorido e encantado por gotas d’água, filtradas pelo sol em cores de arco íris.
Muitas vezes, os escudos que usamos para nos proteger, nos impedem de viver o melhor da vida e escondem o que temos de mais bonito.