Categoria: Histórias (Page 2 of 105)

Maturidade

Diz-se que a maturidade de um homem se mede pelo tempo que ele demora para resolver um mal-estar com alguém.

Quanto mais evoluído ele for, mais facilmente saberá procurar alguém para pedir desculpas por algum erro, dizer que está se sentindo mal por algo que o outro fez, e, especialmente, declarar o seu amor e dizer que sente saudades.

O sofrimento seleciona

(De “A verdade e a vida”, de Cenyra Pinto)

O sofrimento seleciona os verdadeiros amigos. Quando estamos felizes, qualquer companhia nos serve, e nos cercamos de grande número de amigos, ou melhor, de pessoas com quem nos relacionamos bem e achamos maravilhosas.

Quando a dor nos visita, então selecionamos esses amigos, e bem poucos são os que compartilham conosco, cujas presenças nos proporcionam o conforto moral de que necessitamos nessas horas.

Os verdadeiros amigos não esperam ser solicitados; são voluntários que se apresentam para atender-nos em nossa amargura.

As afinidades se conhecem nesses momentos.

Há criaturas que são boas companheiras nas horas alegres, mas fracas e sem possibilidade de dar algo de si nas horas difíceis. Esquivam-se porque não amadureceram para o serviço cristão. Afirmam não ter coragem para as situações dolorosas ou não sabem o que dizer nessas horas.

Aqueles que atravessam uma fase dolorosa, quando ainda não despertaram, tornam-se às vezes exigentes, porque nesses momentos a consolação, fundamentada em exemplos de outros sofrimentos iguais ou piores, não tem efeito; ao contrário, irrita, porque só a dor desses sofredores é que é importante no momento em que sofrem.

No entanto, os espíritos amadurecidos também sofrem, choram, mas não se desesperam nem caem em prostrações. Os amigos sinceros que deles se aproximam não necessitam trazer exemplos de outras dores, porque eles já conhecem a importância da dor. E se têm necessidade de se desabafar, por ser pesada demais a sua cruz, sabem a quem procurar, têm seus amigos selecionados que estão sempre a postos para trazer o socorro que o momento requer.

Precisamos nos relacionar bem com todos, mas sabemos que para certas horas os amigos verdadeiros vêm sem esperar ser chamados e sempre nos ajudam muito.

Sinais do Amor

Paulo Roberto Gaefke

Sim, o amor é uma estrada, e se as pessoas se perdem tanto nesse caminho, é porque insistem em não seguir a sinalização, ois no percurso do amor é proibido ultrapassar os limites da velocidade da pessoa amada, cada um demonstra o seu amor de um jeito, e o amor pede paciência e compreensão.

É proibido, contornar os problemas, eles devem ser esclarecidos e resolvidos, o amor pede diálogo sempre.

É proibido estacionar na dor, ficar relembrando velhas situações que juramos ter esquecido e na hora da briga voltam a tona, o amor pede perdão.

É proibido dar carona, ou seja, o amor não permite traições, amor pede fidelidade.

É proibido parar na mágoa, o casal que briga e não resolve a situação, que usa e abusa de castigos infantis como ficar sem se falar, dá oportunidade para outro amor chegar, pois o amor pede cumplicidade e definição.

Entre tantas proibições, vale ressaltar que no amor vale quebrar algumas regras, como correr um pouco além da velocidade, para roubar um beijo em qualquer idade.

Ultrapassar o sinal fechado da “briguinha boba” e se declarar de novo, de uma maneira especial, arrancando um sorriso e tudo recomeçar.

Vale andar na contra mão do tempo, e todos os dias, fazer do velho amor, uma nova maneira de acreditar na vida, na possibilidade de se viver uma linda história, onde você e alguém especial dirigem um carro de cada cor.

Numa corrida sem fim, com discordâncias e afinidades, no longo percurso da felicidade, no velho Autódromo do Amor. Dirija seu amor com sabedoria.

Procure por você

Sílvia Schmidt

É necessário que estejamos presentes em nós, próximos de nós, aceitando-nos como uma agradável companhia, para evitar a terrível sensação de solidão, de estar invisível no mundo, de suportar o peso do silêncio e da ausência de mais gente ao nosso lado.

Os maiores sinais de distanciamento de nós mesmos podem ser observados nos aparelhos que temos em casa:

Podemos não ter preferência por programa algum, mas ligamos o rádio para ouvir pessoas falando de assuntos que nem nos interessam, só para não cairmos em abismal silêncio.

