Manoel Carlos
Minha amiga Sylvia fez 50 anos e deu uma linda festa para os amigos. Brigadeiros, casadinhos, olhos-de-sogra, além de salgados e bebidas à vontade. E no centro da mesa, iluminado por cinqüenta velinhas, um colossal e saboroso bolo de aniversário. Ah, e também, claro, com direito a um coro de muitas vozes, cantando “Parabéns prá Você”.
— Que coragem – brincou o Zé Mário, nosso velho companheiro das noitadas de pôquer.
Sylvia rebateu em cima:
— Por quê? Acha que ainda escondo a minha idade? Já superei isso, meu caro.
— No seu caso não é esconder – continuou Zé Mário
— Prá que declarar, se você aparenta menos?
— Mas, é justamente por isso que sinto tanto prazer em revelar minha verdadeira idade. É para ver as pessoas admiradas. Meus 50 anos não são um peso, mas, um prêmio, um troféu, uma tocha olímpica que carrego com orgulho pela vida afora. Que é que você pensa? Sou uma cinqüentona e ainda bato um bolão!
E, nesse clima de feliz comemoração, varamos a noite, o champanhe gelado, o vinho rubro. E não é preciso dizer que a aniversariante reinou o tempo todo, dançando sem parar, nocauteando homens até dez anos mais novos do que ela. Como o seu próprio marido, o terceiro, que no sábado próximo estará completando 41 anos.
Sei que nem todas as mulheres são Sylvia. E que, para ser como ela, é preciso muita vontade, algum sacrifício e uma boa dose de herança genética. Mas, o mais necessário mesmo é a disposição para a felicidade e a certeza de que sempre, sempre estará em tempo de viver uma vida produtiva. De qualquer maneira, mesmo as que não são Sylvia se sentem, hoje, mais livres do que nunca desse estigma que, por décadas, marcou todas elas e produziu um repertório imenso de piadas infames e cruéis: diminuir a idade. Concluí que, hoje em dia, as mulheres de 50 não têm mais do que 30! Verdade. Muitas das minhas amigas já passaram dessa marca e nunca se sentiram tão bem.
Em 1980 escrevi alguns programas da série Malu Mulher para Regina Duarte. Num deles, Malu comemorava 33 anos. Dei a esse episódio o título Antes dos 40, depois dos 30, colocando esse período de dez anos como o mais positivo na vida de uma mulher. Seu tempo de felicidade. Bem, isso foi em 1980. Vinte e cinco anos atrás. Hoje eu nãoCinqüentona
Manoel Carlos
Minha amiga Sylvia fez 50 anos e deu uma linda festa para os amigos. Brigadeiros, casadinhos, olhos-de-sogra, além de salgados e bebidas à vontade. E no centro da mesa, iluminado por cinqüenta velinhas, um colossal e saboroso bolo de aniversário. Ah, e também, claro, com direito a um coro de muitas vozes, cantando “Parabéns prá Você”.
— Que coragem – brincou o Zé Mário, nosso velho companheiro das noitadas de pôquer.
Sylvia rebateu em cima:
— Por quê? Acha que ainda escondo a minha idade? Já superei isso, meu caro.
— No seu caso não é esconder – continuou Zé Mário
— Prá que declarar, se você aparenta menos?
— Mas, é justamente por isso que sinto tanto prazer em revelar minha verdadeira idade. É para ver as pessoas admiradas. Meus 50 anos não são um peso, mas, um prêmio, um troféu, uma tocha olímpica que carrego com orgulho pela vida afora. Que é que você pensa? Sou uma cinqüentona e ainda bato um bolão!
E, nesse clima de feliz comemoração, varamos a noite, o champanhe gelado, o vinho rubro. E não é preciso dizer que a aniversariante reinou o tempo todo, dançando sem parar, nocauteando homens até dez anos mais novos do que ela. Como o seu próprio marido, o terceiro, que no sábado próximo estará completando 41 anos.
Sei que nem todas as mulheres são Sylvia. E que, para ser como ela, é preciso muita vontade, algum sacrifício e uma boa dose de herança genética. Mas, o mais necessário mesmo é a disposição para a felicidade e a certeza de que sempre, sempre estará em tempo de viver uma vida produtiva. De qualquer maneira, mesmo as que não são Sylvia se sentem, hoje, mais livres do que nunca desse estigma que, por décadas, marcou todas elas e produziu um repertório imenso de piadas infames e cruéis: diminuir a idade. Concluí que, hoje em dia, as mulheres de 50 não têm mais do que 30! Verdade. Muitas das minhas amigas já passaram dessa marca e nunca se sentiram tão bem.