Sentamos na poltrona, com os olhos vagos, e nosssa mão vai automaticamente vai para o controle remoto da TV. Nossa atenção nem está ali, mas apenas o fato de ter gente do outro lado, naquela tela, já nos dá a ilusão de que não estamos sós.

Muitas vezes, chegando em casa, a primeira coisa que fazemos é checar a secretária eletrônica, caixa postal ou coisa que o valha, mesmo não estando aguardando nenhuma notícia importante, mas só pela necessidade de ver que alguém se lembrou de nós, já que nós mesmos não lembramos, não nos damos uma palavra agradável, carinhosa, compreensiva, um pensamento de auto-afeição.

Na caixa de correio só papéis de propaganda, nenhuma carta, nenhum cartão, ninguém sequer lembrou de nos mandar flores na data do nosso aniversário!

Ah! Tudo isso é pior do que a morte!

Afinal, se tivéssemos morrido, pelo menos alguns conhecidos assinariam o livro de registro de comparecimento, algumas coroas de flores seriam encomendadas em nossa homenagem.

Que falta faz nossa própria presença em nossa vida!

Felizes aqueles que, nessas condições, têm um computador. Então é só ligar, conectar e verificar se há e-mails. Crau!!!

Não existe mensagem pior do que aquela que anuncia: “nenhuma mensagem nova”.

É de novo aquela sensação horrível de abandono, de vazio e a conclusão interior: “o mundo me esqueceu!” Esmagadora conclusão, quase mortal conclusão!

Quando não nos abandonamos, não nos sentimos sós, e nada é preciso para fazer-nos companhia, nossa própria presença nos basta, as idéias fluem com clareza, a criatividade se solta, inspirações vêm a todo vapor para todo e qualquer tipo de trabalho.

Se você se sente só “encaixe-se” em si mesmo, marque brilhante presença nesse palco que é você.

Pare um pouco e olhe-se de fora para dentro. Nessa hora você estará sendo apresentado à pessoa mais importante do seu mundo: VOCÊ !

Preste bem atenção: você não é uma belezura?

“Quem já se encontrou não teme a solidão”

Aprendi

Um dia desses, enquanto aguardava a vez na sala de espera, percebi, solta entre as revistas, uma folha de papel. A curiosidade fez com que a tomasse para ler o que estava escrito. Era uma bela mensagem que alguém havia escrito. O título era interessante e curioso: Aprendi… Dizia mais ou menos o seguinte:

Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.

Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.

Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.

Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.

Eu aprendi… Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida.

Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.

Aprendi… Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.

Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.

Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.

Aprendi que perdoar exige muita prática.

Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.

Aprendi… Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.

Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel.

Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.

Eu aprendi que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu tenho que me acostumar com isso.

Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.

Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi… Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.

Aprendi que numa briga eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver.

Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.

Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.

Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.

Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.

Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério.

E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.

Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.

Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.

Cultivando a Positividade: O Poder de um Diário de Gratidão

Criar um diário de gratidão é uma prática poderosa e transformadora que pode ajudar significativamente a reduzir pensamentos negativos diários e promover uma perspectiva mais positiva da vida.

Esse hábito simples, mas eficaz, consiste em registrar regularmente as coisas pelas quais você é grato, ajudando a treinar sua mente para focar nos aspectos positivos de sua experiência cotidiana.

Para começar seu diário de gratidão, escolha um caderno especial ou um aplicativo de anotações em seu dispositivo móvel, dependendo de sua preferência.

O importante é que seja algo que você goste de usar e que seja facilmente acessível.

Estabeleça um horário regular para escrever em seu diário, seja pela manhã para começar o dia com uma mentalidade positiva, ou à noite para refletir sobre os momentos bons do seu dia.

Ao escrever, tente listar pelo menos três coisas pelas quais você é grato todos os dias.

Estas podem variar desde grandes acontecimentos até pequenos detalhes que normalmente passariam despercebidos.

Por exemplo, você pode expressar gratidão por um relacionamento significativo em sua vida, por uma refeição deliciosa que você desfrutou, ou mesmo pela sensação do sol em seu rosto durante uma caminhada.

Seja específico em suas anotações.

Em vez de simplesmente escrever “Sou grato pela minha família”, tente elaborar: “Sou grato pelo apoio que minha irmã me deu hoje quando eu estava estressado com o trabalho”.

Quanto mais detalhes você incluir, mais vívida será a lembrança positiva e mais forte será o impacto em seu bem-estar emocional.

Não se preocupe se, inicialmente, você achar difícil identificar coisas pelas quais ser grato.

Com a prática, você desenvolverá um “olhar de gratidão”, começando a notar e apreciar coisas que antes passavam despercebidas.

Lembre-se de que não há item pequeno demais para ser incluído em seu diário.

A gratidão por coisas simples, como um bom café da manhã ou um momento de paz, pode ser tão poderosa quanto a gratidão por grandes conquistas.

Além de listar suas gratidões, você pode expandir suas entradas refletindo sobre por que você é grato por essas coisas e como elas impactam positivamente sua vida.

Isso aprofunda a prática e aumenta seus benefícios emocionais e psicológicos.

Ocasionalmente, releia suas entradas anteriores.

Isso não apenas reforçará os sentimentos positivos associados a essas experiências, mas também o lembrará de quão abundante sua vida é em momentos de alegria e bênçãos, mesmo em tempos difíceis.

Lembre-se de que a consistência é mais importante que a perfeição.

Se você perder um dia, não se culpe; simplesmente retome a prática no dia seguinte.

Com o tempo, você notará uma mudança gradual em sua perspectiva, com uma maior capacidade de reconhecer e apreciar o positivo em sua vida diária.

À medida que o diário de gratidão se torna um hábito, você pode descobrir que seus pensamentos negativos diminuem naturalmente, substituídos por uma atitude mais otimista e resiliente.

Esta prática simples pode ser um passo significativo em direção a uma mentalidade mais positiva e uma vida mais feliz e satisfatória.

Não se culpe, corrija-se!

(Do Livro “Aprendendo a lidar com as Crises” – Wanderley Pereira).

Não deixe que a consciência fique emperrada no circuito fechado do remorso, a rodar repetidamente o filme dos seus erros, valorizando a culpa.

É preciso liberar a mente da zona de sombras para as claridades da razão, a fim de detectar onde e como se deu a queda e, em função disso, movimentar os recursos da corrigenda. Culpar-se apenas não resolve nada. É indispensável sair do ponto em que caímos.

E a primeira atitude é levantar-se, bater a poeira, dar a volta por cima e prosseguir a caminhada, mas agora com os cuidados que negligenciamos antes. O erro, às vezes, não é mais que o tropicão que nos empurra para além do buraco fatal, evitando o pior.

Não é que devamos nos atirar propositadamente ao erro, nem transformá-lo em hábito pernicioso, sob a desculpa de que errar é humano, ou que é preciso errar para acertar. Não, o que é importante é conscientizar-se do erro, de que ele é um mal que retarda o nosso progresso e adia a felicidade. E como tal, é imperioso corrigi-lo, compreendendo que somente nos educando para a vida, superaremos nosso lado animal.

Não devemos achar, porém, que porque erramos, o mundo inteiro desabou sobre nossa cabeça e, por isso, vamos ficar repisando a culpa, na posição do doente que, não acreditando na cura, atira-se nos braços da morte por antecipação, pensando: “Já que vou morrer, nada mais devo fazer para salvar-me”.

Somos humanos, almas em aprendizado e não Espíritos acabados e infalíveis. Por isso, se você caiu, se errou, se cometeu algum equívoco, utilize a experiência por lição oportuna para não reincidir, não errar mais. Há males com função educativa, e a dor é matéria indispensável no seu currículo. A perfeição passa indubitavelmente pelo erro. Só se chega à perfeição vencendo as quedas, como só se chega ao doutorado depois de longo e espinhoso aprendizado.

Não se culpe demasiadamente para não fechar as portas aos recursos da corrigenda. Defeito existem para serem enfrentados e consertados. Confinar-se ao círculo da auto-acusaçao é condenar-se irremissivelmente sem cogitar de um álibi para redimir-se do erro, é suicídio. A solução para o culpado é corrigir-se. Atire a primeira pedra aquele que não tiver errado! Este o pensamento de Jesus, no episódio da Mulher Adúltera para mostrar aos fariseus acusadores que ninguém está imune ao erro, a um equívoco qualquer nesse mundo de almas a caminho da eterna corrigenda.

Amor de Mãe

Rosana Braga

Lá vai minha filha quase voando no seu vestido etéreo.

Lá vai minha filha de olhos amendoados e pele macia. A menina que estreou a mãe em mim. A menina que chegou trazendo todo um universo de novidades: emoções, medos, encantamentos, aprendizados.

Crescemos juntas: eu aprendendo a ser mãe e ela aprendendo a ser ela mesma. Descobrimos duas palavras mágicas: ela me chamou mãe e eu a chamei filha. Palavras novas e tão viscerais que pacientes esperavam para se cumprir.