Em 1980 escrevi alguns programas da série Malu Mulher para Regina Duarte. Num deles, Malu comemorava 33 anos. Dei a esse episódio o título Antes dos 40, depois dos 30, colocando esse período de dez anos como o mais positivo na vida de uma mulher. Seu tempo de felicidade. Bem, isso foi em 1980. Vinte e cinco anos atrás. Hoje eu não escreveria essa história. Hoje sei que uma mulher pode ser feliz para sempre , levantando-se a cada tombo. Em sua maioria, elas já não entram em crise por causa da idade. Claro que não querem envelhecer. Ninguém quer. Mas, esse não querer não está ligado apenas à aparência, mas à saúde, à boa disposição para enfrentar o dia e… – sem nenhuma dúvida – à certeza de que não existe idade que as impeçam de amar, ser amadas. E de ainda fazer bonito entre os lençóis de uma cama. Sylvia, por exemplo, tem tudo para botar um garotão com a língua de fora, sôfrego, cansado, pedindo um tempo.
Eu me lembro de uma vizinha, quando eu era criança, que, quando foi subitamente abandonada pelo marido, provocou em minha mãe esta frase: “Pobre Dolores! Sozinha aos 50 anos! O que vai ser dela agora?” A consternação da minha mãe traduzia o que se pe nsava de uma mulher que tivesse ultrapassado a marca dos 25, 30 anos, no máximo. Uma velha. Não sei o que aconteceu com a pobre Dolores, mas, acredito que tenha arrastado por toda a vida a amargura e a desesperança. Atualmente, uma separação aos 50 anos pode ser o começo de um novo tempo, muitas vezes melhor, mais feliz do que o anterior. Sem contar que, nos dias de hoje, um casamento que vai mal das pernas não dura até a mulher chegar aos 50. Acaba antes, já que elas não carregam uma vida infeliz por muito tempo.
Nas minhas novelas procuro retratar as mulheres maduras, essas que já passaram dos 40. São elas que têm as melhores histórias para contar, as confissões mais tocantes, as lembranças mais ternas, os episódios mais picantes. Que ainda sofrem e choram, sim, mas, que não sofrem nem choram para sempre. E que, quando fazem 50 anos, dão festa, convidam os amigos, apagam as velinhas e fazem coro em causa própria, cantando o Parabéns pra Você!
Por isso, digo e repito: bem-aventuradas as cinqüentonas! As que se renovam a cada dia, a cada instante, e que podem renascer incessante e indefinidamente, repetindo os versos de Cecília Meireles:
Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira. escreveria essa história. Hoje sei que uma mulher pode ser feliz para sempre , levantando-se a cada tombo. Em sua maioria, elas já não entram em crise por causa da idade. Claro que não querem envelhecer. Ninguém quer. Mas, esse não querer não está ligado apenas à aparência, mas à saúde, à boa disposição para enfrentar o dia e… – sem nenhuma dúvida – à certeza de que não existe idade que as impeçam de amar, ser amadas. E de ainda fazer bonito entre os lençóis de uma cama. Sylvia, por exemplo, tem tudo para botar um garotão com a língua de fora, sôfrego, cansado, pedindo um tempo.
Eu me lembro de uma vizinha, quando eu era criança, que, quando foi subitamente abandonada pelo marido, provocou em minha mãe esta frase: “Pobre Dolores! Sozinha aos 50 anos! O que vai ser dela agora?” A consternação da minha mãe traduzia o que se pe nsava de uma mulher que tivesse ultrapassado a marca dos 25, 30 anos, no máximo. Uma velha. Não sei o que aconteceu com a pobre Dolores, mas, acredito que tenha arrastado por toda a vida a amargura e a desesperança. Atualmente, uma separação aos 50 anos pode ser o começo de um novo tempo, muitas vezes melhor, mais feliz do que o anterior. Sem contar que, nos dias de hoje, um casamento que vai mal das pernas não dura até a mulher chegar aos 50. Acaba antes, já que elas não carregam uma vida infeliz por muito tempo.
Nas minhas novelas procuro retratar as mulheres maduras, essas que já passaram dos 40. São elas que têm as melhores histórias para contar, as confissões mais tocantes, as lembranças mais ternas, os episódios mais picantes. Que ainda sofrem e choram, sim, mas, que não sofrem nem choram para sempre. E que, quando fazem 50 anos, dão festa, convidam os amigos, apagam as velinhas e fazem coro em causa própria, cantando o Parabéns pra Você!
Por isso, digo e repito: bem-aventuradas as cinqüentonas! As que se renovam a cada dia, a cada instante, e que podem renascer incessante e indefinidamente, repetindo os versos de Cecília Meireles:
Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.