Éramos duas sendo uma em muitos sentidos. Carne da minha carne, fruto do meu amor, sonho dos meus sonhos. Ela me expandia e eu a protegia. Ela me dava a mão e eu todos os sumos. Ela me dava a eternidade e eu lhe dava asas.

Ela me alargava o coração e eu lhe ensinava a caminhar sozinha. Ela me cobria de beijos e eu a cobria de bênçãos. Ela me pedia colo e eu lhe pedia sorrisos. Ela me traduzia e eu a decifrava.

Ela me ensinava e eu lhe descortinava o mundo. Ela me apontava o novo e eu lhe ensinava lições aprendidas no passado. Ela me falava de fadas e princesas e eu lhe falava de avós e gentes. Ela me emprestava seus olhos encantados e eu rezava por um mundo melhor. Ela me tirava o sono e eu cantava para ela dormir. Ela me alegrava a vida e eu vivia para ela.

Quando um filho nasce começamos a nos despedir dele no mesmo instante. Nosso, ele só é quando no ventre. Depois somos seus abrigos, seus condutores, seus provedores sem nunca esquecer que eles começam a ir embora no dia que nascem.

No começo o tempo parece parar. A plenitude da maternidade e a dependência dos pequenos criam uma ilusão de que será assim para sempre. Mas não, eles crescem inexoravelmente em direção à independência.

Cumpre-se o ciclo da vida e é melhor que seja assim, caso contrário, significa que algo de muito triste, inverso ou perverso aconteceu.

Lá vai minha filha. Assim seja.

Olho seus olhos profundos e vejo os mesmos olhos que ainda na sala de parto me olharam intrigados, solenes, como que me reconhecendo, me convocando. Eu disse “sim” à minha filha e imediatamente a segui desde aquele instante, entregue, eleita.

O amor que eu senti foi tão avassalador e instantâneo que eu cheguei a ter medo. Sim, na hora que nasce o primeiro filho, a gente compreende a fragilidade da vida, a fugacidade das coisas e a passa a ter medo de morrer.

O fato dela precisar de mim me tornava única, imprescindível. Eu não podia falhar, eu não podia morrer, afinal foi ela quem me escolheu. A partir dali, tudo mudou, meu espaço, meu papel, minha relação com o mundo adquiriu outra dimensão: eu era sua mãe!

Crescemos juntas. Somos amigas. Mãe e filha. Ao longo desses anos rimos, choramos, brigamos, resolvemos impasses, estreitamos laços, vencemos batalhas, enfrentamos noites escuras. Contamos uma com a outra, sempre.

Às vezes era eu quem a socorria outras vezes era ela quem me amparava. Não foram poucas as vezes em que os papéis se inverteram e ela foi minha mãe. Às vezes me pergunto se eu dei a ela tanto quanto recebi. Sinceramente, acho que não. Desde o momento zero ela transformou minha vida e, num movimento contínuo, faz de mim uma pessoa melhor.

Lá vai minha filha. Apaixonada e confiante. Ensaiando voos, escolhendo caminhos, encerrando ciclos.

Eu feliz, penso: cumpra-se!

O Poder da Validação

Stephen Kanitz

Todo mundo é inseguro, sem exceção.

Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor.

Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.

Afinal, ninguém é de ferro.

Paulo Autran tremia nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes.

Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os comentários que chegam.

Insegurança psicológica é o problema humano número 1.

O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros.

Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva.

Mas como reduzir esta insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema.

Ledo engano, por uma simples razão:

segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle.

Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de “validação”, embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos.

Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.

Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente.

Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema.

Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém.

Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”.

Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Gosto de você pelo que você é”.

Quem cunhou a frase “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros.

Estamos tão preocupados em mostrar que somos o “máximo”, que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o “máximo” são eles.

Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser.

Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia.

Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um “valeu, cara, valeu”.

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Velhinha na auto-estrada

Um policial avista um carro em baixissima velocidade e manda parar.É uma velhinha, acompanhada de três amigas.

O guarda adverte:

— Minha senhora, andar devagar demais pode provocar acidente.

— Mas, seu guarda, estou obedecendo à sinalização, diz a mulher, apontando a placa: BR-30.

— Minha senhora! Essa placa não indica limite de velocidade, e sim o número da estrada. Trate de prestar mais atenção, certo? Só mais uma coisa. Suas amigas estão bem? Parecem assustadas.

— Elas já vão melhorar. É que acabamos de sair da BR-201.

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